quinta-feira, 31 de julho de 2008

A ORAÇÃO NA FONTE DA MISSÃO

3. As chaves de leitura da oração em Paulo


1. A oração ocupa um lugar central na missão de Paulo. “Rogo-vos, irmãos, por Nosso senhor Jesus Cristo e pela caridade do Espírito Santo, que me ajudeis com as orações que dirigis a Deus por mim, para que me livre dos incrédulos que há na Judeia e para que o auxílio que levo a Jerusalém tenha boa aceitação da parte dos santos” (Rom 15,30).

2. A oração é a marca da comunidade de fé que Paulo queria fundar. “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas em todas as circunstâncias apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com muitas orações e preces e com acção de graças. A paz de Deus que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Jesus Cristo” (Fil 4, 6-7).Desde a sua primeira carta, Paulo tinha proposto a oração como a maneira de ser da comunidade cristã. “Orai sem cessar; e em todas as circunstâncias dai graças, pois é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito” (1 Tes 5,17-18).

3. A oração situa-se no coração da sua vida apostólica. Uma leitura das cartas de Paulo leva-nos a uma primeira constatação: a oração de Paulo é alimentada exclusivamente pela sua actividade apostólica, pelas notícias que recebe das comunidades e os seus projectos apostólicos. Paulo reza a partir do que vive, das suas consolações, das suas tribulações e das suas amizades. Por isso a sua oração está cheia dos problemas que ele vive, das alegrias que marcam o seu apostolado, das esperanças e dos sonhos que tem a respeito das suas comunidades. “Noite e dia dirigimos a Deus as mais instantes súplicas para que possamos ver o vosso rosto e reparar as dificuldades da vossa fé” (1 Tes). As cartas sublinham o intenso compromisso que a oração implica.

4. A oração é partilhada. Paulo partilha a sua oração. Convida os seus leitores à oração e à acção de graças para que também eles descubram a vontade de Deus, especialmente nas assembleias onde o Espírito se manifesta. “Orai sempre. Em tudo dai graças. Esta é a vontade de Deus a vosso respeito” (1 Tes 5,18). S. Paulo não se sente sozinho nas suas relações com Deus. Ele reza com toda a comunidade.

5. Uma oração dirigida ao Pai. Em S. Paulo, todas as fórmulas de oração dirigem-se sempre ao Pai, não a Cristo. “Damos graças a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas orações” (Col 1,3). Ou então: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo…” (2 Cor 1,3). Isto traduz a profundidade da oração de Paulo.

6. Uma oração enraizada na tradição. A oração de S. Paulo está em sintonia com a oração bíblica. Não é uma oração devocional mas enraizada na mais pura tradição da oração do povo de Deus. Privilegia a acção de graças, o louvor, a súplica, os hinos. As bênçãos e todas as constantes dos grandes orantes do Antigo Testamento. Algumas das suas intervenções orantes são autênticos salmos.

7. A oração no Espírito. A oração para Paulo é a voz do Espírito Santo em nós. “O Espírito ora em nós com gemidos inexprimíveis e faz-nos clamar Abba, ó Pai” (Rom 8, 15).
O Espírito intercede por nós e está no coração da nossa oração. Ele conhece as profundezas de Deus e dá-nos a possibilidade de penetrar nos mistérios da sabedoria de Deus. A oração leva-nos ao coração da Trindade. “De maneira semelhante é que o Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir nas nossas orações mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rom 8, 26).



Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Fim do Post)
Foto: João Cláudio Fernandes

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A ORAÇÃO NA FONTE DA MISSÃO

2. A oração, uma constante nas Cartas de S. Paulo

Paulo é um apóstolo que vive sempre na presença de Deus. A oração brota das suas cartas, quase espontaneamente, sobre as mais diversas formas. Nas suas cartas, encontramos um manual completo de todas as formas de oração: acção de graças, bênçãos, doxologias, hinos, intercessão e súplica, contemplação e êxtase.

- Acção de graças – A sua primeira carta, a dos Tessalonicenses, começa com uma oração de graças. É a primeira oração que temos do Novo Testamento. “Damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações” (1 Tes 1, 2). A acção de graças é uma constante com que começam e acabam quase todas as suas cartas.

- Bênçãos. É outro modelo de oração frequente em S. Paulo: “Que o Deus da paz que vos santifica totalmente e que é tudo em vós, espírito, alma e corpo, seja guardado sem mancha até à vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 5,23).

- Doxologias. São as conclusões com que em geral terminam as cartas. É sempre com uma súplica e uma bênção. A mais conhecida é a do final da 2ª Carta aos Coríntios: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. Ámen” (2 Cor 13,13).

- Hinos. Basta recordar os hinos das cartas aos Romanos e aos Coríntios. O hino do amor de Deus (Rom 8,35-37), o hino da glória a Deus (Rom 11,33-36) ou o Cântico do amor no capítulo 13 da 1ª Carta aos Coríntios.

- Intercessão e súplica. É uma forma de oração muito frequente em Paulo: “Deus me é testemunha de como constantemente me lembro de vós, pedindo sempre nas minhas orações que tenha finalmente ocasião de ir ter convosco, assim Deus o queira” (Rom 1,9-10). Outro exemplo: “Noite e dia dirigimos a Deus as nossa súplicas para que possamos rever o vosso rosto e reparar as dificuldades da vossa fé (1 Tes 3,10).


