sexta-feira, 29 de outubro de 2010

REDESCOBRIR A MISSÃO (Conclusão)


AE - Quais são os âmbitos e os protagonistas desta “Nova Evangelização”.

AC - O assunto é de fundo. Evangelizar não pode ser um luxo de alguns. Tem de ser normalidade para todos. É preciso tomar consciência de que é toda a Igreja que é missionária, e que, portanto, ser cristão implica necessariamente ser missionário. Que o cristão não necessita de outra vocação para ser missionário: basta a vocação que tem. Que «cristão» e «missionário» não identificam duas figuras distintas nem duas vocações distintas, mas são qualificações incindíveis do discípulo de Jesus. Que ninguém pode pensar que se pode ser, em primeiro lugar, cristão, e depois, se se sentir chamado e se quiser, vir também a ser missionário. Para o cristão, ser missionário é a sua maneira de ser, a sua identidade, a sua graça, é uma necessidade, é de fundo e não um adereço facultativo. A sua referência permanente é Jesus Cristo, e o seu horizonte são todos os corações.

Se é assim, então, como já acima referi, já não basta converter ou reconverter as estruturas pastorais de que dispomos. É mesmo necessário e preliminar que comecemos por nos convertermos nós ao estilo de Jesus, ao como de Jesus. Se não voltarmos a ser pobres, simples, humildes, despojados e felizes como Jesus e os seus Apóstolos e discípulos directos, não seremos credíveis. É neste ponto preciso que tem fracassado a chamada “Nova Evangelização”, de que já se vem falando há mais de 25 anos.

O Papa Bento XVI, posto perante a crescente descristianização de muitas das Igrejas de antiga tradição cristã, anunciou na Homilia das I Vésperas da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, Celebradas na Basílica de São Paulo Fora de Muros, na tarde de 28 de Junho de 2010, a criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, e, em 30 de Junho de 2010, confiou a sua Presidência ao Senhor Arcebispo Salvatore Fisichella. Na Homilia acima referida, Bento XVI apontou como tarefa fundamental do Novo Conselho Pontifício «Promover uma renovada evangelização nos países onde já foi feito o primeiro anúncio da fé e estão presentes Igrejas de antiga fundação, mas que estão a viver uma progressiva secularização da sociedade e uma espécie de “eclipse do sentido de Deus”, que constitui um desafio a encontrar meios adequados para repropor a verdade perene do Evangelho de Cristo». Todos esperamos que esta iniciativa seja uma oportunidade ganha. Pessoalmente espero que não enveredemos apenas por reformas técnicas e iniciativas exteriores, mas que se aponte verdadeiramente ao essencial. E o essencial é a conversão pessoal, uma vida pobre, desprendida, simples e feliz, com Jesus, como Jesus, ao estilo de Jesus e dos seus Apóstolos e Discípulos directos. O modo contará mais do que a técnica e o conteúdo. E é evidente, impõe-se, dadas as circunstâncias, que se crie uma verdadeira rede de evangelizadores evangelizados, que envolva a Igreja inteira: Bispos, padres e fiéis leigos. E estes últimos terão certamente um papel determinante neste belo trabalho de amor.

AE - Como devem ser lidas as novas modalidades de missão, como o voluntariado missionário, mais limitadas no tempo?

AC - Eu leio-as como verdadeiros dons de Deus à sua Igreja. Já se sabe que esta rede de juventude que estará em contacto com mundos e modos novos de viver a vida e a fé, não irá, em primeiro lugar, ensinar ou fazer muita coisa, dada a escassez de tempo, ainda que seja muita a vontade. Irá sobretudo ser afectada por situações de pobreza e de miséria impensáveis. Mas também de simplicidade, fé verdadeira, e de alegria que vem não se sabe de onde. Irão contactar com o milagre! Irão ser contactados por Deus! É aqui que pode começar uma maravilha que ainda não tinham descoberto, talvez a pérola escondida e encontrada do Evangelho, que tem marcado a vida de muitos e que continuará seguramente a marcar a vida de muitos outros! A vida de muitos destes jovens nunca mais será como dantes. Demos graças a Deus por estas oportunidades de graça que concede à sua Igreja.

