sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A MISSÃO E A MULHER EM S. PAULO


Palavra de Paulo: Rom 16, 1-16


1. A mulher na missão de Paulo

O final da Carta os Romanos é o melhor documento que nos elucida sobre o papel da mulher na missão e na vida tanto de Paulo como nas comunidades por ele fundadas.

“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa na igreja de Cêncreas: recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos, e assisti-a nas actividades em que precisar de vós. Pois também ela tem sido uma protectora para muitos e para mim pessoalmente”.

Não sabemos quais os serviços que ela terá prestado a Paulo, mas devia ser uma pessoa da sua confiança e muito ligada ao seu trabalho pois provavelmente foi ela a portadora desta Carta aos Romanos. Desde muito cedo que a Igreja institui as diaconisas, encarregadas do serviço das mulheres: elas iam visitar ao domicílio as cristãs que habitavam lares pagãos.

“Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Jesus Cristo, pessoas que pela minha vida arriscaram a sua cabeça (Rom 16, 3). Foi um casal que colaborou muito com S. Paulo em várias cidades por onde ele passou, chegando mesmo a reunir a comunidade na sua casa (Rom 16,5). Paulo agradece aos dois em seu nome e em nome de todas as comunidades do mundo pagão (Rom 16,4).

“Saudai Maria, que tanto se afadigou por vós” (Rom 16,6).

“Saudai Andrónico e Júnia, meus concidadãos e meus companheiros de prisão, que tão notáveis são entre os Apóstolos e que, inclusivamente, se tornaram cristãos antes de mim” (Rom 16,7). Foram, portanto, eles que prepararam uma comunidade para receber o Evangelho e acabaram, como Paulo, na cadeia.

“Saudai Trifena e Trifosa e a querida Pérside”. S. Paulo diz que todas as três se afadigaram muito no Senhor (Rom 16,12).

“Saudai Rufo e sua mãe, que o é também para mim” (Rom 16, 13). Numa só palavra, Paulo recorda todo um mundo de ternura e afecto desta mulher para com ele, a ponto de lhe chamar sua mãe.

“Saudai Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, e Olímpio” (16,15). Parece que a comunidade se reunia na casa deles, pois Paulo acrescenta: “todos os a santos que estão com eles”.

Nestas recomendações Paulo recorda muito naturalmente um conjunto de mulheres que colaboraram com ele: umas eram diaconisas, outros apóstolos, outras colaboradoras, outras partilharam com ele a casa, outras estiveram mesmo com ele na prisão. São vários espaços de colaboração missionária, onde a mulher deu o seu testemunho. Algumas delas chegaram mesmo a arriscar a vida por causa do seu ministério. Todas elas são apresentadas como mulheres que colaboram e se afadigam pelos outros nas comunidades. Em dois casos, ofereceram mesmo a sua casa para a comunidade se reunir aí.

Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo post)
Foto: Lúcia Pedrosa

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

S. PAULO E O ESPÍRITO SANTO


4. O grande dom é o próprio Espírito Santo

Quanto aos dons do Espírito Santo, é preciso concentrar a nossa atenção não nos dons mas no doador. O grande dom é o Espírito Santo. Os dons e carismas não são mais que o brilho do Espírito Santo, que é o dom por excelência, o dom que encerra todos os dons. Não podemos separar o Espírito Santo dos seus dons como não podemos separar o carinho ou a ternura de um pai ou de uma mãe do próprio pai ou da própria mãe.

As manifestações do Espírito Santo são o Espírito Santo em acção. Esta acção é infinitamente suave, discreta e livre. O Espírito Santo sopra onde quer e como quer. Os dons do Espírito Santo são para o doador como os raios do sol são para o sol: não se identificam com Ele, mas não existem sem ele. Não podemos ter dons do Espírito Santo sem ter o próprio Espírito Santo. O Espírito Santo não dá esmolas: dá-se a si mesmo. O Espírito Santo é inseparável dos seus dons. Recebendo-o recebemos a fonte de todos os dons. Isto não implica que os dons sejam recebidos da mesma maneira e todos ao mesmo tempo. O Espírito Santo hoje anima-me em vista de tal missão, amanhã pode confiar-me outra. S. Paulo faz uma lista dos dons do Espírito Santo de maneira bastante livre: dá enumerações diversas. É sem dúvida mais uma amostra que um catálogo.