- Contemplação do mistério. Alguns inícios das cartas são verdadeiramente orações profundas de um contemplativo que mergulha nos mistérios de Deus. Recordemos apenas o “Bendito” com que ele abre a Carta aos Efésios. É sem dúvida a oração de um místico, à maneira do prólogo do evangelho de S. João. “Bendito seja o Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo…

Oração e missão são duas coordenadas inseparáveis em S. Paulo. Paulo dá graças e suplica “sem cessar” (1 Tim 2,2; Rom 1,10) e em “todo o tempo” (1 Cor 1,4; Flm 1,4; Rom 1,10). Diz mesmo que reza “noite e dia” (1 Tes 3,10). As suas exortações vão no mesmo sentido: “Rezai sem cessar” (1 Tes 5, 17), “Sede assíduos à oração”(Rom 12, 12). As expressões “sem cessar” e “em todo o tempo” falam de uma oração regular, segundo as raízes judaicas de Paulo.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no Próximo Post)

Foto: Lúcia Pedrosa

terça-feira, 29 de julho de 2008

A ORAÇÃO NA FONTE DA MISSÃO

1. O ritmo da oração nos Actos dos Apóstolos


Palavra de Paulo: Rom 8, 9-17

A oração ocupa um lugar incontornável na missão dos Actos dos Apóstolos. Ela anima e acompanha a missão.

- É durante uma celebração que nasce a primeira viagem missionária aos pagãos: “Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: separai Barnabé e Paulo para o trabalho a que eu os chamei”(Actos 13,2).

- O anúncio de Paulo começa sempre com a celebração semanal na sinagoga, que por vezes é mesmo chamada oração (Actos 16, 13-16).

- A abertura aos pagãos é motivo de louvor a Deus: “Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna, abraçaram a fé” (Actos 13,48).

- A confirmação dos coordenadores missionários é acompanhada de oração e jejum “Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor em quem tinham acreditado” (Actos 14, 23).

- Paulo reza pelos chefes da comunidade de Éfeso em Mileto: “E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados” (Actos 20,32).

- Na prisão de Filipos, acompanhado de Silas, Paulo passa a noite a rezar e a louvar a Deus: “Cerca da meia noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os prisioneiros escutavam-nos” (Actos 16,25).

- O testemunho de Paulo leva o povo a louvar o nome do Senhor: “Todos os habitantes de Éfeso, judeus e gregos, souberam da ocorrência e todos se encheram de temor sendo enaltecido o nome do Senhor Jesus” (Actos 19,17).

- Paulo participa na oração das comunidades: em Tróade toma parte na fracção do pão “No primeiro dia da semana, estando todos reunidos para partir o pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, começou a falar com eles e prolongou a sua pregação até à meia noite” (Actos 20, 7).

- Em Mileto, Paulo reza com o povo. “Depois destas palavras, ajoelhou-se com eles e orou” (Actos 20, 36).

- Em Tiro, a comunidade foi com ele até à praia e todos juntos rezaram (Actos 21,5).

Vemos, portanto, que a oração é particularmente importante para o envio missionário, para a escolha dos responsáveis da comunidade, para as provações e dificuldades e para a procura da vontade de Deus na história da salvação.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no Próximo Post)
Foto: DR

segunda-feira, 28 de julho de 2008

VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO

Um marco no futuro da missão da Igreja

“A seara é grande e os voluntários missionários são poucos”. Parafraseando o Evangelho, damo-nos conta de que o campo onde a Igreja é chamada a exercer a sua Missão não pára de crescer, perante tantas necessidades e urgências da nossa humanidade. Por isso, todos os que nesse campo trabalham são poucos, mesmo que nos últimos anos se tenha assistido a um crescimento gradual do número de voluntários missionários, sobretudo jovens, rapazes e raparigas, que deixam a sua família e amigos, partem para outras terras, como testemunhas em nome de Jesus Cristo.

O voluntariado missionário é um novo dinamismo que enriquece a experiência eclesial de fraternidade e solidariedade, cujo desenvolvimento poderá marcar o futuro da Missão da Igreja, neste mundo global e da mobilidade humana. Há várias formas de voluntariado missionário, que tanto pela sua origem ( grupos universitários, paroquias, institutos religiosos, dioceses, etc.), como pela sua preparação, motivação e duração, nos indicam uma grande diversidade que não deixará de ser um sinal dos tempos suscitado pelo Espírito de Deus, em resposta às novas necessidades de trabalhadores para a seara e às novas formas de exprimir a caridade num mundo mais solidário.

Não incluímos nestas formas, todas aquelas grandes organizações, ong´s e outras, que sob a capa da solidariedade e do voluntariado vão usando, em burocracia, salários e logística, uma grande parte do que é destinado aos pobres.

Entre os jovens voluntários há aqueles, mais numerosos, que partem por um curto período de tempo ( de 1 a 3 meses). Esta experiência é sobretudo interessante do ponto de vista pessoal, como enriquecimento humano e cultural e como partilha de outras formas de viver a fé. Nestes jovens há um “ir”, um partilhar, um dar, que nem sempre redunda num “vir”. Ou seja, a experiência é tão curta que o regresso dos jovens ao mundo do estudo ou do trabalho, não lhes permite fazer eco, junto das comunidades que os enviam, da experiência que viveram, nem daí tirar consequências para a sua vida cristã, pessoal ou profissional, . Ou então é um eco virtual feito de fotos, powerpoints, esculturas ou capolanas. É bom este “ir” e oxalá todos os jovens cristãos pudessem fazer esta experiência transcultural, mas não é desta forma de voluntariado missionário que mais a nossa Igreja precisa.