Texto: Agência Ecclesia

Foto: JCF

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

REDESCOBRIR A MISSÃO (III Parte)


Novos campos para a evangelização

AE - Como conciliar os novos campos de missão com a tradicional dinâmica de partida rumo a outros países, para anunciar o Evangelho a quem nunca o escutou?

AC - Se o mandato de evangelizar todas as pessoas constitui a missão essencial de toda a Igreja, então a missão tem de ser o horizonte permanente e o paradigma por excelência de toda a dinâmica e empenhamento pastoral, enervando os nossos programas pastorais. E o partir em missão, numa Igreja local que se assume como sujeito primeiro da missão, permanece como paradigma do compromisso missionário da Igreja, que assim vive e manifesta a sua solicitude por todas as Igrejas. Ao contrário daquilo que os pressupostos que parecem presidir à pergunta possam dar a entender, a missão ad gentes não empobrece a Igreja local, mas «renova-a, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. A fé fortalece-se, dando-a», de acordo com as palavras luminosas de João Paulo II, na sua Carta Apostólica Redemptoris Missio (7 de Dezembro de 1990), n.º 2. É outra vez o estilo que é decisivo. A missão ad gentes não é tanto uma maneira de demarcar espaços a que haja que levar o primeiro anúncio do Evangelho, mas é mais o modo feliz, ousado, pobre, despojado e dedicado de o cristão sair de si para levar Cristo ao coração de cada ser humano, seja quem for, seja onde for. É este estilo, esta maneira de ser, que deve informar cada cristão e todas as comunidades cristãs.

As consequências práticas para a vida eclesial e paroquial são profundas e intensas, requerendo uma nova sensibilidade evangelizadora obrigatória e não arbitrária. Antecipando-se a previsíveis dificuldades e reservas, alertou bem o Papa João Paulo II que nenhuma Igreja particular, de antiga ou de recente tradição, «se deve fechar em si própria», adiantando logo que «a tendência para se fechar em si próprio pode ser forte». E, no que se refere às Igrejas antigas, advertiu que, «preocupadas com a nova evangelização, podem ser levadas a pensar que agora devem realizar a missão em casa, correndo assim o risco de refrear o ímpeto para o mundo não cristão, sendo pouca a vontade de dar vocações aos Institutos Missionários». A estas Igrejas, o Papa lembra que «é dando generosamente que se recebe» (Redemptoris Missio, n.º 85). E a Congregação para o Clero, na sua Instrução Postquam Apostoli (25 de Março de 1980), n.º 14, já tinha advertido que «a Igreja particular não pode fechar-se em si mesma, mas, como parte viva da Igreja Universal, deve abrir-se às necessidades das outras Igrejas. Portanto, a sua participação na missão evangelizadora universal não é deixada ao seu arbítrio, ainda que generoso, mas deve considerar-se como uma lei fundamental de vida; diminuiria, de facto, a sua energia vital se, concentrando-se unicamente sobre os próprios problemas, se fechasse às necessidades das outras Igrejas». E o Papa Bento XVI acaba de nos advertir, na Homilia da Santa Missa celebrada na Praça dos Aliados (Porto), em 14 de Maio de 2010, que «nada nos dispensa de ir ao encontro dos outros», pelo que «temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro», lembrando-nos ainda que isso «seria morrer a prazo, enquanto presença da Igreja no mundo, que, aliás, só pode ser missionária».

Portanto, nenhuma dificuldade de conciliação. Antes, a missão ad gentes potencia e renova a Igreja inteira em todos os aspectos.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto: Agência Ecclesia

Foto: JCF

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

REDESCOBRIR A MISSÃO (II Parte)

AE - Que dinâmica se pretende gerar com o conceito de Centro Missionário Diocesano?

