segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

COM S.PAULO À ESPERA DA VINDA DE CRISTO - Conclusão


Na noite de Natal

Terminamos este caminho do Advento, à volta da mesa, na noite santa de Natal. Em família, proclama-se a Palavra de Deus, acende-se uma vela e depois toda a família reza.

Da escritura

“Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens!” (Tit 2, 11)

“O verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 14) 

Oração

Senhor Jesus Cristo,

Vós sois o Menino que nasceu para nós,

sois o Filho que nos foi dado por Deus Pai.

Nesta noite de alegria,

queremos proclamar que Vós sois o nosso Deus,

sois o nosso Conselheiro Admirável,

sois o Príncipe da Paz!

Vós sois Luz

para todos os povos em trevas,

sois o Salvador

de toda a humanidade!

 

Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 3

Pintura: Josefa d’Óbidos

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

COM S.PAULO À ESPERA DA VINDA DE CRISTO - 3ª Parte


Esperar na Alegria!

3ª semana 

S. Paulo desafia-nos a viver o Advento em alegria constante porque Deus é fiel ao convite que nos dirigiu no Baptismo e cumprirá todas as suas promessas.

A alegria nasce da certeza de que o Ungido do Senhor vem, com a força do Espírito, para curar e libertar, para anunciar e proclamar a notícia de um tempo novo. A minha, a tua alegria, constrói-se em quê?

Com Maria, esperar o Mistério!

4ª semana 

Maria é o rosto da esperança de todo o povo de Israel. Ao longo de séculos, desde Abraão até Maria, Israel aguardou, no meio das alegrias e das derrotas da sua história, a realização da Promessa que Deus tinha feito: uma aliança na qual Ele seria para nós um Pai e nós seríamos, para Ele, filhos. Com Maria acolhamos o Mistério do amor de Deus por todos os homens, que se revela neste nascimento. 

Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 3

Foto: Lusa

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

COM S.PAULO À ESPERA DA VINDA DE CRISTO - 2ª Parte


Esperar pelo testemunho!

1ª semana

 

Na primeira semana do Advento, somos convidados a (re)descobrir os dons que Deus colocou nas nossas mãos. É próprio de todo o dom recebido tornar-se missão: tudo o que Deus nos dá é para partilhar como os outros. Somos convidados a uma esperança activa, por palavras e obras, em cada circunstância (família, emprego, escola, paróquia…) Como diz S. Paulo, “fostes enriquecidos em toda a palavra e em todo o conhecimento para se tornar firme em vós o testemunho de Cristo”. (1Cor 1, 6-7)

 

Esperar com a palavra!

2ª semana

O Advento convida-nos a colocar a nossa vida concreta diante da Palavra de Deus. Quando lemos ou ouvimos proclamar os textos da Bíblia, é o próprio Deus que nos ensina e enriqueces com a sua sabedoria. Somos desafiados a descobrir, no itinerário de fé e de vida das personagens bíblicas, o nosso próprio caminho, na certeza que somos enriquecidos com a Palavra.

Levar a Palavra de Deus é fortalecer a esperança dos homens. Encarnar a Palavra de Deus é dizer que a Palavra do Senhor dá sentido às nossas esperanças, alegrias, trevas e preocupações!

Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 3

Foto: Lusa

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

COM S.PAULO À ESPERA DA VINDA DE CRISTO


Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar.

(Rom 8, 22-25)

Vinde, Senhor Jesus!

Vinde, Senhor!

Vinde ao vosso mundo, na forma que vós sabeis.

Vinde onde há injustiça e violência.

Vinde aos campos de refugiados, em Darfur e em Kivu do Norte e em tantos lugares do mundo.

Vinde onde dominam as drogas.

Vinde também aos ricos que vos esqueceram e que vivem só para si mesmos.

Vinde onde sois desconhecido.

Vinde ao vosso mundo e renovai o mundo de hoje, nossos corações.

