segunda-feira, 30 de março de 2009

ARSÉNIO ISIDORO, UM PADRE ENTRE A RAMADA E O PRÍNCIPE - Conclusão

Aqui e lá fora

A paróquia da Ramada tem um duplo dinamismo: o pastoral, com muita gente a participar nas celebrações, 900 crianças na catequese, cerca de 200 jovens e muitas pessoas envolvidas em Movimentos; mas há uma aposta clara no dinamismo social e solidário, com o centro comunitário que tem 17 valências, 83 funcionários e 608 utentes por dia. Mesmo ‘cá dentro’, a paróquia reza, celebra, forma, mas já está muito voltada para fora, com os serviços sociais que presta e com as parcerias que vai estabelecendo: “Nunca trabalhamos sós”. E esta experiência de parceria passou para o Projecto de Geminação. Nota-se, no Príncipe, a vertente evangelizadora: fundaram-se os Escuteiros e estabeleceram-se ligações fortes entre as Conferências Vicentinas e a Legião de Maria de ambas as Paróquias. Na vertente social e solidária, construiu-se a Casa Betânia (Lar de Idosos), em 2004, lançaram-se os apadrinhamentos, criou-se um projecto de apoio directo a famílias pobres e inaugurou-se o Colégio de Santa Teresinha (Creche, Jardim Infantil e ATL), em 2008.


A organização foi-se refinando: fundou-se, há três anos, o Movimento Missionário, mais ligado à animação paroquial (cá e no Príncipe). A dimensão técnica desta Geminação foi aperfeiçoada com a fundação, em 2008, da “Ligar à Vida”, uma ONGD que coordena a parte material e dos recursos humanos dos Projectos.

Convicções

Algumas convicções já lhe estão na alma: é mais fácil construir do que manter uma obra; quando damos, ficamos mais ricos; quando as pessoas se empenham e partilham, a comunidade cresce e amadurece; com parcerias tudo é mais fácil de concretizar; os leigos são decisivos para o sucesso das Missões; há que pôr talentos a render... Esta geminação gerou na Ramada a consciência de que com muito pouco se pode fazer muito, contrariando a experiência europeia de que, com muito, se faz tão pouco!

Esta geminação permite a experiência do desapego e da partilha, ajudando a viver a Eucaristia como vida entregue. 

O futuro...temos que o construir

Vamos continuar este sonho: a paróquia da Ramada vai crescer e o projectos do “Ligar à Vida” também: queremos construir uma Creche na Roça da Nova Estrela e um Centro de Acolhimento a Órfãos na Cidade de Santo António. Devemos, pois, pensar em algo que garanta alguma sustentabilidade financeira, uma vez que estamos a gastar cerca de mil euros por mês no Príncipe. Valem-nos muito os numerosos parceiros nesta aventura a que já conseguimos associar a Câmara Municipal de Odivelas.

Texto: Pe. Tony Neves , in Jornal da Verdade – Perfil.

Foto: João Cláudio Fernandes

sexta-feira, 27 de março de 2009

ARSÉNIO ISIDORO, UM PADRE ENTRE A RAMADA E O PRÍNCIPE


Eu não exigi este projecto; ele é que tem exigido de mim!“, confessa o padre Arsénio, pároco da Ramada – Odivelas, que mantém muita viva uma Geminação com a Ilha da Príncipe.

O padre Daniel Batalha, com o seu coração balanceado para a Missão lá fora, construiu esta geminação e o padre Arsénio, em 2005, limitou-se a apanhar o comboio em andamento. Este – recorda – trazia experiências missionárias dos tempos de seminarista, com missões realizadas em Alcoutim e no Nordeste brasileiro. O seu trabalho com as Equipas de Jovens de Nossa Senhora e as Equipas d’África também deram sensibilidade à Missão. 

Sair para quê?

Mas, na Ramada, o primeiro impacto foi de susto: “Ir para África fazer o quê, se há tanto que fazer aqui?”. Após esta luta interna inicial, o novo pároco começou a dar mais de si e tornou-se um apaixonado pela paróquia-irmã de Nossa Senhora da Conceição da Ilha do Príncipe. Duas vezes por ano, lá vai até África acompanhar a evolução do “Projecto Pague” (assim se chama), pois há pessoal contratado, um ritmo de construção de um edifício por ano que exige que se acompanhem as obras e se controle o conjunto do projecto.