A nossa Igreja em Portugal precisa de voluntários missionários que se queiram dedicar a uma experiência de vida em comum, testemunhando a sua fé, por períodos de um ano ou mais, num outro país onde a Igreja tem mais dificuldade em responder às necessidades dos povos. Quer pela sua prolongada preparação e aprofundada motivação, quer pelas exigências de vida cristã que a experiência de trabalho implica, estes voluntários missionários tornam-se agentes de evangelização, testemunhas de Cristo, arautos de Esperança cujo brilho aponta em duas direcções. Enviados da única Igreja de Jesus Cristo, embora por um tempo parcial que se encaixa na flexibilidade dos tempos de hoje a requerer compromissos ad tempus, eles contribuem para uma maior solidificação dos elos de comunhão que constituem o ser da Igreja. Se junto dos povos a quem são enviados, os voluntários missionários constituem um exemplo vivo de abnegação, generosa entrega, em nome da fé em Jesus Cristo; junto das comunidades que os enviaram e recebem de volta são expressão viva do sentido missionário de toda a Igreja e também daquela comunidade específica a que pertencem. E sabemos quanto este “vir” se torna muitas vezes fonte de uma dinamização particular de comunidades cristãs que, de um momento para o outro, se vêem mais unidas em gestos de partilha, apadrinhamento, acolhimento, visitas, etc… Pena é que nem sempre as comunidades cristãs e suas lideranças saibam tirar partido destas experiências para potenciar a partilha, a vivência da fé e o fortalecimento da Igreja Comunhão. As comunidades cristãs que souberam potenciar este dinamismo, esta relação, esta aliança, encontraram mais alegrias que dificuldades, mais crescimento da fé, aumento dos grupos que até atraiu novos membros à vida eclesial. Um outro fruto desta sementeira, embora mais modesto, tem sido o surgimento de vocações missionárias a tempo inteiro, de religiosos e religiosas, que após tal experiência se querem entregar totalmente ao serviço da Missão e que a Igreja continuará a precisar para solidificar os elos da comunhão missionária que unem toda a Igreja.

Em ano de Congresso missionário e de reflexão a propósito da responsabilidade geral da Igreja sobre a Missão ad gentes, precisamos de incentivar o voluntariado missionário a ponto de não descansarmos enquanto cada paróquia ou comunidade cristã do nosso país, não tiver entre os seus membros pelo menos um voluntário missionário, um agente de evangelização e de comunhão, que em todos pode ajudar a reavivar o seu sentido de Missão, como esperamos o faça também o ano Paulino em que todos estamos tão empenhados. “Mandai Senhor, voluntários missionários para a vossa Igreja, em Portugal”!



Pe. José Manuel Sabença
Presidente dos IMAG
( Institutos Missionários Ad Gentes)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

HINO DO CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL 2008

Vive a missão, rasga horizontes





São horas, são horas!
Portugal, vive a missão!
São horas de partir, (bis)
São horas, Portugal, rasga horizontes!
Responde à história e vai
Levar palavra e pão!
Portugal, vive a missão!

1. Escuta a voz de Deus na voz do vento
E tantas bocas mudas a chamar.
Descobre no silêncio o chamamento
Que chega de outro mar.

2. Não digas “sou feliz” se alguém não é;
Não digas “tenho paz” se alguém não tem.
Só com felicidade, paz e fé
Não salvarás ninguém.

3. Tu sabes onde está a chave certa
Das portas que se fecham à verdade
E sabes o segredo que liberta
Da fome a humanidade.

4. Ninguém comprou o sol que hoje nasceu,
Ninguém privatizou a salvação.
Não és dono da estrada para o céu.
Vai e segue o coração.

Texto: Fr. M. Rito Dias
Música: António Cartageno

quinta-feira, 24 de julho de 2008

ACENTUAR A DIMENSÃO MISSIONÁRIA DA NOSSA DIOCESE

Carta à Comunidade Cristã de Carcavelos

Queridos Irmãos e Irmãs,

Escrevo-vos esta carta em circunstância pouco comum, reconheço-o: a mudança de Pároco apenas um ano depois da sua tomada de posse.
Há um ano, depois das nomeações dos sacerdotes, fui surpreendido pela necessidade de substituir o P. Jorge Anselmo. Não tive outra solução senão pedir ao P. Ildo que interrompesse a sua colaboração missionária na Diocese do Mindelo, Cabo-Verde. O P. Ildo obedeceu-me, em espírito de comunhão com o seu Bispo, o que confirmou o apreço que tenho por ele. Mas não me dei conta que o seu coração tinha ficado em Cabo-Verde, aliás sua terra natal. Confessou-mo agora sinceramente, manifestando-me o desejo de voltar a servir aquela jovem Diocese, com falta dramática de sacerdotes neste seu arranque.
Eu sei que o P. Ildo me obedeceria se eu lhe pedisse para ficar em Carcavelos. Mas senti que havia um apelo do Espírito à partilha de dons entre as Igrejas. Eu desejo muito que esta disponibilidade missionária seja atitude da nossa Igreja diocesana, incluindo o seu clero. Temos falta de sacerdotes, é certo; mas é a partilha dos pobres que mais toca o coração de Deus. A inquietação do P. Ildo vem ao encontro da minha preocupação de acentuar a dimensão missionária da nossa Diocese que, segundo as orientações do Concílio Vaticano II e o desejo do Santo Padre se exprime, também, no envio de alguns sacerdotes em missão.
Estou confiante em que a comunidade cristã de Carcavelos aceitará, neste espírito, a partida do P. Ildo e que o ajudará, espiritual e materialmente, nesta sua missão.
Invocando, para todos vós, a protecção maternal de Nossa Senhora dos Remédios, invoco a Bênção de Deus.

Lisboa, 25 de Junho de 2008.

D. José Policarpo
Cardeal Patriarca
Foto: DR

quarta-feira, 23 de julho de 2008

PERSPECTIVAS DA MISSÃO... V PARTE

A MISSÃO, FESTA DOS POVOS

5. Um olhar de amor sobre a humanidade que nos rodeia

Paulo olha sempre para a humanidade que o envolve e para as comunidades que evangeliza com um olhar de complacência e compreensão. Ele toma sobre si o cuidado de todas as igrejas e faz suas as suas quedas e fraquezas. “Além de tudo isto, a minha obsessão de cada dia: o cuidado de todas as igrejas. Quem é que é fraco, sem que eu o não seja também? Quem tropeça, que eu não me consuma por fora? Se é preciso gloriar-me, da minha fraqueza me gloriarei” (2 Cor 11,28-29). Ele está pronto a ser amaldiçoado, separado de Cristo, contanto que os olhos deles se abram (Rom 9, 2-3). Os Filipenses são a sua alegria e a sua coroa (Fil 4,1) e não tem menos afeição pelos “doidos” gálatas”( Gal.3, 1), mesmo por causa das suas aberrações ele mantém por eles um amor que se assemelha a uma ternura maternal. “Ah meus filhinhos, que na dor eu dei à luz de novo até que Cristo seja formado em vós!” (Gal 4,17)

A respeito de Israel ele “tem no coração uma grande tristeza e uma dor incessante e está pronto a ser amaldiçoado, separado de Cristo, se isso pudesse servir para lhes abrir os olhos”(Rom 9,2-3). Ele diz que tem no coração todos os Filipenses, por terem tomado parte na graça que lhe foi dada nas suas prisões (Fil 1,7-8). O seu afecto para com os Gálatas não é menor, mesmo se eles são insensatos. “Filhinhos meus, por quem de novo sinto as dores da maternidade, até que Cristo seja formado em vós, bem quisera estar agora convosco e mudar a minha voz pois estou perplexo a vosso respeito” (Gal 4,19-20).



Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Fim do Post)
Foto: Samuel Mendonça

terça-feira, 22 de julho de 2008

PERSPECTIVAS DA MISSÃO... IV PARTE

A MISSÃO, FESTA DOS POVOS

4. A dimensão socio-económica da missão

Em Paulo, a missão atinge a vida toda da comunidade, reveste também a dimensão socioeconómica da sua existência.

Paulo canta a caridade como alicerce do seu Evangelho (1ª Cor 13) e mais concretamente organiza uma colecta para os pobres de Jerusalém, colecta que ele chama “serviço da comunhão” (Koinonia) (2 Cor 8,1-6). “Não se pretende que os outros tenham alívio e vós fiqueis em apuros, mas que haja igualdade”. Esta partilha, mais que caridade, para Paulo é justiça social. Ele proclamou que “não havia mais nem judeu nem grego, nem escravo nem homem livre, nem homem nem mulher” (Gal 3,28). A fraternidade, a igualdade e a justiça social eram valores que faziam parte integrante da missão, como o Sínodo de 1972 viria a reconhecer...

Paulo arriscou perder a sua própria liberdade por causa desta transformação das relações étnicas, tomou a defesa do escravo Onésimo e admitiu mulheres nas suas equipas apostólicas, atitudes que eram contrárias ao código vigente daquele tempo. Filémon, um senhor rico, tinha como escravo Onésimo. Paulo prescindindo da questão legal, envia-o ao seu senhor, Filémon e pede que o acolha, já não como escravo mas como “irmão querido” (Carta a Filémon 1,16), seu irmão na fé.

O seu ensinamento sobre a liberdade e a lei, a vida, a morte, o pecado e a graça eram uma doutrina revolucionária. A Lei para os judeus tinha um valor absoluto e criava uma religião de observância, contra a qual Paulo combateu sem dúvidas nem reservas. A lei, sem os valores que ela contém, escraviza e anula a pessoa; só a graça liberta. É toda a doutrina da Carta aos Romanos.
É uma conversão profunda das estruturas opressivas, injustas e aniquiladoras, que ele anuncia. A missão para Paulo não era uma ideologia abstracta: idealista, espiritualista, mas mexia com as estruturas sociais pela sua raiz.

Para Paulo, o pecado e a morte não eram factores apenas individuais, mas potências que encadeavam e abafavam a imagem de Deus no homem. O pecado social, sem rosto, de que falava João Paulo II era, já para Paulo, um pecado em que todos tinham culpas.
Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Cont. no próximo Post)
Foto: Lusa

segunda-feira, 21 de julho de 2008

PERSPECTIVAS DA MISSÃO...III Parte

A MISSÃO, FESTA DOS POVOS

3. A missão como diálogo ecuménico

No início os primeiros cristãos só anunciavam o Evangelho aos judeus, pois na Palestina só moravam judeus. Mas a perseguição a quando da morte de Santo Estêvão dispersou os cristãos pelo mundo (Actos 11,19). Alguns chegaram a Antioquia e começaram a falar de Jesus também aos pagãos, isto é, aos Gregos (actos 11,20). Barnabé foi ali enviado para ver o que se passava e fazer o devido discernimento. Viu e achou bem e chamou Paulo para trabalhar com ele. “Durante um ano inteiro mantiveram-se nessa cidade e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez os discípulos de Cristo começaram a ser tratados por “cristãos” (Actos 11,26). De Antioquia a novidade espalhou-se por todo o mundo, sobretudo a partir das viagens de Paulo.

Ao redor das sinagogas das várias cidades do Império foram surgindo grupos de pagãos que simpatizavam com o judaísmo. Havia os prosélitos e os tementes a Deus. Os prosélitos observavam integralmente a lei de Moisés, eram mesmo circuncidados, não eram muito numerosos. Os tementes a Deus ou adoradores de Deus observavam só algumas partes da Lei, frequentavam a sinagoga, mas não aceitavam a circuncisão. Estes eram o grupo mais numeroso e mais atento a Paulo (Actos 13,16.26). Para estes, o Evangelho era realmente uma Boa Notícia e aceitavam-no com muita alegria (Actos 13,48; 15, 31; 17,4.12). Para eles o Evangelho era uma festa.

Mas o confronto dentro da fé verifica-se também no terreno cultural e religioso do helenismo, onde predominavam os grandes movimentos filosóficos e os diferentes cultos e associações religiosas. Paulo viu-se confrontado com o epicurismo e o estoicismo, duas correntes filosóficas preocupadas com propagar a arte de viver feliz mediante a busca de um equilíbrio sábio.

Ao lado destas filosofias populares persistiam os antigos cultos e tradições religiosas que impregnavam a vida social e económico das cidades. Em Éfeso Paulo entrará em choque com a corporação dos ourives, chefiada por Demétrio, que defendia os interesses dos fabricantes de ex-votos às divindades pagãs, como também o culto da grande deusa – mãe Artemis, protectora da cidade e de toda a Ásia (Actos 19,24-32). Festas, sacrifícios e procissões segundo um calendário fixo, regulavam a vida religiosa das grandes cidades. Templos, estátuas de várias divindades tutelares constituíam o cenário religioso das cidades helenísticas. Em Atenas, o número de estátuas e altares votivos impressionou fortemente Paulo (Actos 17,16). O discurso de Paulo no areópago de Atenas é um modelo de anúncio cristão, que procura interpretar as esperanças humanas que se envolvem nas melhores aspirações da religiosidade e cultura helenística (Actos 17,22-31).