AC - Pretende-se ajudar a tornar normal aquilo que tem sido considerado excepcional. Normal é anunciar o Evangelho ao estilo de Jesus. Normal não é, como se tem pensado e ainda se continua a pensar, formar os cristãos numa certa doutrina e para uma certa prática da vida cristã, verificada pela frequência dos sacramentos, mormente pela chamada «prática dominical». Note-se que se tem feito e se está a pensar continuar a fazer deste ponto o barómetro da vida cristã e católica no nosso país. Na verdade, a nossa identidade, aquilo que nos deve identificar, a nossa graça, aquilo que é sempre primeiro e que nunca pode ser segundo é anunciar o Evangelho ao estilo Jesus e no seguimento de Jesus. Isto supõe uma reviravolta no itinerário de toda a formação cristã, que deve ser missionária desde o início, e não apenas nas suas últimas etapas, em jeito de conclusão. Neste sentido, na sua Mensagem para o 83.º Dia Missionário Mundial (18 de Outubro de 2009), o Papa Bento XVI lembrou «às Igrejas antigas como às de recente fundação» que «a missão ad gentes deve ser a prioridade dos seus planos pastorais», como já tinha lembrado, na Mensagem para o 82.º Dia Missionário Mundial (19 de Outubro de 2008), citando o Decreto Ad Gentes, n.º 38, que o «seu compromisso [dos Bispos] consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana».

Se a Igreja particular, com o seu Bispo à cabeça, é o sujeito primeiro da missão, ao Centro Missionário Diocesano, instituído pelo Bispo Diocesano, competirá ajudar o Bispo a dinamizar e sensibilizar missionariamente toda a Diocese, de modo a manter alta a consciência missionária e a efectiva capacidade evangelizadora de toda a comunidade diocesana. As competências deste Centro derivam, portanto, das atribuições que lhe forem confiadas pelo Bispo. Mas é fácil ver que a sua influência se pode fazer sentir em todos os âmbitos da formação, acolhimento, partilha e entreajuda, comunhão e comunicação entre as Igrejas, ajudar a dar a conhecer e a manter vivos no terreno o espírito e a acção das Obras Missionárias Pontifícias, promover a celebração e vivência do Dia Missionário Mundial e do Dia da Infância Missionária, bem como do Outubro Missionário, manter vivos os Grupos Missionários Paroquiais ou Inter-Paroquiais, dar a conhecer e sensibilizar à participação em iniciativas de formação missionária já existentes a nível nacional, tais como o Curso de Missiologia e as Jornadas Missionárias. Deste Centro devem fazer parte membros dos Institutos Missionários e Religiosos presentes no espaço diocesano, mas também Padres e fiéis leigos diocesanos.

AE - Esta iniciativa já está lançada na Arquidiocese de Braga. Como tem decorrido esta experiência?

AC - É verdade que a iniciativa já está lançada em Braga. Houve um primeiro encontro do Senhor Arcebispo com o Delegado Arquidiocesano das OMP e representantes dos Institutos Missionários, em que ficou decidido avançar para a formação do Centro Missionário Arquidiocesano de Braga. Seguiu-se depois outro encontro mais alargado com a minha presença em representação do Senhor Arcebispo, em que se definiu a forma de composição deste Centro, com pessoas a indicar pelos Institutos Missionários e pela Arquidiocese. A próxima reunião será para confirmar a constituição do Centro e definir os principais caminhos a trilhar. Só a partir de então, o Centro assumirá funções efectivas.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto: Agência Ecclesia

Foto: JCF

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

REDESCOBRIR A MISSÃO


D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal para as Missões, aborda a actualidade missionária em Portugal, destacando a dinâmica que se quer imprimir a partir da carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal».

Missão ad gentes não é tanto uma maneira de demarcar espaços a que haja que levar o primeiro anúncio do Evangelho, mas é mais o modo feliz, ousado, pobre, despojado e dedicado de o cristão sair de si para levar Cristo ao coração de cada ser humano, seja quem for, seja onde for.

É assim que D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal para as Missões, aborda a actualidade missionária em Portugal, destacando a dinâmica que se quer imprimir a partir da carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal».

Agência ECCLESIA (AE) - Num contexto de progressiva secularização, recentemente recordada pela CEP e pelo próprio Papa, agudiza-se a necessidade de uma “primeira evangelização” em Portugal?