Esta ‘Missão lá fora’ partiu do dinamismo missionário criado ‘cá dentro’. E a comunidade partiu. Já lá vão sete anos de intensa relação, com muitas ‘Missões’ de leigos, jovens e menos jovens, que vão dando o que têm por aquela população pobre do Príncipe. Mas vão ganhando muito, no plano humano, com a simpatia e a capacidade de sofrer e resistir deste povo tão abandonado. Alguns jovens partiram apenas por um mês ou dois. Agora, a aposta já vai mais longe, com missões de um ou dois anos (estão actualmente dois no Príncipe), pondo a render os talentos e a formação profissional que têm. E muitas das acções de formação são dadas pelos técnicos do Centro Comunitário.

(Continua no próximo Post)

Texto: Pe. Tony Neves , in Jornal da Verdade – Perfil.

Foto: DR

quarta-feira, 25 de março de 2009

APOIAR A VIDA DOS IMIGRANTES - Conclusão

Na Austrália, com Psicologia

1999 obriga a mais uma mudança continental: faz Votos Perpétuos e é nomeada para a ...Austrália, obrigando a uma nova abertura cultural e linguística: depois do Português e do Espanhol...vai até Inglaterra para estudar Inglês, em 10 meses. Depois, faz as malas e parte para o país que Bento XVI escolheu para se encontrar com os jovens nas últimas Jornadas Mundiais de Juventude. Foi no ano 2000 que aterrou, em pleno jubileu, nesta terra onde há imigrantes de cerca de 200 países. A Austrália era um país estranho que ‘acolhia de forma extraordinária alguns refugiados, mas detinha, de forma desumana, os imigrantes ditos irregulares’. A Igreja e as ONGs denunciaram muitas vezes esta situação, mas sem grande sucesso.

Estudou Psicologia pois sempre achou importante, para a sua Missão, conciliar a Espiritualidade e a Psicologia: ‘Estou convencida que uma dos momentos de maior sofrimento é quando a pessoa perde o sentido da vida’. É preciso ajudar as pessoas a encontrá-lo e o apoio psicológico pode dar um contributo decisivo nesta busca.

Com os Imigrantes, em Lisboa

Em 2006 regressou a Portugal, integrando a comunidade da Servas do Espírito Santo que vivem em Odivelas. São 3, de outros tantos continentes: uma portuguesa, uma timorense e uma angolana. Porque querem anunciar o Evangelho aos pobres, apoiam grupos de catequese, desenvolvem Animação Missionária com os Institutos Missionários Ad Gentes e acompanham a pastoral dos imigrantes. Outras Irmãs vivem em Casal de Cambra, num bairro de realojamento, por opção de Congregação.

Licenciada em Psicologia Clínica, com especialização em psicologia transcultural, a Irmã Maria José trabalha no Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) desde Fevereiro de 2007. Conheceu esta organização na Austrália e agradou-lhe o seu carisma: ‘tem uma presença muito activa na defesa dos direitos dos imigrantes e refugiados detidos pelo governo australiano’.

Cá em Lisboa, dá apoio psicológico a imigrantes e coordena a Área de Saúde Imigrante do JRS. Tem encontrado uma forte ligação entre os problemas de foro psicológico e a sua situação social e legal: ‘percebo melhor a situação de grande vulnerabilidade social em que muitos imigrantes se encontram e quanto esta situação os expõe à exploração dos empregadores e arrendatários’. A insegurança, a irregularidade, o trabalho precário, o acesso limitado à saúde...são situações que levam imigrantes a procurar apoio psicológico. Há estatísticas que doem: ‘Nos imigrantes que acompanhei, os problemas mais comuns foram os sintomas de ansiedade (25%), sintomas depressivos (22%), isolamento e solidão (21%), luto e perda de esperança (11%), ideia de suicídio (9%).

A intervenção pastoral e social obriga a Espiritualidade e a Psicologia a passear-se, de braço dado, nos caminhos da vida dos imigrantes. Em nome de Deus, claro!

 Texto: Pe. Tony Neves – Jornal Voz Verdade(w) – Perfil

Foto: DR

segunda-feira, 23 de março de 2009

APOIAR A VIDA DOS IMIGRANTES


Maria José Rebelo nasceu na Benedita (Alcobaça) há 42 anos. Aos dez anos, passou o missionário que mostrou um filme sobre África e ela nunca mais descansou enquanto não partiu para terras distantes.