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Cont. no próximo Post)
Foto: João Cláudio Fernandes

sexta-feira, 18 de julho de 2008

PERSPECTIVAS DA MISSÃO... (CONT.)

A MISSÃO, FESTA DOS POVOS

2. A missão como encontro de culturas

A segunda parte dos Actos dos Apóstolos, através de Paulo, apresenta um rosto novo da missão. Paulo lança uma campanha de evangelização planificada: passa dos judeus para os pagãos, vai de Antioquia da Síria a Chipre e à Ásia Menor, da Ásia Menor passa para a Europa. Em três campanhas que nos fazem lembrar Alexandre Magno, implanta a fé em todos os grandes centros do mundo romano. Antioquia, Éfeso, Tessalónica, Atenas e Corinto. Ele inicia um ciclo de missão que para o autor dos Actos dos Apóstolos se tornará paradigmático para as gerações futuras.
Atenas era o lugar ideal para Lucas ilustrar a relação entre o evangelho e a cultura. O primeiro encontro de Paulo realiza-se no areópago, na praça central, onde se encontra não somente o mercado, o tribunal, mas também onde se travam todas as discussões sobre filosofia e religião. Neste ambiente, Paulo propõe o evangelho já não na sinagoga, mas num contexto leigo e profano, o centro cultural (Actos 17,16-17). No areópago de Atenas Paulo encontra alguns filósofos representantes das correntes do pensamento em moda: o epicurismo e o estoicismo.
No seu ministério Paulo encontra também as grandes realidades políticas do mundo romano, logo desde a sua primeira etapa, em Chipre, onde converte o pró-consul Sérgio Paulo (Actos, 13,4-12).
Encontra também o grande comércio greco-levantino com a conversão de Lídia, negociante de púrpura, em Filipos, a indústria do couro e das tendas com Áquila e Priscila, a arte da fundição do cobre, com Alexandre (2 Tim 4,14).
Encontrou as mais diversas culturas nas cidades que evangelizava e que eram formadas por emigrantes e estrangeiros vindos de todas as distâncias: os Gálatas, cuja língua desconhecia, os gregos, judeus, romanos, egípcios, orientais, a cultura ateniense, quando lidou com os epicuristas e estóicos que o quiserem ouvir no areópago de Atenas, etc.
Encontrou diversas religiões: os judeus, os judeo-cristãos, os tementes a Deus, os prosélitos, os discípulos de Artemisa, os pagãos, os cultos orientais, a religião pagã, o deus desconhecido do areópago de Atenas.
Encontrou as diversas profissões daquele tempo: filósofos, epicuristas, estóicos, soldados, vinhateiros, marinheiros, magistrados, tendeiros, fundidores de cobre, os astrólogos e adivinhos de ciências ocultas, etc.
Encontrou os mais diversos estratos sociais: nobres, homens livres, escravos, libertos.
Em geral, salvo o caso de Artemisa em Éfeso, o seu encontro com estas diferentes culturas é frénico, isto é: Paulo dirige-se a este mundo com acolhimento e simpatia. O encontro do Evangelho com as realidades terrestres é pacífico e simpático.
Assim, a primeira imagem que temos da missão de Paulo é a imagem de uma missão itinerante, que atravessa as mais diversas culturas e que procura enraizar o evangelho nos valores locais.

Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Cont. no próximo Post)
Foto: João Cláudio Fernandes

quinta-feira, 17 de julho de 2008

PERSPECTIVAS DA MISSÃO...

A MISSÃO, FESTA DOS POVOS


Palavra de Paulo: Filip 1, 1-11

A primeira imagem que recolhemos da leitura dos Actos dos Apóstolos, a respeito de Paulo, é a imagem de um conquistador. É a imagem que está no átrio da basílica de S.Paulo em Roma: um conquistador com a espada na mão. Sabemos que esta espada é a espada do martírio, mas isso não é evidente à primeira vista: parece antes a espada de um conquistador da fé, uma espécie de cruzado.

O apóstolo infatigável, sempre em viagem, de malas feitas, levando o Evangelho a terras e povos cada vez mais distantes, a estratégia inspirada alargando progressivamente as fronteiras da fé cristã é a imagem Paulina que guardamos na memória. É uma visão militante, um tanto quanto triunfalista mas que está longe da verdadeira imagem de Paulo que os Actos dos Apóstolos nos apresentam. Vale a pena focá-lo um pouco mais de perto.

1. A missão como festa

a) O dia do Pentecostes em que nasceu a Igreja Missionária é-nos apresentado nos Actos dos Apóstolos como uma grande festa. Ali estavam reunidos todos os povos de então: Partos, Medos, Elamitas, Habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes. E ali ouviram os apóstolos em cada língua anunciar e cantar a maravilhas de Deus. A missão começou portanto por ser uma grande festa que uniu povos diferentes e culturas diferentes (judeus e prosélitos, cretenses e árabes) em que não faltou o canto e o louvor. Não foi efectivamente um funeral.

b) Também para S.Paulo anunciar o Evangelho era levar uma boa notícia e como tal era sempre uma festa. No início de quase todas as suas cartas ele confessa a alegria que sentia com a evangelização das suas comunidades. Elas eram a sua coroa de glória. Por isso o louvor e a acção de graças são uma das constantes das suas cartas. Ele saberá ver até nas provações e dificuldades que a missão lhe causava um pretexto para se gloriar e festejar. A participação nas chagas e na cruz de Cristo era para ele um motivo de alegria e de festa. Este coração sempre apaixonado pelo Senhor, que anunciava, dava-lhe aquela liberdade de Espírito de que tem sempre uma alegria e uma boa notícia a comunicar.
A missão era uma festa também pelo conhecimento de pessoas que adquiria, pelas relações humanas que criava, pelos amigos que fazia. No início e no final das suas cartas ele não resiste à tentação de os recordar, saudar e recomendar-se a eles.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Cont. no próximo Post)
Foto: João Cláudio Fernandes

quarta-feira, 16 de julho de 2008

DIOCESES EM MARCHA...LEIRIA-FÁTIMA

Nota Pastoral sobre o Congresso Missionário 2008

Despertar o espírito de missão e reacender um novo ardor missionário

De a 3 a 7 de Setembro próximos realiza-se, em Fátima, o Congresso Missionário Nacional. Com este Congresso pretende a Igreja em Portugal despertar nas comunidades cristãs o espírito de missão, reacender um novo ardor missionário, descobrir novos caminhos da missão, na esteira da nossa melhor tradição como um povo de missionários.