D. António Couto (AC)- A evangelização é sempre “primeira”. E só sendo “primeira”, é verdadeira. E “primeira” significa aquela que Jesus mandou fazer aos seus Apóstolos e discípulos, ao estilo de Jesus Bom Pastor, pobre e humilde, sem ouro, nem prata, nem cobre, nem duas túnicas, totalmente devotado ao Pai e às suas ovelhas, todas suas, quer as que estão perto quer as que estão longe ou andam perdidas, sem olhar às etiquetas do mundo de então. É esta Evangelização que a Igreja tem sido sempre chamada a fazer, ao estilo de Jesus, e não pode deixar de fazer, sob pena de se desdizer, perdendo a sua identidade. Disse-o bem o Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de 8 de Dezembro de 1975, n.º 14: «Anunciar o Evangelho constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar». A recente Carta Pastoral da CEP leva o título significativo de «Como Eu vos fiz, fazei vós também». Aquele como inicial é determinante para nos agrafar, não só ao fazer de Jesus, mas ao modo como Ele faz. É claro. Já não basta converter ou reconverter estruturas pastorais. É mesmo necessário e preliminar que comecemos por nos convertermos nós ao estilo de Jesus, ao como fazer de Jesus. Portanto, para um cristão e para a Igreja, a evangelização tem de ser sempre “primeira” em qualquer tempo e em qualquer lugar. Nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se lhe pode antepor. Ela é a nossa graça, a nossa maneira de ser.

A forma como a pergunta está formulada pode deixar supor que há outras maneiras de se ser cristão e de viver em Igreja. E que só agora, nesta «noite do mundo», em que vemos o chão a fugir-nos debaixo dos pés em Portugal e em toda a Europa, é que se torna necessário lançar mãos da “primeira evangelização”. Esta suposição pode levar a pensar que a referida “primeira evangelização” é uma coisa excepcional a usar só em situações excepcionais. Raciocínio viciado. A “primeira evangelização” ou a “evangelização primeira” ou “primeiro” é a normal, quotidiana maneira de ser da Igreja e do discípulo de Jesus. O tempo em que vamos requer lucidez e determinação. Reconhecer que não temos cumprido a nossa missão de evangelizar como Jesus nos mandou é um dado que se nos impõe. Bater com a mão no peito por nos termos acomodado e afastado do estilo de Jesus é decisivo. Pusemos, entretanto, muitas coisas entre nós e Jesus. Mas uma só coisa é necessária! E não há “evangelização requentada”!

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto e foto: Agência Ecclesia

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

IRMÃ LURDES FARINHA, FRANCISCANA MISSIONÁRIA DE MARIA – AO RITMO DE S. FRANCISCO E DOS TEMPOS QUE CORREM - Conclusão


Katepa, em Malanje

Katepa, em Malange, era uma missão de risco. Foi lá que a Irmã Lurdes fez o seu baptismo de Missão em África: ‘O tentar entrar na cultura deste povo e na sua forma de expressar a sua fé, fez-me caminhar numa linha de acolhimento, de tentar partir da sua vida concreta, para com eles, abrir caminhos de desenvolvimento e de solidariedade’. Em tempo de fome, o seu trabalho na Caritas permitiu-lhe acolher os mais pobres. A Alfabetização de adultos também a ajudou a entrar na alma deste povo mártir.

De Benguela a Luanda

Dali seguiu para Benguela como Mestra de Noviças, mudança que lhe custou muito: ‘Foi um momento de turbulência interior. Era para mim difícil de entender a Formação como missão importante e fundamental. Era mais fácil e gratificante o trabalho com o povo simples das aldeias ou com o trabalho directo da CÁRITAS. Por outro lado, sentia-me já à vontade na Missão. Conhecia já o povo, a sua maneira de ser e de se expressar...Partir, novamente? Recomeçar?’.

Benguela acolheu-a seis anos. O compromisso na Formação das futuras FMM não lhe impediu um intenso trabalho pastoral na Missão da Nazaré, confiada aos Espiritanos. Foram tempos tão ricos como difíceis. A Formação e a Pastoral encheram-lhe o coração, mas a situação em que vivia o povo apertava-lhe a alma: ‘Vivíamos tempos difíceis de guerra ou com as suas consequências. Era necessário apelar à construção da paz, de deixar o desejo de vingança, de apelar à vivência do valor do perdão, da aceitação do outro como irmão, independentemente da sua tribo, raça ou condição social’.

Luanda acolheu a irmã Lurdes, 2 anos, num trabalho mais voltado para a juventude e de formação no Centro Catequético e Juvenil do Centro da Luz - na Paróquia de N. Sra de Fátima.

Missão em Portugal

Outro envio a esperava: de Angola para Portugal, parando em Barcelos: ’trabalhei no Internato com crianças e jovens com situações familiares e sociais muito complicadas e no economato da obra. Ao mesmo tempo, frequentei a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, em Braga, para um tempo de reciclagem, fazendo a Licenciatura em Orientação Educativa’.