João Paulo II, na exortação que escreveu sobre os Fiéis Leigos, diz que se deve ao Espírito Santo todo um conjunto de coisas novas que acontecem hoje na Igreja: o novo estilo de colaboração entre sacerdotes, religiosos e leigos; a participação dos leigos na liturgia, o anúncio da Palavra de Deus, a catequese, a multiplicação dos serviços confiados aos leigos e por eles assumidos, o florescimento de grupos e associações de espiritualidade e empenhamento laical, a participação cada vez mais significativa da mulheres na vida da Igreja e o seu compromisso na sociedade.

A renovação pastoral missionária da Igreja exige valorizar e estruturar a grande variedade de dons e modos de servir a Missão da Igreja. Lembremos, por exemplo, os ministérios litúrgicos como o diaconado, o leitor, o acólito, o cantor, o monitor, os ministérios pastorais como o serviço da animação missionária, o animador vocacional, o serviço dos pobres. Há serviços seculares que se podem transformar em ministérios eclesiais como o ministério da saúde, da justiça e paz, reconciliação, solidariedade social, acolhimento aos marginalizados, visita aos doentes, acolhimento aos emigrantes, etc.

S. Paulo dá-nos uma amostra de ministérios necessários à Igreja de Corinto, mas cada Igreja pode ter necessidade de outros ministérios e serviços e o Espírito Santo sabe disso melhor que ninguém.

Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Fim do post)
Foto: 9 carismasespirituais

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

S. PAULO E O ESPÍRITO SANTO


3. O Espírito Santo na vida da comunidade: os dons do Espírito Santo

S. Paulo fala do papel do Espírito Santo na comunidade, a propósito de Corinto. Ele tinha evangelizado aquela comunidade com muitos bons resultados. Depois dele, o trabalho foi continuado por outros, nomeadamente por Apolo. Ora alguns anos depois, quando estava em Éfeso, Paulo veio a saber que a comunidade de Corinto estava dividida. Havia lá vários partidos. Uns diziam-se discípulos de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas. S. Paulo viu logo onde estava a origem da divisão: os Coríntios tinham-se fixado mais nos evangelizadores que na mensagem. Tinham feito do Evangelho o que se faz com a sabedoria humana: opta-se pelo partido, não pela mensagem.

É então que Paulo aproveita para falar do Espírito Santo. O valor de uma comunidade cristã não depende de quem a evangeliza mas do Espírito Santo que está nela. Este Espírito é comunicado a todos os membros da comunidade, seja qual for o evangelizador. Um semeia, outra rega, outro recolhe. Mas todos são baptizados no mesmo Espírito. Este Espírito revela-se em cada um dos serviços e carismas e actividades diferentes, pois que é desta colaboração de todos que se faz a comunidade. Uns têm o dom de governar, outros o de ensinar, outros o de profetizar, outros o de curar. É como um corpo vivo, onde cada membro tem uma função própria. Esta função é um dom do Espírito que é o mesmo em todos. Por isso, esta diversidade, em vez de dividir, une. A comunidade está unida pela raiz. Num corpo vivo, membros para respirar, membros para alimentar, membros para mover, membros para pensar, membros para amar. Quem é que pensa dispensar algum destes membros?(1 Cor 12)

É por estes carismas e dons que se vê que o Espírito Santo está vivo na comunidade. Não são competências pessoais, capacidade profissionais adquiridas, mas são dons do Espírito, são luzes que cada um tem e que vêm de Deus. Podem estar ligadas a um cargo mas não são cargos: são ministérios ou carismas, dons do Espírito Santo.

O Espírito Santo desperta em cada um dons que são necessários para edificar a igreja de Cristo. São os dons do Espírito Santo. Todos conhecemos pessoas, umas mais indicadas para dirigir a comunidade, outras para ensinar catequese, outras para defender a justiça e a paz, outros com qualidades para a liturgia, outros para a colaboração missionária ou a visita aos doentes ou para acolher os que chegam de fora. São dons que o Espírito Santo distribui por todos, pois todos são necessários para construir uma igreja viva. É como a construção de um casa: é preciso um arquitecto, um engenheiro, um mestre de obras, pedreiros, pintores, electricistas, canalizadores, sem falar nos que fabricam o cimento, as tintas, os azulejos. Na construção da Igreja é a mesma coisa.

Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo post)
Foto: João Cláudio Fernandes

terça-feira, 26 de agosto de 2008

S. PAULO E O ESPÍRITO SANTO


2. Os frutos do Espírito Santo

É difícil termos uma imagem do Espírito santo. Não temos nenhum retrato seu. O Filho tem um rosto humano, conhecemos a sua história, sabemos onde e quando nasceu, como viveu, como morreu. Temos a sua imagem. Por isso tantos artistas o pintaram, deram-lhe um rosto e tantos escritores escreveram a sua vida.

Do Pai, também Jesus fala mais de 170 vezes e a sua imagem reflecte-se no próprio Jesus. Ele mesmo disse que quem conhecia o Pai o conhecia a Ele. Basta ler o Evangelho para conhecer o Pai.
Mas imaginar o Espírito Santo é mais difícil. Sente-se a sua presença através da Bíblia desde o princípio ao fim. Jesus fala dele como aquele que consolará e ensinará toda a verdade aos discípulos, mas nós não somos capazes de o definir. Não tem rosto. Daí que a própria Bíblia recorra a imagens e símbolos para falar dele: o vento, o sopro, a respiração, o fogo, a pomba, a água, etc. Mas, é claro, são imagens, pois sabemos que o Espírito Santo e pomba ou vento ou fogo não são a mesma coisa.

O Espírito Santo conhece-se sobretudo pela experiência que se tem dele... É como o vento, não se vê mas sente-se quando nos sacode; é como o amor que não se vê mas nos ilumina e aquece.
Na Igreja primitiva, a experiência do Espírito foi feita através de um conjunto de fenómenos extraordinários a que chamamos Pentecostes e outras intervenções maravilhosas como o falar línguas, fazer profecias, etc. O Espírito Santo comunicava às pessoas certos dons que a pessoa por si mesmo não tinha. S. Paulo tem todo um capítulo para ajudar os cristãos a fazer o devido discernimento destes sinais extraordinários da presença do Espírito Santo (1 Cor 14).

Mas, à medida que a comunidade cristã foi amadurecendo e crescendo na fé, uma nova imagem do Espírito Santo se começa a desenhar. O Espírito Santo começa a ser alguém que está continuamente presente na vida da Igreja, que não intervém só em momentos extraordinários, mas que está em cada um de forma permanente. O cristão é como um templo onde mora a Santíssima Trindade. S. Paulo multiplica os textos para mostrar que de facto o Espírito Santo tem a sua morada no coração de cada um.

É aqui que aparecem os frutos do Espírito Santo. São os seus frutos em nós que nos revelam o verdadeiro rosto do Espírito Santo. S. Paulo fala destes frutos em vários lugares, ao longo das suas cartas. Aos Romanos diz que é Ele que nos faz filhos de Deus. “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito que vos escravize, vos volte a encher de medo, mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai. Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para com Ele sermos também glorificados” (Rom 8, 14-17). Aos Efésios, aponta como frutos do Espírito Santo: a bondade, a justiça e a verdade. E aos Gálatas, dá uma lista maior dos frutos do Espírito Santo: o amor, a paz, a paciência, a amabilidade, a bondade, a fidelidade, a modéstia, o domínio de si mesmo (Gal 5, 22)). São certas qualidades que vemos nas pessoas que nos fazem descobrir a presença do Espírito Santo.

A alegria, a paz, a bondade de tal pessoa são frutos do Espírito Santo. Por aqui vemos que o Espírito Santo é, de facto, alguém que vive connosco, misturado na nossa própria vida.
A caridade ou o amor - todos os gestos de caridade e amor, todas as provas de amor e ternura, quando neles não há egoísmo e interesse, são obra do Espírito Santo.
A paz e todos os gestos de reconciliação, de perdão e acolhimento ou misericórdia.
Todos os gestos de partilha, de festa, de solidariedade e comunhão.
A bondade e tudo o que é dar as mãos, compreender, ajudar, servir.
A paciência e tudo o que é respeito pelo outro, o dar-lhe o tempo a que tem direito, o respeitar os seus valores e o seu crescimento, são sinais que o Espírito Santo está lá.