Este acontecimento proporciona-me a feliz ocasião de fazer um apelo à dimensão missionária da nossa diocese e a uma participação significativa no Congresso, que acontece no ano dedicado a São Paulo, o Apóstolo missionário por excelência.

1. A urgência da missão
O Papa Bento XVI na mensagem de 2007 para a Jornada Missionária Mundial, com o título “Todas as Igrejas para o mundo inteiro”, sublinhou que é “urgente a acção missionária perante o avanço da cultura secularizada... De outro modo, as Igrejas correm o risco de se fecharem em si mesmas, de olharem com reduzida esperança para o futuro... Mas é precisamente este o momento de abrir-se com confiança à providência de Deus que nunca abandona o seu povo.”

O mandamento do Senhor ressuscitado “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho” (Mc 16,15,) é sempre actual e urgente. É interessante notar que o Ressuscitado não pede aos Apóstolos para embelezar a sepulcro, colocar lápides, dedicar-lhe ruas, nem construir-lhe monumentos, nem muito menos organizar-lhe festas. Pede-lhes para anunciar o Evangelho a todo o homem, encorajados pela ternura de Deus e pelo seu intenso amor gratuito por toda a criatura humana.

2. Toda a Igreja é missionária, a exemplo de S. Paulo
S. Paulo compreende e vive, de modo extraordinário, esta dimensão missionária da Igreja. Ele mesmo nos confia o segredo da sua actividade de missionário incansável ao exclamar: “O amor de Cristo possui-nos e impele-nos ”. Foi o amor de Cristo que o levou a percorrer as estradas do império romano e a enfrentar todos os riscos como arauto e missionário do Evangelho.

A missão é uma irradiação da luz e do amor de Deus que em Cristo entra na história dos homens. Nenhum cristão é estranho a esta tarefa. Toda a Igreja é missionária. A missão não é obra de navegadores solitários. Deve ser vivida na barca de Pedro, a Igreja, conforme os dons que cada um recebe do Espírito.

Bento XVI, numa das catequeses semanais, ao apresentar as figuras dos colaboradores mais íntimos de S. Paulo – Barnabé, Silvano e Apolo – explicou que na evangelização não há solistas, porque todos têm uma tarefa decisiva no campo do Senhor. Paulo não age como solista, como puro indivíduo, mas juntamente com outros colaboradores dentro do “nós” da Igreja: “Cada um tem uma tarefa determinada no campo do Senhor: Eu plantei, Apolo regou, mas é Deus quem faz crescer... Somos de facto colaboradores de Deus e vós sois o campo de Deus e o edifício de Deus.”

“Assim, nesta missão de evangelização eles encontraram o sentido da sua vida e, enquanto tais, estão diante de nós como modelos luminosos de desinteresse e de generosidade”, conclui o Santo Padre.

Também hoje o Evangelho deve ser anunciado por nós como o pão para que o mundo não morra de fome; como a água para que ninguém morra de sede; como o ar que se respira ou como o sol que aquece e retempera. Basta que levemos o nosso testemunho humilde e generoso mas indispensável e precioso. E há tantos modos de levar este testemunho!... Felizmente encontramos hoje o ressurgir de novos tipos de vocação missionária entre jovens e menos jovens que se dispõem a oferecer, em forma de voluntariado, alguns meses ou anos da sua vida ao serviço dos irmãos em terras de missão.

3. A geminação entre a diocese de Leiria-Fátima e a diocese do Sumbe
Entre nós é de salientar, neste contexto, a geminação entre a nossa diocese e a diocese do Sumbe, em Angola. Esta iniciativa é uma concretização do método missionário evocado pela mensagem do Santo Padre: “Todas as Igrejas para o mundo inteiro” e expressão da comunhão das Igrejas na missão evangelizadora. Tem servido para manter viva a dimensão missionária da (e na) nossa Diocese. Temos a trabalhar no Sumbe uma equipa constituída por um padre e alguns jovens leigos voluntários. Faço um apelo para que esta realidade seja dada a conhecer em cada uma das nossas comunidades, de modo a tornar-se interpeladora e suscitadora de vocações missionárias entre os jovens.

Por fim, peço aos reverendos párocos que dêem a conhecer nas suas comunidades a realização do Congresso Missionário Nacional e envidem esforços para que cada comunidade se faça representar por alguns membros.

O grande apóstolo São Paulo nos ajude, com a sua intercessão e exemplo, a reavivar o ardor missionário na nossa querida Diocese!



D. António Marto
Bispo de Leiria- Fátima

terça-feira, 15 de julho de 2008

VÁRIOS MINISTÉRIOS - UMA MISSÃO (CONT.)