Vinde e renovai a nossa vida, para que nós mesmos possamos ser luz de Deus.

Neste sentido rezamos com São Paulo: Jesus!

e rezamos para que Cristo esteja realmente presente hoje no nosso mundo e o renove.

(Bento BVI)

A Igreja diz-nos… 

Eis chegado o tempo tão celebrado e solene que outrora os Patriarcas e os Profetas tão ardentemente desejaram; o tempo que a Igreja sempre tem celebrado solenemente, e que também nós devemos santificar  em todo o momento com fervor, dando graças ao Pai eterno pela infinita misericórdia que nos revelou neste mistério: Ele enviou-nos seu Filho Unigénito, pelo imenso amor que tem aos homens, para nos convidar para o Céu, nos revelar os mistérios do seu Reino, nos mostrar a luz da verdade, nos ensinar o caminho da perfeição, nos enriquecer com os tesouros da sua Graça e, enfim, nos adoptar como filhos seus e herdeiros da vida eterna.

Ao celebrar todos os anos este mistério, a Igreja convida-nos a renovar perpetuamente a memória do amor infinito que Deus mostrou para connosco; e ao mesmo tempo nos ensina que o advento de Cristo não foi apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia nos é comunicada a todos nós, se quisermos receber, mediante a fé e os sacramentos, a graça que nos mereceu, e orientar de acordo com ela a nossa vida segundo os seus mandamentos.

A Igreja espera fazer-nos compreender que assim como Ele veio uma vez, revestido da nossa carne, a este mundo, também está disposto, se não oferecermos resistência, a vir de novo, em qualquer hora e momento, para habitar espiritualmente em nós.

Por isso, a Igreja, como Mãe, ensina-nos durante este tempo, com diversas celebrações, a receber de coração agradecido este benefício tão grande e a enriquecer-nos com seu fruto, de modo que o nosso espírito se disponha para a vinda de Cristo nosso Senhor, com tanta solicitude como se Ele estivesse para vir novamente ao mundo e com a mesma diligência e esperança com que os Patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em palavras com em exemplos, a preparar a sua vinda.

(Das Cartas Pastorais de S. Carlos Borromeu)

Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 3

Pintura: Josefa d'Óbidos - Adoração dos Pastores

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

OS DEZ GRANDES DESAFIOS PARA A MISSÃO DO NOSSO TEMPO - 2ª Parte

6. Vivemos num mundo em que a mulher toma cada vez mais protagonismo na construção da nova sociedade.

Senhor, ajuda-nos a lutar pela igualdade e responsabilidade de todas as pessoas, criadas à tua imagem e semelhança, e abre-nos à diversidade dos ministérios e dos seus agentes.

7. Vivemos num mundo em que se sente cada vez mais a necessidade de um empenho religioso para desenvolver a própria personalidade.

Senhor, ajudai as comunidades de crentes a ter um olhar universal com os horizontes do seu próprio olhar, aberto para aqueles que procuram viver a sua fé noutros espaços diferentes dos nossos.

8. Vivemos numa Igreja Missionária que reconhece a Igreja local como protagonista e foco da irradiação da Missão.

Senhor, ajuda-nos a trabalhar na animação missionária, tanto nas nossas Igrejas de origem como nas Igrejas a que somos enviados, e a fazer delas o ponde de irradiação da Missão.

9. Vivemos numa Igreja em que os leigos assumem cada vez mais o seu papel activo na construção do Reino de Deus.

Senhor, ajuda-nos a intensificar o papel insubstituível dos leigos na tua Missão e a partilhar com eles o nosso carisma e a nossa vocação missionária. 

10. Vivemos numa Igreja em que a Missão é cada vez mais identificada com “Missão de Deus” e só a partir da intimidade com Ele é que nos tornamos seus missionários.

Senhor, ajuda-nos a fazer do nosso compromisso missionário um experiência de fé e um espaço de partilha do teu amor e da tua paixão pela humanidade. 