Estudou Filosofia na Universidade Católica, em Lisboa e, porque os irmãos foram seminaristas do Verbo Divino, quis saber se havia um ramo feminino. E há, mas não havia em Portugal: por isso, a Maria José entrou, em 1988, no postulantado das Irmãs Servas do Espírito Santo (SSpS), em Valladolid. 

Com os pobres, no Brasil

Cresceu na vocação e na abertura á missão universal. Deu um salto atlântico e foi parar ao Brasil para continuar o caminho da vida consagrada: ali faria o Noviciado e algum tempo de Juniorado, fases que antecedem uma consagração definitiva. Diz ela: ‘Esta entrada em diferentes culturas foi exigindo de mim um descobrir novos horizontes e abrir-me a novas realidades’. Nestes seis anos de Brasil, aprendeu a ler as Bíblia a partir da perspectiva dos mais pobres, obrigando-a a um compromisso forte na área da ‘justiça e paz’ como pede a Igreja.

Continua no próximo post...


Texto: Pe. Tony Neves – Jornal Voz Verdade(w) – Perfil

Foto: DR

sexta-feira, 20 de março de 2009

CABO VERDE NO MEU CAMINHO - Conclusão


As actividades em que participei estendem-se por todos os âmbitos da acção da igreja, ma com particular realce na formação dos agentes da pastoral, nomeadamente dos ministros extraordinários da comunhão, o apoio aos vários movimentos existentes da comunidade, leccionando na Escola Secundária Paroquial, colaboração na formação de um grupo de 6 juniores da Congregação das Filhas do Coração de Maria que têm uma casa de formação na nossa paróquia, e do Divino Espírito Santo para a Evangelização (3 d Guiné e 3 de Cabo Verde).

Na seman santa e Páscoa, houve ainda a oportunidade de colaborar na Diocese vizinha do Mindelo, na ilha de Santo Antão, particularmente nas paróquias do Paúl, Ribeira Grande e Santo Crucifixo (Cuculi), contactando com a realidade de uma diocese nascente (há 3 anos) e com o seu primeiro Bispo D. Arlindo. Pela orientação do retiro na semana santa, participei na formação dos seminaristas do seu seminário nascente, que são 3  com o 12º ano e que vivem também na comunidade sacerdotal de Ribeira Grande com o Pe. Ima e o Pe. José Mário.

Nestas terras de Cabo Verde, pude diversificar as minhas aprendizagens, pelo  contacto com uma realidade nova, com a problemática do relacionamento dos missionários com uma jovem igreja local “autónoma” emergente, as questões culturais, históricas e linguísticas, sociais e económicas e mesmo políticas (pude acompanhar as suas eleições autárquicas) de um país que, cmbora considerado de desenvolvimento médio, sofre de seca, a fome e a desigualdade de oportunidades, enfim desafios à Igreja que vive em Cabo Verde.

Estes desafios são convite à igreja que vejo, por vezes, demasiado voltada para si mesma. A missão do padre ou do leigo não é servir a Igreja, mas sim, em Igreja, servir o desígnio de Deus que quer que “todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (ad gentes, 7), é necessário partir ao encontro do outro, do mais afastado, do pobre, e, no amor, toda a igreja se torne mais missionária. Corremos o risco de ser uma igreja de funcionários, nem sempre competentes, que prestam serviços internos, que executam os ritos litúrgicos, que fazem festas sonantes, mas são insensíveis à vontade do Mestre: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). Cada comunidade paroquial tem de recuperar o seu dinamismo missionário para abafar sob o peso de ideias atávicas e mesquinhas, de tricas de gente ociosa, insossa e inconsistente. È mais fácil e confortável a rotina de que se limita a esperar que venham ao seu encontro, mas é urgente partir!

Vale a pena aproveitar a graça que será o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra e olhar para S. Paulo como o grande missionário, aproveitando, deste modo, a proposta do Papa para que a Igreja toda redescubra um novo ardor evangelizador e missionário.

Dou graças a Deus por mais esta oportunidade de servir o Senhor e por todas as pessoas , sacerdotes, religiosos e religiosas e leigos que Deus colocou no meu caminho, por estas terras de Cabo Verde. Vai marcar, com certeza, a segunda metade da minha vida que agora começa...

Si Nhor Dés ta tchomabu...labanta bu bai...Nhor Dés alen li,  nhu mandan pa undi Nhu crê!