De Barcelos passou à Gafanha da Nazaré e daqui ao Porto onde seria surpreendida pela eleição para Superiora provincial, cargo que exerce a partir de Lisboa. É um elo de comunhão com mais de 6 mil Irmãs de 80 nacionalidades, a trabalhar em 76 países nos 5 continentes. Sobre Portugal, explica: ‘somos 203 Irmãs, em 26 comunidades, trabalhando desde as pequenas inserções paroquiais até às grandes obras de índole educativo/social’.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão
Foto: JCF

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

IRMÃ LURDES FARINHA, FRANCISCANA MISSIONÁRIA DE MARIA – AO RITMO DE S. FRANCISCO E DOS TEMPOS QUE CORREM


Nasceu na Sertã, mas Lisboa abriu-lhe os horizontes à Missão. Malanje, Benguela e Luanda são terras que, em plena guerra civil, percorreu com um povo que sonhava com a paz mas era espezinhado pela máquina (da guerra) Barcelos, Gafanha da Nazaré e Porto foram espaços de compromisso com os mais pobres. É a Superiora Provincial de uma grande Família Religiosa Missionária que sente o coração a bater ao ritmo de S. Francisco e dos tempos que correm.

Da Sertã a Angola

A Irmã Lurdes nasceu na Sertã. Conheceu as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria (FMM) que viviam em Vila de Rei onde escutou o testemunho da Irmã Aninhas, que foi Missionária em Angola: ‘Pessoa muito feliz, simples, muito jovial e muito alegre. O seu testemunho ecoou bem fundo dentro de mim’. Foi o primeiro passo de um longo caminho que a levou até Lisboa onde, a 1 de Maio de 1982, iniciou o Noviciado que lhe abriria, em definitivo, as portas da sua consagração missionária para toda a vida. Professou em 84 e foi enviada para a Comunidade de Alcains, fazendo o Curso de Magistério Primário em Castelo Branco. Depois foi até Venda Nova – Montalegre, dando aulas numa aldeia de Ribeira de Pena e estando ao serviço da Evangelização, como comunidade - em - missão.

A chegada a Luanda

Queria partir e Angola surgiu-lhe na linha do horizonte em 1989, em tempo de guerra civil. Chegou a Luanda: ‘A experiência missionária foi muito forte. Foi uma etapa de muitos porquês e de muitas interrogações. Impressionava a fome, a miséria, a dor, a guerra e, ao mesmo tempo, a alegria extasiante, a esperança constantemente anunciada, o sentido profundo de acolhimento dum povo paciente à espera do novo dia da Paz’.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST....)

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão

Foto: JCF

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CENTRO MISSIONÁRIO ARQUIDIOCESANO DE BRAGA (CMAB)


Realizou-se nos Serviços Centrais da Arquidiocese, no passado Sábado, 9 de Outubro, a quarta reunião para a criação do Centro Missionário Arquidiocesano de Braga com a presença do Padre Manuel Lobato, responsável arquidiocesano do Departamento da Missões, o Sr. D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal para as Missões e Bispo auxiliar de Braga, delegados dos Institutos Missionários Ad Gentes presentes na Arquidiocese e leigos representantes dos leigos agregados aos movimentos que se identificam com a espiritualidade destes Institutos e outros leigos da acção pastoral da Arquidiocese.

A reunião começou com a recitação-oração do salmo 116 de Laudes do dia, “Louvai ao Senhor, todas as nações, aclamai-O, todos os povos”, seguindo-se , como reflexão, por D. António Couto, a leitura hagiográfica do Ofício de Leitura do dia, “Das Homilias de S. Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos”, do sec. VI, que está na linha da Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal» no seu nº 3: ‘Dado o crescente pluralismo cultural e religioso, aliado a uma onda de secularização e individualismo e a um crescente relativismo e indiferença, já não são os campanários das igrejas que marcam o ritmo da vida das pessoas. O Evangelho de Jesus Cristo é cada vez menos conhecido. E para uma parte significativa daqueles que dizem conhecê-lo, é notório que já perdeu muito do seu encanto e significado. Este cenário é preocupante e pede, com urgência, à Igreja presente na cidade dos homens uma nova cultura de evangelização, que vá muito para além de uma simples pastoral de manutenção.’