“Uma rosa não tem necessidade de pregar; basta-lhe comunicar o seu perfume. O perfume é o seu único sermão” (Gandhi, o Evangelho da rosa)

(Fim do Post) 

Autor: ATN

Vida Consagrada

Novembro 2007

Foto: João Cláudio

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

OS DEZ GRANDES DESAFIOS PARA A MISSÃO DO NOSSO TEMPO

1. O número dos que não conhecem Cristo aumenta continuamente.

Senhor, ajuda-nos a olhar para além das fronteiras visíveis da Igreja, tanto nos meios urbanos como nos rurais, tanto no país em que vivemos como nas terras longínquas.

2. Vivemos num mundo em que o fosso  entre pobres e ricos não cessa de crescer; um mundo em que as vítimas da injustiça e da exclusão se alarga cada vez mais.

Senhor, ajuda-nos a ser testemunhas do teu Evangelho, nas margens da sociedade, entre as crianças da rua e entre todas as vítimas da exclusão social.

3. Vivemos num mundo onde a consciência da identidade cultural e os direitos humanos são cada vez mais uma exigência para a salvaguarda da dignidade da pessoa.

Senhor, ajuda-nos a reconhecer a largueza das fronteiras do teu Reino que nos ultrapassam e a presença que nos precede, nos povos e nas culturas que queremos evangelizar.

4. Vivemos num mundo em que as tensões e os conflitos entre as diversas religiões se agravam e em que o fenómeno religioso toma cada vez mais importância na vida social e política.

Senhor, nós acreditamos que o “choque das civilizações e das religiões” não é uma fatalidade; ajuda-nos a abrir o nosso coração ao acolhimento e ao diálogo com as religiões diferentes da nossa. 

5. Vivemos num mundo em que os meios de comunicação social se impõem cada vez mais, criando uma nova cultura.

Senhor, ajuda-nos a fazer da comunicação social uma mesa da tua Palavra, que leve o Evangelho a todos os espaços humanos. 

(Continua no próximo Post) 

Autor: ATN

Vida Consagrada

Novembro 2007

Foto: Lusa

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MISSÃO CRISTÃ: NOVOS PARADIGMAS - (FIM DO POST)


Presenças e ausências

O Congresso missionário exerceu um notável apelo na Igreja portuguesa e reuniu cerca de um milhar de pessoas: muitos membros dos institutos missionários e religiosos, e um grande número de leigos, na sua maioria a eles ligados. Algumas dioceses marcaram presença, com os seus bispos, párocos e membros de grupos de leigos. Os jovens estiveram presentes em grande número, confirmando que o mundo juvenil, do voluntariado e laicado missionários, continua a dar mostras de vitalidade.

As oportunidades para a participação activa dos congressistas na reflexão e aprofundamentos dos temas não foram muitas. Foi sobretudo no ateliê por dioceses que eles puderam reagir mais espontaneamente às temáticas apresentadas e à situação da missão cristã no contexto das paróquias e dioceses. Os momentos de partilha das experiências dos leigos e voluntários alargaram a participação dos leigos e sublinharam o valor do seu testemunho e das suas iniciativas missionárias.

Os participantes representavam mais os institutos missionários e os grupos a eles ligados do que as dioceses. Párocos, grupos paroquiais, a participar neste congresso foram poucos, o que acentuou a distância que existe entre estas iniciativas missionárias (as anuais Jornadas Missionárias e este congresso) e as dioceses e as paróquias. Como encurtar esta distância e interessar mais os párocos e grupos paroquiais pela missão? Como ajudar os institutos missionários a se inserirem mais, com as suas iniciativas de animação missionária, no contexto das igrejas locais e superarem a situação existente de serem força eclesial que fazem um trabalho paralelo, por conta própria? No seu entusiasmo e idealismo, os membros dos institutos missionários, e os grupos de leigos a eles ligados, tendem a responsabilizar as igrejas locais pela sua, delas, falta de interesse missionário, acabam por assumir uma atitude crítica, ecoando as lamentações de sempre, muitas delas à espera de resposta e que, possivelmente ainda não a receberam neste congresso.