Texto: Pe. António Felisberto in Em Missão – Ed. Especial Agência Eclesia, Out ‘ 08

Foto: DR

quarta-feira, 18 de março de 2009

CABO VERDE NO MEU CAMINHO


Em boa hora pensei dedicar este último ano da minha vida a um trabalho missionário, na missão ad gentes, para renovação do meu ministério com uma nova actividade enriquecidora da minha vida cristã. Contactei os Missionários Espiritanos, através do Pe. Tony Neves, e foi-me feita a proposta de Cabo Verde, lá estive, numa comunidade com mais dois sacerdotes Espiritanos, na paróquia da Calheta de S. Miguel, na Ilha de Santiago, de Outubro de 2007 a Julho de 2008.

Fui recebido não como um estralho, mas como um irmão, tanto pela comunidade Espiritana, em Cabo Verde, começando pelo responsável do distrito, o Pe. João Baptista, com  todos os padres Espiritanos, com particular destaque para o Pe. Nuno Rodrigues, pároco da Calheta que me recebeu em sua casa, juntamente com o jovem Pe. Alfredo Inácio entretanto chegado de Angola em primeira afectação, como também pela igreja local, com o seu bispo, D. Paulino, todo o clero diocesano e particularmente por todos os fiéis da paróquia de S. Miguel.

Na Calheta de S. Miguel, encontrei uma paróquia grande, em expansão e população (cerca de 20 000 pessoas), com uma camada jovem muito significativa (80%), uma comunidade viva, que vive a sua fé num meio específico de Cabo Verde. Uma igreja jovem, com cerca de 500 anos de vida, que procura a fidelidade a Jesus Cristo, numa cultura que nem sempre caminhou à luz do Evangelho, mas sempre com a presença de muitos elementos cristãos. Uma igreja que, na Calheta de S. Miguel, vive a luta do dia-á-dia com muita gente empenhada na comunidade paroquial, desde os responsáveis de comunidade, aos ministros extraordinários da comunhão (68), à legião de Maria, aos escuteiros e demais grupos jovens, apostolado de oração, grupos de acção litúrgica e caritativos, a escola Pe. Moniz, uma comunidade que sonha e se empenha por um Cabo Verde e um mundo melhor. Uma comunidade que, com o seu pároco, Pe. Nuno e o Pe. Alfredo, me acolheu como mais um membro, um cristão, um padre, que vinha para partilhar as suas alegrias e sofrimentos, testemunhando e celebrando a mesma fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado.

(Continua no próximo Post)

 

Texto: Pe. António Felisberto in Em Missão – Ed. Especial Agência Eclesia, Out ‘ 08

Foto: DR

segunda-feira, 16 de março de 2009

IRMÃ TASSY FRANCISCO: DE MOÇAMBIQUE A PORTUGAL - Conclusão

Por Roma a Portugal

A saída de Moçambique para Roma aconteceria só em 1986, com dois objectivos claros: fazer um curso de Missiologia e Catequese na Universidade Urbaniana e, depois, entrar na Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres. Roma foi espaço de abertura de horizontes: “Este tempo em Roma foi gratificante para mim, não tanto pela formação, mas pelo contacto com uma Igreja diferente, pelo contacto com o mundo, culturas diferentes, experiências diversas, enfim… era tudo tão diferente!”.

Roma abriu as portas de Portugal para a Tassy. Foi cá que entrou na Congregação, em 1989, professando em 1992. Depois, percorreu diversas comunidades, de norte a sul do país. Mudava a geografia e o trabalho, mas a Missão era a mesma.

Sente-se feliz e missionária em Portugal. 

Os riscos da Missão aqui

E lança um alerta à Igreja em Portugal: “Cá, temos que lutar contra os extremos: antes, apresentava-se a missão como o ir para lá e, agora, o discurso acentua demasiado a missão cá dentro. É verdade que a Missão é cá e lá, e podemos participar da Missão de muitas formas, mas o “PARTIR” será sempre resposta ao envio que Jesus faz e a Igreja espera a disponibilidade de alguns para ir aonde ela ainda não é conhecida”.

Gosta de percorrer as comunidades cristãs de Portugal para falar da Missão e tem um fascínio especial pelos jovens, com quem partilha grandes momentos de Evangelização.

Sempre a sorrir...