Tudo que é vida em graça, tudo o que a graça produz em nós é sinal que o Espírito Santo está em nós. O Espírito Santo é como a respiração da vida do cristão: não se vê mas sem ela não se consegue viver.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo post)
Foto: João Cláudio Fernandes

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

S. PAULO E O ESPÍRITO SANTO


Palavra de Paulo: Gal 5, 16-26



S. Paulo é o grande teólogo do Espírito Santo. Ele fala da sua presença na vida da Igreja em dois espaços: na vida de cada cristão e na vida da comunidade.

1. O Espírito Santo na vida do cristão

O primeiro grande momento da presença do Espírito Santo acontece no Baptismo. O Baptismo é o grande Pentecostes de cada cristão. A partir desse sacramento, o cristão torna-se templo do Espírito Santo. “Não sabeis que o Espírito do Senhor habita em vós e que vós sois templos do Espírito Santo?” Pelo Baptismo, tornamo-nos família da Santíssima Trindade, filhos de Deus e, como no seio de Maria, só o Espírito Santo pode fazer essa filiação.

Por isso, o Espírito Santo não está mais para vir. Ele está radicalmente presente no ponto de partida da vida cristã, mesmo se a tomada de consciência dessa presença só acontece mais tarde quando a criança, tornada adulta, rectificar as exigências do seu baptismo. O Espírito Santo já está nele como uma fonte donde nasce a vida de Deus em nós. O cristão é efectivamente morada da Santíssima Trindade. Por isso, a santidade cristã é-nos dada inicialmente, no dia do nosso Baptismo, como projecto para a nossa vida. Rigorosamente falando nós não nos tornamos santos, mas apenas deixamos que a santidade de Deus nos santifique. Pelo Baptismo, nós recebemos a santidade de Deus em plenitude: tanto no leigo, como no padre, como no bispo ou papa. Todos somos chamados à plenitude da santidade, à perfeição da vida cristã. O que é preciso é desenvolver as suas riquezas latentes. Pelo Baptismo, nós não recebemos o Espírito Santo mais ou menos, a conta gotas. Cristo está todo em cada uma das hóstias consagradas. Uma hóstia não está consagrada mais ou menos. Cristo não está mais numa partícula que noutra. Está todo em cada uma. Mas os efeitos da comunhão não são os mesmos em todos. O Espírito Santo está todo em cada cristão, como Cristo está todo em cada uma da hóstias consagradas.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo post)
Foto: Arquivo OMP

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A MISSÃO E A PARTILHA DOS TESOUROS DAS IGREJAS (Conclusão)

2. S. Paulo e a comunhão entre as Igrejas

Paulo fundava comunidades, voltava por vezes um pouco mais tarde para fazer uma visita, escrevia-lhes uma carta, mas não ficava preso àquela comunidade por muito que gostasse dela. Cada comunidade vivia a sua própria história, bastava-se a si mesmo, mesmo financeiramente, desenvolvia-se com os seus próprios meios. Cada comunidade tinha as suas características particulares, os seus aspectos bons e maus. Cada uma devia escutar o Espírito que lhe falava com palavras apropriadas à sua situação (Apoc. 2,7).
Mas não obstante a sua autonomia e as distâncias que separavam estas Igrejas, elas conheciam-se mutuamente e sentiam-se em comunhão umas com as outras.

1. Mandavam-se cumprimentos umas às outras: “Saúdam-vos as igrejas da Ásia” (1 Cor 16, 19); trocavam entre si as cartas de Paulo: “Depois de terdes lido esta carta fazei com que ela seja também lida na igreja de Laodiceia” (Col 4, 16); mostravam-se generosas umas para com a noutras, sobretudo para com a Igreja de Jerusalém. Partilhavam entre si as alegrias e as boas novas da sua actividade missionária. Paulo e Barnabé partirão para a igreja mãe a pedido da comunidade, para dialogar com ela, a propósito dos grandes problemas que surgiram no seu seio, mas também para comunicar as maravilhas que Deus operava entre os pagãos (Actos 15, 15). Era uma das constantes dos apóstolos: após o seu regresso reunir a comunidade para contar as maravilhas operadas por Deus no seio das outras comunidades.