Quem ignora a imensa riqueza missionária com que o Espírito de Deus dota a Igreja na multiforme diversidade dos Institutos de Vida Consagrada! Na vanguarda da missão, os religiosos e religiosas oferecem, pelo testemunho de vidas entregues, o mais belo exemplo da alegria e da doação ao serviço do anúncio do Evangelho no meio dos povos que não conhecem Cristo.
Mas a missão não se esgota aqui. Os missionários leigos são o rosto deste carácter missionário de todo o Povo de Deus, recebido no baptismo e desenvolvido através do florescimento e da maturidade de uma variedade de ministérios. Os leigos catequistas assumem em terras de missão uma criatividade evangelizadora plena de encanto e repassada de eficácia apostólica.
São muitos ainda para lá dos catequistas aqueles que, como leigos e leigas, no voluntariado missionário não temem o desafio das exigências da missão e se entregam apaixonadamente ao serviço do Evangelho, das pessoas e dos povos que ainda não conhecem Cristo, vivo e ressuscitado, ou que experimentam situações de pobreza, de injustiça ou de sofrimento. Ser missionário é ser mensageiro da fé, samaritano da esperança e servidor da caridade.
Unir e fazer pontes, consolidar a comunhão na diversidade e na beleza da variedade de tantos ministérios, vencer dissonâncias e superar dificuldades, respaldar a dignidade sagrada da pessoa humana e promover o desenvolvimento harmonioso e justo dos povos constituem hoje certamente algumas das exigências maiores da acção missionária da Igreja.
A unidade na diversidade e a união na comunhão alicerçam a fecundidade da missão e são certamente o terreno fértil onde florescem novas vocações missionárias.
Se a messe é grande em todo o lado onde a semente da Boa Nova do Reino já germina com abundância, maior ainda se mostra no campo imenso dos que aguardam o primeiro anúncio do Evangelho.
Imploremos insistentemente ao Senhor que envie trabalhadores para a missão.
Animados pela “esperança que salva” sentimos os passos firmes dos missionários que partiram das suas terras de origem com pés de peregrinos e almas cheias de Deus e que moram longe com a certeza de que vivem na Terra do chamamento e da promessa.
Ouvimos a voz dos que nunca se cansaram de falar de Deus e que marcaram a história da Igreja com a verdade da fé, o testemunho de vida e por vezes mesmo a heroicidade do martírio.
Encontramos a beleza e o testemunho coerente da missão com marcas de generosidade, em hinos a Deus proclamados, no Pão da Eucaristia abundantemente repartido, em feridas e dores curadas, em fomes saciadas e na dignidade a tantas vidas restituída.
A missão desenha-se e lê-se no rosto e na vida de tantos irmãos evangelizados e está esculpida e cinzelada na história de tantos povos feitos terra de paz e de liberdade. Em todos os continentes levantam-se hoje Tendas e Cenáculos – verdadeiros lugares de encontro de Deus com todos os Povos do Mundo.


D. António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão
Episcopal das Vocações e Ministérios
(Fim do Post)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

VÁRIOS MINISTÉRIOS - UMA MISSÃO

“Sereis minhas testemunhas até aos confins do mundo”
Act 1, 8


A encíclica Redemptoris Missio lembra-nos que “não existe testemunho sem testemunhas como não há missão sem missionários”[1]
Na escolha dos doze apóstolos, Jesus encontrou os primeiros discípulos para permanecerem com Ele e por Ele serem enviados.
Ao lado dos apóstolos e a partir deles surgem pessoas, grupos e comunidades que depois de evangelizados se transformaram em evangelizadores.
A missão é desde o seu início uma tarefa de toda a comunidade cristã. É no dinamismo apostólico da comunidade, que despertam novos agentes evangelizadores, atentos ao chamamento do Mestre e conduzidos pelo Espírito que é a alma da missão.
Mesmo nos momentos e lugares em que o número dos cristãos era ainda reduzido, aí florescia já o zelo missionário. A missão é confiada desde o início a toda a Igreja.
O zelo pela Casa de Deus e a responsabilidade pela Causa de Jesus que a evangelização do mundo constitui foram confiados aos apóstolos e através deles aos seus sucessores, os bispos.
“O cuidado de anunciar o Evangelho, em toda a terra, pertence ao colégio dos pastores, aos quais, em comum, Cristo deu o mandato”[2]
Conscientes deste mandato, sentindo que foram ordenados para a salvação do mundo e não apenas para uma diocese, os bispos têm diante de si um imenso horizonte missionário.
Não basta ao bispo diocesano coordenar e promover a actividade missionária na sua diocese mas deve estabelecer pontes e gerar dinamismos que promovam comunhão e favoreçam a abertura e a partilha entre Igrejas particulares.
Participam desta missão os presbíteros e diáconos, nas suas comunidades ou como missionários ad gentes
Particularmente vinculados à missão estão os sacerdotes que pertencem a institutos religiosos, sobretudo aqueles que na especificidade da sua identidade têm a acção missionária como carisma essencial. São múltiplas e belas as formas e os carismas de vocação missionária que os sacerdotes acolhem, assumem e testemunham.



[1] JOÃO PAULO II, Encíclica Redemptoris missio, Roma 1990, 61.
[2] II CEV, Constituição dogmática sobre a Igreja Lumem Gentium, 23.





(Continua no próximo post)
D. António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro
e Presidente da Comissão Episcopal
das Vocações e Ministérios

quarta-feira, 9 de julho de 2008

FESTA DA MISSÃO E PEREGRINAÇÃO MISSIONÁRIA NACIONAL

Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG)

Em nome das Obras Missionárias Pontifícias, quero expressar a minha alegria e satisfação pelo sinal de unidade e comunhão que os Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG) manifestaram, aquando da II Peregrinação Missionária Nacional, em Fátima, realizada no último fim de semana.
Por outro lado, muito agradecemos aos organizadores do IMAG e ANIMAG, que dentro das possibilidades do Santuário, tornaram possível esta manifestação de fé e alegria dos missionários, missionárias e leigos(as) da Igreja missionária em Portugal.
Retenho ainda na memória as cerca de 30.000 pessoas, oriundas de todos os cantos do país, que com as suas faixas alusivas ao evento, celebraram esta festa da Missão.
A terminar, uma referência especial a D. António Couto, Presidente actual da Comissão Episcopal das Missões e a D. Manuel Quintas, anterior Presidente, pela sua presença e interesse em prol da causa missionária.