O seu país continua, é claro, no coração. A Irmã Tassy está feliz pelo caminho que percorreu nos 16 anos de paz. Acha que a Igreja está ali a amadurecer, a cimentar-se. Continua a precisar do apoio de Missionários e de algum apoio a projectos de desenvolvimento e solidariedade.

É Vigária-Geral, em Lisboa, e vai ficar em Portugal enquanto for útil e necessário. Mas o fascinante na vida da Irmã Tassy é o seu permanente sorriso, bem rasgado e bem africano, a mostrar uma alegria que contagia. E a Missão precisa destes rostos e destes sorrisos.

Texto: Tony Neves in Jornal Voz da Verdade - Perfil

Foto: DR

sexta-feira, 13 de março de 2009

IRMÃ TASSY FRANCISCO: DE MOÇAMBIQUE A PORTUGAL


Cresceu a ouvir falar em viagens de sentido contrário: os Missionários iam daqui para lá. Ela acabou por inverter a direcção do leme e veio de Moçambique para Portugal. É cá, a partir de Lisboa, que exerce hoje a sua Missão, como Irmã Concepcionista ao Serviço dos Pobres.

Nasceu em Lourenço Marques em 1960. Dos nove irmãos, foi a única que quis ser ‘Irmã’, estando a estudar com as Irmãs Vitorianas.

Cresceu, como jovem, nos tempos quentes da revolução de Abril que deu abertura à independência de Moçambique e fez abalar a Igreja: “Foi um tempo difícil de dúvida, de desconfiança e de perguntas que ninguém sabia responder-me. Graças a Deus, nunca me afastei da Igreja e fazia parte do pequeno número que estava presente, que interrogava a Igreja sobre a resposta a dar aos ataques constantes à nossa fé e à nossa Igreja”. 

O surgir de uma Vocação

Empenhada na pastoral da Igreja, no Maputo, não percebia porque é que “os missionários regressavam a Portugal, porque é que as Igrejas eram encerradas, porque, porque...”.

E foi nesta caminhada de busca de respostas que a jovem Tassy descobriu a Vocação à Vida Consagrada. Confessa: “a minha vocação surge como que um ‘clic’: o Senhor Cardeal, então arcebispo de Maputo, numa Eucaristia de crismas na minha paróquia, desafiou os jovens a uma vivência da fé mais comprometida com a Igreja, activos e empenhados nos vários ministérios da comunidade cristã”. E algo parecia clarificar-se nela: queria servir mais e melhor a Igreja.

Tempo de guerra civil

Era tempo de conflito entre a Frelimo e a Renamo e ela conheceu as dificuldades da guerra, em experiências missionárias no interior de Moçambique. Aprendeu a admirar os missionários, a ficar do lado deles, pois estavam a sofrer com as vítimas da violência e da pobreza.

Texto: Tony Neves - in Jornal Voz da Verdade / Perfil - 1Mar09

Foto: João Cláudio Fernandes 

quarta-feira, 11 de março de 2009

MAIS IMPORTANTE 'ESTAR' DO QUE 'FAZER' - Conclusão

‘Estar’ é mais importante que ‘fazer’!

Trabalhou muito e bem, como o dizem os Espiritanos e Espiritanas com quem partilhou o dia a dia complicado de uma Missão pobre. Trabalhou muito na Escola e com os jovens, numa área com 77 comunidades, onde o ensino está de rastos, apesar da paz já ter chegado a Moçambique há alguns anos.

É modesta, mas profunda, na avaliação que apresenta: ‘Não foi tanto com o fazer que cresci, mas sim com o estar. Por isso, fiz muita coisa, mas sobretudo estive:


Estive no meio de um povo, o povo macua, que do nada faz tudo, com uma generosidade imensa e com um sorriso constante no rosto. Estive no meio de um povo onde os batuques ditam o ritmo e genuidade de cada um impera. Estive no meio de um povo que me ensinou a voltar a ser criança, a me espantar com tudo o que me rodeia. Estive no meio de um povo que me ensinou a olhar o mundo com outros olhos.

Estive na no meio de um equipa missionária que me acolheu com um espontaneidade e uma alegria indescritíveis. Estive no meio de uma equipa missionária que me ensinou outra forma de encontrar Deus. Estive no meio de uma equipa missionária que me ensinou a viver em comunidade e a lidar com as diferenças de cada um.

Estive onde sinto que Deus me quis. E espero continuar agora a seguir o Seu caminho, certa de que este ano que passei me fará andar mais forte e com mais confiança’.