O congresso interessou-se pelo laicado e voluntariado missionários promovendo uma «feira do voluntariado», uma exposição sobre os vários grupos e actividades, e sobretudo dedicando uma reflexão de fundo «aos novos espaços dos leigos na missão». A reflexão foi oferecida pela P.e Vaz Pinto, SJ, que, a partir do itinerário percorrido pelos Leigos para o Desenvolvimento, desmascarou as «pseudovocações» (romanticismo, aventureirismo, fugas várias… em que se podem enredar os jovens) e acentuou a necessidade da formação e preparação para a missão, tanto em termos de formação cristã como profissional. O desafio para os leigos é «não partir para criar dependências, mas independências», ajudar as pessoas a serem autónomas, aliando sempre «o serviço da fé com a promoção da justiça».

 

Em termos de participantes, os párocos e as paróquias não foram os únicos ausentes. Grandes ausentes foram igualmente as novas comunidades e movimentos, que são também protagonistas da missão cristã no mundo, ao proporem caminhos novos de anúncio e de iniciação cristã. Os institutos missionários, as dioceses e paróquias tendem a olhá-los com desconfiança, mas tanto o papa actual como o seu antecessor sugeriram uma linha de unidade e diálogo entre os responsáveis eclesiais (bispos e padres), os institutos missionários e religiosos, por um lado, e as novas comunidades e movimentos, por outro. Realizações como esta poderiam ser ocasiões para aprofundar esse desejado diálogo e unidade, em vistas e em nome da missão cristã. Neste congresso de 2008, os movimentos estiveram representados pela presença de um casal dos Focolares, que partilharam o método e os caminhos de anúncio e formação cristã típicos deste movimento.

Pe. MANUEL FERREIRA

Missionário Comboniano

Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)

Foto: João Cláudio Fernandes

(Fim do Post)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MISSÃO CRISTÃ: NOVOS PARADIGMAS - (3ª Parte)


O futuro

Que fica deste congresso? Fica certamente uma rica reflexão teológica e eclesiológica sobre a missão cristã, uma bela experiência de participação eclesial, que, espera-se, os bispos portugueses saibam colher, para reelaborar e oferecer à Igreja em Portugal numa linha de renovação do espírito missionário. A reflexão para fazer as contas e tirar conclusões para o futuro imediato coube a D. Manuel Quintas, até há pouco presidente da Comissão de Missões. Partindo da importância do testemunho e da centralidade da vivência cristã, e valorizando as potencialidades já presentes nas igrejas locais, ele sublinhou a necessidade de «assumir a missão como paradigma da acção pastoral» tanto a nível diocesano como paroquial, de «crescer na comunhão comprometendo-se na missão» e de «criar comunidades com dinamismo missionário». Nas suas conclusões, ele recolheu aspirações familiares aos missionários, que ecoaram mais suma vez neste congresso, como: a formação de grupos missionários nas paróquias, a dinamização dos secretariados missionários diocesanos, a formação missionária dos leigos e dos jovens. Nas suas conclusões ele augurou uma maior colaboração entre os vários protagonistas da missão e sugeriu a criação de «um observatório da missão», uma instância eclesial que seja capaz de acompanhar com espírito missionário e profético o caminho da Igreja e da sociedade.

O Congresso Missionário Nacional 2008 terminou como terminam os acontecimentos desta natureza: com uma reflexão final oferecida pelo presidente da Conferência Episcopal e a Celebração Eucarística no recinto do Santuário de Fátima, presidida pelo patriarca de Lisboa. D. Jorge Ortiga sublinhou a urgência da formação da consciência missionária das pessoas e das comunidades eclesiais e advogou uma «Igreja de rosto missionário» onde todos os membros sejam discípulos e missionários. D. José Policarpo, por sua vez, voltou à mensagem que deixou aos congressistas na abertura: a evangelização não é propriamente um programa, mas, mais bem, uma «loucura de amor que leva a igreja a não desistir de anunciar Cristo, mesmo contra corrente».