O Director Nacional
Pe. Manuel Durães Barbosa, CSSp

Fotos: João Cláudio Fernandes

segunda-feira, 7 de julho de 2008

II PEREGRINAÇÃO MISSIONÁRIA NACIONAL

Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG)


Estimados Amigos e Amigas Imag/Animag

A todos os que contribuíram para fazer deste fim de semana uma bela festa da Missão no caminho que Maria nos aponta de acolhimento e abertura aos outros, muito, muito obrigado. Bem haja a cada um de vós e todos aqueles que conheceis e a quem peço transmitais esta palavra de gratidão e de louvor, pela festa e alegria que transmitimos e vivemos como missionários e missionárias. Bem hajam e que o Congresso missionário de Setembro possa reunir-nos, de novo, nas formas de fazermos este ritmo missionário ainda mais envolvente, abrangente e dinamizador.
Um abraço em Cristo, nossa força de Missão a levar-nos para horizontes mais largos.


P. José Manuel Sabença
Presidente dos Imag
Foto: João Cláudio Fernandes

sexta-feira, 4 de julho de 2008

FORMAÇÃO DE UM GRUPO MISSIONÁRIO

Formar um grupo missionário na paróquia é uma forma de ajudar a concretizar as exigências da paróquia Missão ou da sua vocação missionária, evangelizadora.

Como fazê-lo? Vários modos possíveis…
1. Sensibilização do pároco acentuando o envolvimento paroquial do grupo e como isso poderá fazer suscitar em alguns leigos um maior empenho na sua comunidade, como catequistas, cantores, vicentinos, etc. Importante referir o exemplo de alguma paróquia próxima.
2. Por convite do pároco ao povo…
3. Duas ou três pessoas que se interessam pela Missão e se propõem convidando outras pessoas.
4. Pela passagem, testemunho e interpelação de um missionário ou missionária durante uma celebração, pregação ou jornada missionária.
5. Por testemunho de um grupo missionário já existente numa paróquia vizinha e que informa o pároco e se propõe ajudar á criação de um novo grupo.

Pedagogia possível:
1. Anunciar um primeiro encontro de informação geral sobre a Missão da Igreja. Talvez o fim de uma celebração eucarística, na qual, alguém fez o apelo à participação e interesse pela Missão.
2. Nesse encontro, breve porque as pessoas acabaram de sair de uma celebração, é importante: apresentar-se e apresentar os objectivos de um grupo missionário, nomeadamente informação, formação, partilha e oração; propor um encontro num dos dias seguintes para aqueles que desejarem formar esse grupo.
3. Nessa reunião definir: regularidade das reuniões; animador, secretário e tesoureiro; esquema habitual da reunião; contactos de ligação, algum livro ou subsidio para ajudar na reunião, eleição dos responsáveis do grupo e escolha do dia habitual da reunião. Comunicar ao pároco.
4. Tudo isto deve ser “regado” com oração, canto e invocação ao Espírito santo.

Esquema possível de reunião, com três momentos:
1. Oração: um canto ou um texto bíblico ou o terço missionário…
2. Formação/informação: leitura e comentário de um texto sobre a Missão, os leigos, etc.
3. Acção: Que actividades vão ajudar a tornar a nossa paróquia mais missionária? Actividades de tipo litúrgico: oração, cartaz, canto, ao domingo, uma vez por mês? Actividades de tipo educativo: presença na catequese das crianças; jornal de parede sobre a Missão e os missionários; divulgação da imprensa missionária; campanhas de rua ou de porta em porta?

Numa reunião é sempre importante programar para poder realizar bem mas também é importante avaliar para poder fazer melhor no futuro. Mas muito importante também é por um lado “meter” o pároco ao barulho e, por outro, informar a comunidade da vida e actividades do grupo.

Foto: JCF

quarta-feira, 2 de julho de 2008

MISSÃO QUE É JUSTIÇA E PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO

O documento conciliar sobre a Igreja no mundo contemporâneo (Gaudium et Spes) começa por uma frase típica e determinante para a Missão da Igreja no nosso tempo. “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo: e não há realidade verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”
É o homem concreto, vivendo num mundo de desigualdades sociais, vítima de injustiças, de exclusão e de exploração que vai inspirar e orientar a missão da Igreja. É a situação gritante dos povos subdesenvolvidos e explorados nas suas matérias-primas, continuando a alimentar os países ricos e a sua indústria poluidora do ambiente que merece a atenção da Igreja.

A missão reveste cada vez mais o rosto da justiça social e da construção de uma paz justa e duradoira, da cultura da não-violência, da defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana.

O anúncio do Evangelho passará pela promoção de um desenvolvimento sustentado, de novas formas de solidariedade, da abertura de um espaço cada vez maior para a pessoa e para as relações humanas, gratuitas, não instrumentalizadas. É o desafio dos valores da pessoa, dos gestos sem retorno, da construção de comunidades à escala humana.

Ser cristão hoje implica acreditar no testemunho da sobriedade e da pobreza, dos valores do Evangelho, que resistem ao tempo, na ascese e na simplicidade de vida, na preocupação pela defesa do ambiente e até na reciclagem dos produtos.

A missão passa hoje pela salvaguarda dos direitos da pessoa, da igualdade de todos os seres humanos, sem distinção de sexo ou categoria social, nomeadamente pela afirmação dos direitos da mulher, das minorias, das crianças e dos deficientes. A missão preocupa-se com a luta pelos direitos do ambiente e a defesa da qualidade de vida.

Vivemos um tempo de grande sensibilidade aos valores regionais, ao amor à terra, à diversificação de culturas e religiões. Por isso o diálogo inter-religioso e inter-cultural, a descoberta dos valores das outras religiões e o respeito por todas as culturas são hoje um caminho obrigatório para o anúncio do Evangelho.

O mundo da mobilidade, dos emigrantes, dos deslocados e dos refugiados lança sem dúvida novos desafios à missão da Igreja. A missão torna-se peregrina, inscreve-se nessa caravana de gente à procura de um futuro melhor e levanta a sua tenda no acampamento dos seus sonhos e esperanças.


Foto: Lusa