Na hora do regresso

É difícil apagar as pegadas de um ano de intensa missão no norte abandonado de Moçambique. Continua, dois meses após o regresso, a sonhar com este povo que nunca mais poderá abandonar. Vem com a cabeça cheia de projectos, alguns dos quais (por exemplo, a construção de um Internato que acolha meninas e lhes possibilite estudar) vão mesmo avançar.

Chegou, teve dificuldades a adaptar-se, novamente, aos ritmos e costumes ocidentais, e começou a roda-viva de entrevistas e envio de curricula para voltar ao mercado de trabalho. Missão quase impossível...mas só ‘quase’. Porque, a 4ª feira de cinzas permitiu-lhe virar uma nova página, sendo o primeiro dia do resto da vida laboral desta jovem Engenheira do Ambiente. Está já a trabalhar e muito feliz, na área académica da sua predilecção.

E a Missão está-lhe no sangue...Por isso, não vai parar de anunciar o Evangelho. Vai continuar a ‘partir’.

Texto: Tony Neves - In Jornal Voz da Verdade - Perfil - 8 Março'09

Foto: DR

segunda-feira, 9 de março de 2009

MAIS IMPORTANTE “ESTAR” DO QUE “FAZER”


Joana Pedro, Leiga Missionária em Moçambique

O Monte Abraão – Sintra foi o berço onde a sua fé foi crescendo. Depois da catequese, a sua entrada no mundo dos jovens passou por dois caminhos: os Jovens Sem Fronteiras e os Escuteiros. Não vale a pena perguntar qual o mais importante e decisivo, porque ela não consegue responder. Mas foi crescendo na sua capacidade de dar-se.

Ponte’ nas periferias do Rio

E percebeu que, como escreveu D. Hélder Câmara, a Missão é sempre partir. E preparou-se para se fazer ao largo... Primeiro, com os JSF, fez uma ‘Ponte’, experiência missionária que, ano após ano, coloca uma dúzia de jovens a ligar duas margens. No caso dela, em 2005, tornou mais estreito o mar que nos separa do Brasil. A experiência de Missão nas favelas de Cabo Frio, periferia do Rio de Janeiro, marcou-a para sempre. Ali, do outro lado do Atlântico, os contrastes são mais gritantes e as injustiças são de bradar aos céus, pois os ricos são muito ricos e os pobres... miseráveis.

Um ano em Moçambique

A experiência foi muito densa, mas soube-lhe a pouco e preparou-se logo para partir por mais tempo. Terminou o Curso de Engenharia do Ambiente, arranjou um excelente emprego que...deixou para rumar ao norte de Moçambique onde esteve todo o ano de 2008. Uma loucura, em tempo tão difícil de se entrar no mercado de trabalho. Mas queria partir e ninguém a conseguiu impedir de dar este salto. Conta como foi: ‘O ano de 2008 foi, para mim, um ano bastante diferente, passado num outro mundo, um mundo geograficamente longe, mas ainda mais longe em tudo o resto. A 12 de Janeiro de 2008 cheguei à Missão Espiritana de Itoculo, onde durante um ano vivi, cantei, sorri, chorei, partilhei e cresci’.

(Continua no próximo post)

Texto: Tony Neves - In Jornal Voz da Verdade - Perfil - 8 Março'09

Foto: DR

sexta-feira, 6 de março de 2009

PADRE EM LEIRIA, MISSIONÁRIO EM SUMBE - Conclusão

Durante a minha juventude houve grandes fomes em Àfrica, especialmente na Etiópia. Não podia ficar indiferente àquelas imagens da tragédia humanitária de ver tanta gente a morrer à fome e com doenças.

Num primeiro momento, fiquei entusiasmado com a iniciativa dos cantores famosos que deram voz a várias canções cujos lucros da venda dos discos foi a favor dessas situações. Mas depois tomei consciência de que eles não síam do seu bem-estar para ajudar quem mais precisava.  A partir do contacto com o Evangelho fui percebendo que mais importante que dar algo é dar-se. Foi isso que Jesus fez ao incarnar.

À medida que a idade e os meus estudos de Teologia avançavam, ia sendo cada vez mais forte em mim  o desejo de partir, de dar algum tempo da minha vida à Missão em países mais pobres, especialmente em Àfrica. A História, de que gostava muito,  ensinava-me que aquela evangelização e encontro de culturas, de que se falava muito, tinha sido escrita com lindas páginas, mas também com algumas muito tristes e injustas. Como cristão e europeu sentia alguma responsabilidade nos darmas que Àfrica vivia.