Pe. MANUEL FERREIRA

Missionário Comboniano

Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)

Foto: João Cláudio Fernandes

(Continua no próximo Post)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MISSÃO CRISTÃ: NOVOS PARADIGMAS - (2ª Parte)


Caminhos novos

A reflexão sobre a missão cristã hoje no mundo foi levada a cabo no congresso em dois tempos. Num primeiro foram analisados os «novos caminhos da missão», numa reflexão oferecida pela Pe. José Ornelas, actualmente superior-geral dos Sacerdotes Dehonianos. Tratou-se de uma abordagem mais global na qual foi afirmada a universalidade como dimensão constitutiva da Igreja, que se identifica como comunidade depositária de um evangelho que é de, para, todos. Foi naturalmente sublinhada a multiculturalidade e o facto de a Igreja não se poder identificar nem com uma cultura nem com um poder político; e sublinhou-se que a distinção entre países cristãos e não cristãos é hoje insustentável. A multiculturalidade e a deslocação da Igreja para os países do Sul trazem consequências para as igrejas locais do Norte e o desafio de se passar de um eurocentrismo para um mais claro universalismo. Sem, naturalmente, se cair nos extremos de «demonizar» as igrejas do Norte, a enfrentar sinais de crise, ou «idealizar» as igrejas do Sul, a oferecerem sinais de notável vitalidade. Para actuar os novos paradigmas da missão, concluiu o P.e José Ornelas, é necessário partir de Cristo, já que o anúncio é a dimensão central da missão e as outras vêm depois; e partir da igreja local, já que a igreja local é o sujeito da missão e hoje falamos, portanto, de «todas as igrejas para todo o mundo». Neste sentido, o desafio para a igreja local (paróquia, diocese…) é colocar a evangelização no centro da sua vida, e para os missionários é desenvolverem uma missão em comunhão e fraternidade, longe de protagonismos individuais. O regresso da missão à igreja local tem, assim, nos leigos protagonistas de primeira linha, cujos ministérios é necessário promover. O contexto em que as igrejas locais vivem a missão hoje não pode ser outro senão o do diálogo, do respeito e da reciprocidade.

Num segundo momento, coube ao Dr. João Duque, secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé, aprofundar a reflexão teológica sobre a missão. Desenvolvendo o tema «a missão no coração da Igreja» o conhecido teólogo de Braga definiu a missão como «ser a partir de Outro e para o outro», cuja essência é «partir, sair de si para ir ao encontro do outro». Definindo a igreja local como comunidade que existe num determinado espaço e tempo, sublinhou que esta não pode perder a sua universalidade, já que o Deus dos cristãos é um Deus de todos, que envia a todos. Local e universal são duas coordenadas que marcam a vida de cada igreja concreta, chamada a viver uma «universalização localizada» e uma «localização universalizada», a sair de si para ir ao outro, de perto e de longe. O que leva ela para dar aos outros? «Nada, a não ser o facto de ser enviada, o evangelho de quem a envia.»

Pe. MANUEL FERREIRA

Missionário Comboniano

Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)

Foto: João Cláudio Fernandes

(Continua no próximo Post)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

MISSÃO CRISTÃ: NOVOS PARADIGMAS


De 3 a 7 de Setembro passado realizou-se em Fátima o Congresso Missionário Nacional 2008. A colmatar um processo de reflexão e um ano de preparação, a iniciativa pretendeu ser um encontro de Igreja, aberto, um laboratório para pensar e viver a missão cristã hoje, aquém e além fronteiras.