Tendo presente o nº 16, ‘a Igreja universal incarna nas Igrejas particulares ou locais’ e como ‘a Igreja local é o sujeito primeiro da missão, deve ter o seu centro na comunicação da fé e no primeiro anúncio como sinal da sua fecundidade e fidelidade à sua própria origem e nascimento histórico: Igreja em estado de missão, «Igreja-Missão», como lhe chamou maravilhosamente Bento XVI’, o nº 18 a dizer ‘com a Igreja local a assumir-se como sujeito primeiro da missão, os Institutos Missionários não passam para a margem, mas continuam bem no centro, assumindo o seu compromisso missionário ad vitam como um dom que pertence a toda a Igreja, e, concretamente à Igreja particular em que professam, celebram e vivem a sua fé…, bem inseridos no coração das Igrejas locais, devem contribuir para fazer chegar a animação missionária às estruturas fundamentais do povo de Deus, que são as dioceses e paróquias, ajudando a dar corpo à intenção formulada por João Paulo II de que é preciso «inserir a animação missionária como elemento fulcral na pastoral ordinária das dioceses e paróquias, das associações e grupos, especialmente juvenis»’, com o nº 20 a recomendar ‘para se dar à animação e cooperação missionária o lugar a que têm direito, torna-se necessário fazer surgir também na Igreja portuguesa Centros Missionários Diocesanos (CMD) e Grupos Missionários Paroquiais (GMP), laboratórios missionários, células paroquiais de evangelização, que, em consonância com as OMP e os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missão universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã’ e o nº 21 a concluir ‘aconselha-se vivamente que o CMD seja constituído em todas as Dioceses de Portugal’ onde ‘devem convergir todas as forças missionárias a operar na Diocese, integrando sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos’ porque, escreve-se no nº 23 citando o Papa Bento XVI na Homilia no Porto em Maio passado, «temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro», pois «seria morrer a prazo, enquanto presença da Igreja no mundo, que, aliás, só pode ser missionária», entrou-se então na formação da equipa que constituirá o CMAB com os seguintes elementos:

— 4 diocesanos: Pe. Manuel Lobato (director diocesano das OMP - Obras Missionárias Pontifícias - e membro do Conselho Nacional das Missões), um sacerdote diocesano e dois leigos integrados na pastoral diocesana;

— 4 dos Institutos Masculinos presentes na Arquidiocese: um da Congregação dos Missionários do Espírito Santo, um da Congregação do Verbo Divino, uma leiga representante dos leigos ligados aos Espiritanos e uma leiga representante dos leigos ligados aos Verbitas;

— 4 dos Institutos Femininos: um das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, um das Irmãs Missionárias do Espírito Santo, uma leiga representante das ligadas às Espiritanas e uma leiga dos Jovens sem Fronteiras.

A equipa logo que completada será apresentada pelo Sr. D. António Couto ao Senhor Arcebispo Primaz para formalizar e oficializar reunindo depois para elaborar o programa de acção.

Tendo sido marcada uma reunião geral da equipa do CMAB com o Sr. Arcebispo Primaz, D. António Couto, todos os Institutos Missionários presentes na Arquidiocese e representantes dos leigos a trabalhar pela causa missionária para o dia 4 de Dezembro, ás 10h00, nos Serviços Centrais da Arquidiocese, de forma a, disse D. António Couto, "tornar a Arquidiocese missionária e missionários todos os diocesanos".

Texto: Pe. Manuel Joaquim Sousa Lobato - Director Diocesano das Obras Missionárias Pontifícias - Braga

Foto: DR

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MARGARIDA ALVIM, REDE FÉ E DESENVOLVIMENTO: DA ENGENHARIA FLORESTAL AO COMBATE À POBREZA - Conclusão

...à Rede Fé e Desenvolvimento

Surgiu um novo desafio: trabalhar à distância com a Fundação Evangelização e Culturas (FEC), dando início da Rede Fé e Desenvolvimento, um projecto apoiado pela Campanha do Milénio das Nações Unidas, que pretende sensibilizar e mobilizar a Igreja Católica para as questões do desenvolvimento, actuando no mundo e em diálogo com as outras confissões religiosas e restante sociedade civil: “Este trabalho, para além de me ter permitido a conciliação com a missão em casa, contribui, mais uma vez, muito para o meu próprio desenvolvimento, como cidadã e como crente. Só tenho a agradecer a Deus e à FEC esta oportunidade”.