Entretanto, soube que, como padre diocesano, podia partir como padre fidei donum para outro país. Também a leitura de algumas biografias de santos, o desejo de fazer uma experiência de fé mais existencial, o diálogo com algumas pessoas amigas e um forte apelo interior fizeram-me manifeestar ao meu bispo a disponibilidade para dar algum tempo da minha vida à Missão.

Já perto da minha ordenação sacerdotal, vivi uma grande proximidade entre a opção vocacional ea de ir em missão para longe,  porque ao partir sentia mais forte e verdadeira a minha radical decisão de entregar a minha vida a Deus pelo serviço dos irmão.

Parti para a diocese do Sumbe, em Angola, ainda durante o meu primeiro ano de padre e por lá estive durante três anos e meio, tendo vivido uma experiência que foi ao mesmo tempo exigente e gratificante. De tal modo que ainda hoje continuo ligado à Missão.

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Vítor Mira

Foto: DR

quarta-feira, 4 de março de 2009

PADRE EM LEIRIA, MISSIONÁRIO EM SUMBE


Olhado para a linha da minha vida, recordo que a primeira “semente missionária”caiu no meu coração quando tinha cinco anos. Os missionários foram à minha aldeia. Não me lembro de nada do que disseram nem quantos eram, mas recordo a figura simpática de um missionário barbudo, uma brincadeira que ele fez connosco e algumas imagens de um filme que ele mostrou (crio que era o “Herói de Molokai”)

Aos 12 anos,  ainda no ciclo preparatório, um professor falou-nos de S. Francisco de Assis e contou a história do lobo que atormentava uma povoação, tendo sido o santo, um homem de paz e bem, que conseguiu “domar” a terrível fera.

Aos 13 anos entrei para o seminário diocesano de Leiria devido também por influência do meu professor de Religião e Moral e do meu pároco. Já no seminário, lembro-me que gostava muito de ler a Audácia, de modo particular as bandas desenhadas em que via as actividades dos missionários. A determinada altura andava eu próprio também a fazer as minhas bandas desenhadas com histórias que eu inventava inspirado pelas que lia. Depois as notas começaram a baixar e convenceram-me que era melhor deixar aquela “paixão”.

O bichinho ficou adormecido mas não morto. Quando terminei o 12º ano no seminário diocesano ainda coloquei a hipotese de mudar para um instituto missionário, desejo que partilhei com as pessoas mais próximas. Mas tanto os meus formadores como a minha família não acharam a ideia muito interessante...

(Continua no próximo post...)

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Vítor Mira

Foto: João Cláudio Fernandes

segunda-feira, 2 de março de 2009

EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA NA GUINÉ - Conclusão

Se o Partir de Portugal não foi uma canção de embalar  e se o chegar e ficar na Guiné não foi fácil, o regressar a Portugal foi ainda mais difícil.

Vim, mas deixei-me lá.

Vim, mas trouxe as tatuagens de sofrimento daquela gente.

O adeus que disse à Guiné foi embrulhado num vendaval de emoções e foi escrito com letras dolorosas que me deixaram os olhos marejados de saudade.

Soltei amarras e deixei a Guiné, mas trouxe comigo, como que assolapada, a vontade de um dia lá voltar. E isso aconteceu! Em Janeiro de 2008 parti do Porto, num jipe, e atravessei Portugal, o estreito de Gibraltar, Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal, Gâmbia até chegar à Guiné. AS dificuldades da viagem tão longa e tão difícil foram esquecidas pela infinita alegria de rever tantos rostos já conhecidos e sempre amáveis e tranquilos, apesar de maquilhados de tanto sofrimento, e de poder deixar às Missionárias Espiritanas o Jipe que foi comprado com o dinheiro do livro “Sinfonia das Palavras” que escrevi durante o ano em que permaneci na Guiné.

Emfim, a experiência missionária de um ano na Guiné e a viagem de Jipe, que dorou treze longos dias, não me tornaram nem melhor nem pior, mas fizeram-me ficar diferente e constituíram o tempo mais fantástico e a experiência mais extraordinária da minha vida de homem e de padre. Agradeço a Cristo, o Missionário do Pai, por me ter concedido dom tão inolvidável.

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Almiro Mendes

Foto: DR