O ponto de partida para o congresso que se propunha «pensar e viver a missão» foi naturalmente uma análise da sociedade e da Igreja em Portugal. A reflexão que começou esta análise coube ao cardeal-patriarca de Lisboa, que falou, na sessão de abertura, sobre «a missão cristã e as incertezas do mundo contemporâneo». Na análise que fazem da sociedade e da Igreja em Portugal, os missionários e as pessoas a eles ligadas tendem a ser algo emocionais, porventura críticos. Por isso, D. José Policarpo não desejou que a sua intervenção fosse vista como crítica das dioceses e do modo com enfrentam a evangelização nos seus territórios e nos seus contextos sociais. As suas palavras, de resto, não se revelaram críticas, mas, mais bem, analíticas da sociedade portuguesa e da sociedade global onde nos inserimos.

Local e global

A intervenção do cardeal-patriarca de Lisboa teve o mérito de fazer ver como a nossa sociedade está condicionada pela sociedade global e pela cultura «plana» que ela promove (o hedonismo, o consumismo, a procura da felicidade aqui e agora) e de ajudar a tomar consciência de que os limites da cultura dominante e a sua falta de certezas (o egocentrismo e o individualismo ético, o ateísmo prático) podem e devem ser vistos, não só como dificuldades, mas também como oportunidades para a missão cristã. O desafio, para esta, é de dar resposta nos momentos cruciais em que a cultura dominante deixa as pessoas sem resposta, é de estar atenta às inquietações do coração humano, de ensinar as pessoas a esperar de novo, depois de experimentarem as desilusões da sociedade e da cultura actuais. Neste sentido, lembrou o cardeal de Lisboa, citando João Paulo II, «evangelizar é sempre remar contra a corrente» e contra muitas resistências… mas algo que vale a pena, essencial para a Igreja. Num outro ponto, mais teológico, a intervenção de D. José Policarpo mostrou como a globalização universaliza as religiões e promove um respeito pelas religiões que as nivela. Neste contexto, o desafio para a missão cristã é redescobrir o carácter único de Cristo, recuperar o sentido de urgência do anúncio cristão e fazer ver a convergência das religiões em Cristo, salvador de todos. 

Analisar e propor

A segunda relação de análise da situação portuguesa coube a D. António Couto, bispo auxiliar de Braga e presidente da Comissão Episcopal de Missões, que falou sobre «as situações ad gentes na Igreja em Portugal». Citando documentos do magistério e de conferências episcopais europeias, o presidente da Comissão Episcopal de Missões falou sobretudo para um público que não estava fisicamente presente neste congresso: os seus colegas bispos, os párocos e responsáveis paroquiais e diocesanos. D. António Couto insistiu na necessidade de conferir ao Cristianismo europeu e português um novo vigor missionário para ajudar os cristãos a sentir e viver a beleza da fé. Ele insistiu nas mudanças de perspectiva (de paradigma) que hoje caracteriza a missão cristã: de uma missão rural para uma missão urbana; de uma evangelização em vistas da salvação das almas e da implantação da Igreja a uma missão que é uma «questão de amor, inadiável e não delegável», que tem na igreja particular o seu sujeito primeiro, que «é fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo». Para ele, a missão não é apenas um empenho pastoral no meio de outros, mas o horizonte e paradigma constante de toda a acção pastoral. A concluir, o bispo responsável pela comissão de missões apontou propostas concretas aos seus colegas e às dioceses, propostas que vão desde a criação dos centros missionários diocesanos e paroquiais para promoverem a evangelização nos seus contextos, à criação de centros de escuta do Evangelho e de formação e responsabilização dos leigos. O rumo que ele sugeriu é de colocar no centro das actividades o primeiro anúncio cristão, a santidade e autenticidade cristãs, entendidas como «capacidade para sair para fora de si, sair por amor para ir ao encontro do outro e da sociedade».


Pe. MANUEL FERREIRA

Missionário Comboniano

Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)

Foto: João Cláudio Fernandes

(Continua no próximo Post)