O local e o global...

Considera que os seus compromissos actuais a equilibram na vida: “A Rede Fé e Desenvolvimento transporta-me para o Mundo, o trabalho que agora tenho numa pequena empresa florestal põe-me os pés na terra. Desenvolvimento global e local estão assim cozinhados em mim. E quando estou com todos os pequenos proprietários, na sua generalidade já idosos, queixando-se do abandono generalizado da nossa terra onde já não compensa produzir nada, e da forma como se sentem excluídos das ajudas agrícolas (porque a elas não conseguem aceder, pela sua pequena dimensão e falta de formação) e impotentes perante problemas tão graves como os incêndios florestais, oiço um eco em todos aqueles que nos países tão mais pobres que o nosso estão também excluídos, sem segurança alimentar, sem acesso aos mercados, à educação e saúde básica. Ajudar e descobrir parcerias locais, associações, tem eco nas parcerias globais para o desenvolvimento que os ODM pedem. O desequilíbrio na distribuição da riqueza existe lá e também cá, e o Evangelho de Jesus põe o dedo nesta ferida. Por isso, ser seguidor de Cristo é fazer esta Missão nossa, a de fazermos com que todos os homens tenham direito a desenvolver-se…e isso passa pelo nosso próprio desenvolvimento”.

A Igreja em voz alta...

A Margarida acredita que a missão da Rede Fé e Desenvolvimento lança desafios à Igreja: “Ela deve ter uma voz mais activa e forte no exercício da sua cidadania. Porque tem autoridade para o fazer, porque faz parte da sua Missão e porque como crentes, temos a obrigação acrescida de intervir na construção de uma sociedade mais justa, e isso passa pelo acompanhamento das políticas, pela acção, pela sensibilização, pelo desmascarar injustiças, pelo fazer pontes”.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão

Foto: JCF

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

MARGARIDA ALVIM, REDE FÉ E DESENVOLVIMENTO: DA ENGENHARIA FLORESTAL AO COMBATE À POBREZA


Engenheira Florestal, dirige a Rede Fé e Desenvolvimento que ajuda a Igreja e a sociedade a perceber a importância dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM), em que os Governos sem comprometem a reduzir a pobreza do mundo para metade até 2015. A Rede preparou e acompanhou por dentro a Cimeira da ONU para a avaliação dos ODM, que se realizou esta semana em Nova Iorque.

Com a Família...

Nasceu em Ourém, duma família cristã, poucos dias após a Revolução de 1974. Ali viveu até aos 18 anos, quando veio estudar para Lisboa. Licenciou-se em Engenharia Florestal.

A sua primeira grande missão foi em família, acompanhando os pais na sua doença: o pai sofreu um AVC e esteve cinco anos hemiplégico; a mãe a doença de Parkinson durante 28 anos. Em Janeiro de 2009, a Margarida despediu-se do trabalho, alugou a casa em Lisboa e voltou a Ourém para acompanhar a sua mãe. Partilha: “Tive a graça de voltar a viver com ela no seu último ano de vida, comungando com ela o já e o ainda não desta nossa caminhada para o Pai, através de Cristo”.

Da Engenharia Florestal...

Quando acabou o curso, entrou no mercado de trabalho: “Exerci directamente a minha actividade como Eng. Florestal durante 8 anos, a maior parte dos quais numa grande empresa, depois de ter passado pela investigação e por uma Associação de Produtores Florestais”.

Mas sentiu que a Missão chamava por ela e aceitou um convite para trabalhar na Fundação Gonçalo da Silveira (uma ONGD dos Jesuítas). Considera esta opção uma graça: “Abriu-me o mundo do desenvolvimento e aprofundei a identidade e Missão da Igreja, e por consequência a minha Missão. O desenvolvimento global abriu-me horizontes e dilatou-me o coração”. Deixaria esta Fundação para regressar a Ourém e tratar da sua mãe.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST...)