2. As comunidades ajudavam-se mutuamente
A comunidade de Corinto enviará Tito e dois homens de boa reputação escolhidos pela comunidade, à igreja de Roma, não só para a ajudar nas suas necessidades mas também para com eles dar graças a Deus (2 Cor 9, 12).
O próprio Paulo irá pessoalmente como delegado da igreja de Roma a Jerusalém levar a esmola dos romanos para que as tensões entre ele e as comunidades nascidas tanto do paganismo como do judaísmo fossem atenuadas e a comunhão existisse entre as várias comunidades, mau grado a sua diversidade. Ele pede aos Romanos para que rezem afim de que a sua iniciativa fosse bem aceite pelos “santos” (Rom 15, 26-31).
A comunidade de Corinto envia a sua equipa dirigente, Estéfanes, Fortunato e Arcaico ter com Paulo, pois devido às perturbações existentes na comunidade, não sabiam exactamente o que fazer. Paulo envia-lhes Timóteo e escreverá uma carta para restabelecer a calma (1 Cor 4, 17).
À comunidade de Filipos, Paulo enviará dois dos seus colaboradores, Timóteo e Epafrodito.
Aos Colossenses, aos Efésios, a Filémon, é ainda a chegada de um delegado da igreja junto de Paulo, Epafras, que lhe faz escrever a sua carta.
Estas cartas mostram qual o papel de Paulo e seus colaboradores nas relações entre as igrejas locais e os apóstolos. Mesmo não conhecendo pessoalmente os cristãos de Colossos e da Laodiceia (Col 2, 1), ele defende que deve estar em comunhão com eles, para os estimular e encorajar (Col 2, 2), mostrando assim a sua solidariedade com Epafras, que era o responsável da igreja local.
S. Paulo dirá aos Gálatas (Gal 2,2) que se o Evangelho que ele pregava aos gentios não tivesse sido aprovado pela comunidade mãe, ele teria tido a impressão de “correr em vão”. Fora da comunhão, toda a actividade missionária deixava de ter sentido. Sobretudo nas cartas que escreveu durante a sua terceira viagem, ele procura reforçar o sentimento de solidariedade das comunidades que fundava entre pagãos para com a comunidade de Jerusalém que vivia um momento difícil (1 Cor 16, 1-4). A importância de estar em comunhão com a Igreja-Mãe era tão importante, que ele não hesitou em fazer-lhe uma última visita, bem sabendo que arriscava a prisão e a morte. Para ele, a unidade e a comunhão eram um valor tão importante que valia bem a pena morrer para o salvaguardar.

Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Fim do artigo)
Foto: DR

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A MISSÃO E A PARTILHA DOS TESOUROS DAS IGREJAS

Palavra de Paulo: 1ª Cor 16, 5 até ao fim

Uma das constantes da teologia missionária de hoje é a leitura da missão como comunhão de Igrejas. S. Paulo aparecia, nas comunidades que fundara, como o ministro da comunhão, aquele que punha as Igrejas em comunhão umas com as outras: não era de nenhuma Igreja em particular mas pertencia a todas: era um elo de ligação entre todas as comunidades.

1. A comunhão na Igreja das origens

Esta é uma das constantes na Igreja dos Actos do Apóstolos: a preocupação por ligar toda a actividade missionária à comunidade, sobretudo à Igreja mãe de Jerusalém. A comunidade segue o apostolado de Filipe na Samaria e depois o de Pedro na borda do mar. Assim, Pedro e João vão à Samaria, para pôr em comunhão a Igreja que aí nascia pela evangelização de Filipe (Actos 8, 5-14). E é em comunhão que os catecúmenos evangelizados por Filipe recebem o Espírito Santo. Pedro e João impõem as suas mãos aos novos baptizados, para lhes conferir o Espírito Santo (Actos 8, 15-17). Comunidades novas não podem nascer senão em comunhão com a Igreja Mãe. Pedro baptizando Cornélio e a sua família, por um imperativo claro nascido da visão que lhe tira as últimas resistências, sente necessidade de obter a aprovação da comunidade (Actos 11).

Quando é fundada a Igreja de Antioquia, mercê de circunstâncias um pouco fortuitas, de novo a comunidade de Jerusalém se sente interpelada a fazer a comunhão, enviando para isso um homem de confiança, Barnabé. Por outro lado, a comunhão é recíproca, pois que logo que a comunidade de Antioquia teve conhecimento da necessidade em que se encontra a Igreja de Jerusalém, envia para lá socorros (Actos 11, 27-30).

E quando se trata ainda de saber os dados da evangelização a fazer, é em comunidade que o assunto é estudado. A narração de Lucas sobre as deliberações do concílio de Jerusalém deixam supor que houve várias reuniões preparatórias. Uma assembleia plenária faz primeiro surgir um problema levantado em Antioquia (Actos 15, 4-5), em seguida uma reunião restrita de delgados de Antioquia com os dirigentes de Jerusalém: os apóstolos e os anciãos (Actos 15,6); daí sairá o comunicado redigido em nome dos apóstolos e os anciãos de Jerusalém (15,23; 16,4). Enfim uma nova assembleia geral no decurso da qual, “os apóstolos e os anciãos com toda a Igreja, decidiram enviar uma delegação a Antioquia”. Toda a comunidade e não só os dirigentes são chamados a intervir no estatuto que deve regular a comunhão entre as duas Igrejas.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo Post)
Foto: DR

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A MISSÃO COMO DIÁLOGO

A Missão da Igreja – e do Cristão, enquanto membro da Igreja e discípulo de Jesus – é o cumprimento do Mandato de Jesus que veio, falou e está entre nós, realizando a Missão que o Pai Lhe deu. Esta é apresentada por Jesus em Lc 4, 18-19 e sintetiza-se no anunciar a Boa Nova como paz, alegria, saúde e libertação.
Jesus, como Filho de Deus e Seu Enviado, tinha (e tem) o “monopólio” da Missão que procurou anunciar e quer continuar a fazê-lo connosco e por nós, fazendo vir fora da pessoa as centelhas dos valores de paz, verdade e bem que lhe estão no coração, desde a criação à imagem e semelhança de Deus.
A partir do Mandato confiado aos Seus amigos (cf Mt 28, 19-20), estes são convidados a anunciá-lo, criando comunhão, na vida e no testemunho, partilhando a sua experiência de escuta e de seguimento com as experiências, também ricas e pessoais de cada pessoa humana, que, com rectidão, procure e ame a verdade e ame e queira o bem.
A Missão do membro da Igreja e do discípulo de Jesus consistirá, sempre, numa proposta de vida, vivida em reciprocidade de consciências que, na escuta e na procura recta e séria da verdade, se abre e motiva ao diálogo, respeitador e amigo, com cada irmão que é, já em si mesmo, uma centelha de verdade e uma presença de Jesus Cristo (cf GS 16).
Nesta Missão, contam mais as pessoas e os factos que as palavras, pois a Fé do conhecimento precisa do teste e da prova do amor e da relação que consiste em viver e cumprir o fundamental da Missão que se torna mesmo o distintivo da pertença (cf Jo 13, 34-35).
Anunciar o Evangelho e ser Missionário no cumprimento da Missão de Jesus Cristo não é colocar-se do lado da verdade frente ao lado das pessoas; será sim e sempre sintonizar-se na comunhão com as pessoas, colocando-se na escuta e no seguimento da Pessoa que é Caminho, Verdade e Vida. Este espírito conduz ao diálogo, na comunhão para a escuta e nunca é cedência nem fraqueza; é, sim, respeito pela Pessoa, pela Verdade e pela Missão que vem do Pai. Ele comunica o conteúdo desta Missão (paz, alegria, saúde e libertação) a todos os Seus filhos, ao modo da cultura e das circunstâncias em que cada um está e vive, e somente o Evangelho é capaz de colocar em condições de acolhimento da Missão as realidades que O não conhecem.
Este momento é inculturação, quando, sem destruição da cultura e das realidades pessoais em que cada um vive, uma e outras são enriquecidas pelo conteúdo da Missão e se abrem aos valores que são ‘mais valia’ na realização concreta, enquanto acrescentam paz, alegria, saúde e libertação aos valores naturais que conhecem e promovem. Esta interculturalidade beneficia, sem dúvida, os cristãos missionários e os destinatários da Missão, pois uns e outros partilham, dialogam e aprendem, reciprocamente, os muitos valores que existem nuns e noutros, numas e noutras culturas, recebendo, de uma forma inculturada e à maneira de pessoa livre e amada por Deus, as graças da Missão.
Por isso, somente pode ser Missionário ou agente da Missão do Evangelho quem sabe amar, quem sabe escutar e quem sabe partilhar, em comunhão, o tesouro que cada um é e tem, recebido no dom da vida e que é chamado a viver e a fazer crescer em procura constante da Pessoa que é Fonte de Verdade, de Caminho e de Vida para toda a humanidade.


D. Ilídio Leandro
Bispo de Viseu