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão

Foto: JCF

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

‘PONTE 2010’ EM BELO HORIZONTE – MISSÃO ENTRE PORTUGAL E BRASIL - CONCLUSÃO

Longa preparação, curto projecto

Os JSF contam com o apoio do seu braço solidário, a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’. Os jovens que se candidataram traziam já um bom curriculum na caderneta: estão activos há mais de três anos no Movimento e já realizaram missões em Portugal. O grupo foi eleito em Outubro de 2009 e teve um exigente programa de preparação específica para o projecto.

Os Espiritanos que lá trabalham pediram aos JSF que se preparassem para alguns trabalhos específicos.

Assim, na área da Saúde, trabalharam com os Agentes comunitários da Pastoral da Criança, da Saúde e Social, Vicentinos, grávidas, doentes e carenciados.

Apostaram na formação básica na área da Saúde (pré e pós-natal, familiar…), Higiene e Enfermagem. Elaboração de rastreio (diabetes, tensão arterial, colesterol, massa corporal, etc).

Na área Juvenil, trabalharam com os Jovens e lideranças na área da Paróquia e do Bairro da Glória. Desenvolveram actividades que possibilitem a formação de jovens nas áreas da educação, da saúde, da dependência química, da educação sexual, da cidadania e da ecologia.

Na área da Educação, trabalharam com estudantes (crianças, adolescentes e jovens), jovens em risco, professores e agentes educativos.

Realizaram visitas às escolas para actividades de sensibilização ao nível de cidadania, da edificação de uma sociedade mais justa, humana e solidária, da mundialidade e ecologia. Apostaram no reforço escolar para alunos com mais dificuldades. Concretizaram actividades com as crianças da creche e da escola das Irmãs Dominicanas da Anunciata.

ATL para Crianças e Adolescentes mais necessitados, através de encontros com crianças e adolescentes (até aos 15 anos) mais carenciados de diversas regiões do bairro e paróquia, através da realização de sessões lúdicas e educativas, permitindo abordar diversos assuntos de interesse informativo e formativo.

Na área Pastoral, os JSF Promoveram actividades com a catequese e Jovens. Visitaram aos diversos sectores, onde organizaram momentos de oração, de formação e partilha de experiências missionárias. Participaram nas festas da padroeira da paróquia.

A ‘Ponte’ continua...

Regressaram a 31 de Agosto com um sorriso nos lábios e um povo no coração. A Missão continua em Portugal.


Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão
Foto: DR

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

‘PONTE 2010’ EM BELO HORIZONTE – MISSÃO ENTRE PORTUGAL E BRASIL


Partiram 16 em direcção a Belo Horizonte. Uma paróquia de periferia os acolheu de braços abertos. Foi o projecto ‘Ponte 2010’ com um título sugestivo: ‘Unindo horizontes e(m) Missão’. Foi a 2ª vez que os Jovens Sem Fronteiras pisaram terra brasileira. As restantes 20 edições aconteceram em África, numa história bem longa, iniciada na Guiné Bissau em 1988, quando se abriram as valas para os alicerces na Escola Sem Fronteiras de Caió, em território manjaco. Esta onda de voluntariado missionário não mais parou, até hoje.

N. Sra da Glória

A Paróquia de Nossa Senhora da Glória é pobre, mas muito viva. Encontra-se num bairro de classe média-baixa e baixa que, apesar de ter apenas 3 km2, tem uma população que ronda os 40 000 habitantes. A paróquia é constituída por um aglomerado de casas construídas sem nenhuma ordenação em morros muito íngremes. Para facilitar a sua gestão, foi dividida em 9 sectores.

A população originária da paróquia vem de outras áreas de Minas Gerais, nomeadamente o interior rural.

Ao nível de educação a paróquia é servida de por várias escolas tanto de ensino público como privado. Na paróquia existem também duas infra-estruturas que garantem o ensino pré-escolar a crianças que provém de famílias com menor rendimento, pois o estado não garante esse serviço.

Quanto à saúde, existe um centro de saúde que serve não só o bairro da Gloria, como mais três bairros vizinhos, o centro de saúde não funciona à noite nem ao fim de semana.

Quanto à segurança, nestes últimos anos tem-se verificado um aumento de criminalidade juvenil, muito devido ao aumento de tráfico de droga em algumas áreas da paróquia. O tráfico vem por influência das favelas vizinhas à paróquia, mas também começam a surgir dentro da paróquia pontos controlados por indivíduos de classe média-baixa que também vendem drogas.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST)

Texto e foto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Missão