segunda-feira, 31 de maio de 2010

SER MISSIONÁRIO - #3


Ser missionário é chegar

Uma das dificuldades inerentes à vida missionária está relacionada com a chegada ao destino, pois pode acontecer que o missionário, tendo deixado a sua terra natal, nunca chegue ao seu destino. Assim, diremos que o terceiro passo do caminho missionário é chegar. O missionário que chega é recebido por um povo diferente do seu e aprende a sentir-se em casa na sua nova terra. Neste sentido, será muito difícil alguém ser missionário se não se sentir bem junto daqueles a quem foi enviado. Alcançar esta meta pode levar anos, como relata São José Freinademetz numa carta dirigida à sua família, em Abtei, dando conta, não só das dificuldades e dos sacrifícios que encontrara ao chegar à China, mas também da sua nova atitude depois de já ter vivido sete anos na China: “Garanto-vos honesta e sinceramente que eu amo a China e os chineses e estou pronto para sofrer mil mortes por causa deles. Evidentemente, há sempre a possibilidade de os meus superiores me chamarem para o Seminário na Áustria, como mencionei numa carta anterior. A minha resposta naquela ocasião foi: naturalmente eu serei obediente até à morte, mas o maior sacrifício que me poderiam pedir seria chamarem-me para a Europa. Agora que eu tenho menos dificuldades com a língua e conheço melhor as pessoas e a sua maneira de viver, a China tornou-se não só a minha pátria, mas o campo de batalha no qual um dia tombarei… Tivesse eu de regressar a Abtei, sentir-me-ia lá como um estrangeiro. Já estou na China há sete anos e, se for da vontade de Deus, estou disposto a permanecer aqui setenta ou mais.”[1]

Quando se ama o povo e a terra que nos acolhe, poderemos dizer que uma grande parte do trabalho missionário já está a ser realizado. As palavras de Jesus aos discípulos enviados em missão são, também, a este respeito palavras de sabedoria convidando à inserção plena no meio de quem nos acolhe: “em qualquer casa em que entrardes ficai nela até partirdes dali” (Mc 6, 10).

Um dos problemas que afectam o ser humano é a dispersão. Na verdade, há pessoas que, apesar de muito andarem, nunca chegam a lado nenhum; correm constantemente de um lugar para outro, profissional e afectivamente, de emprego para emprego, de relação para relação. Na Igreja também há gente assim: cristãos que nunca estão felizes com o lugar que ocupam, com o serviço que prestam ou com a função que exercem. O mesmo acontece, às vezes, na vida missionária: há gente em constante movimento. Hoje estão, por exemplo, na Nova Guiné, amanhã no Brasil, depois de amanhã na Nigéria e logo a seguir na China; hoje pertencem a esta comunidade, amanhã àquela e depois a outra. Estes missionários estão em permanente atitude de mudança que pouco ou nada tem a ver com a disponibilidade e o desprendimento evangélicos. A dificuldade em chegar ao destino incapacita-os para criar raízes, aprender a língua e os costumes do povo. Não têm tempo para levar a cabo um trabalho com dedicação, princípio, meio e fim. Quando não se chega verdadeiramente ao destino, não se podem criar raízes, estabelecer laços de comunhão e não se pode amar profundamente o povo a quem Deus nos enviou. A missão pode, mesmo assim, ser mediática, espectacular e até heróica; mas, infelizmente, pouco relevante. É pertinente recordar a este propósito as palavras de Jesus “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc 12, 34). Estas palavras poderão ser relidas no sentido de que enquanto o povo e a terra para onde fomos enviados não for o nosso tesouro, o nosso coração estará sempre ausente.

Todos conhecemos, felizmente, muitos missionários - consagrados e leigos - que conseguiram, não sem esforço e sofrimento, fazer um caminho de aproximação ao seu povo, abandonando as certezas e os hábitos da sua cultura de origem. O missionário deve procurar fazer a sua casa e o seu lar no meio do povo onde trabalha, criando aí raízes. Quem assim vive descobre que a maior riqueza da missão são as pessoas e a melhor obra que se pode deixar atrás é o seu crescimento na comunhão fraterna, na responsabilidade eclesial e no compromisso diário na sociedade.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST...)

[1] Ibidem, 106.

Texto: Pe. José Antunes, SVD

Foto: Tony Neves

quinta-feira, 27 de maio de 2010

SER MISSIONÁRIO - #2


Ser missionário é partir

O envio requer, naturalmente, um segundo passo: partir. “Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia anunciando a Boa Nova e realizando curas por toda a parte” (Lc 9, 6). Este passo, talvez seja o mais doloroso, pois exige deixar a família, os amigos, a segurança adquirida de quem conhece o meio onde se vive, o trabalho a que se está habituado e a carreira profissional. A partida exige uma atitude de desprendimento, à semelhança dos discípulos enviados por Jesus, a quem pede para não levarem nada para o caminho: “nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas” (Lc 9, 3).

John Taylor, um bispo anglicano que, durante muitos anos, foi missionário em África afirma que a missão significa ser enviado e que nós só podemos ser enviados do lugar onde estamos para um outro lugar. Se nós ficarmos onde estávamos antes, das duas uma: ou não fomos enviados, ou então não partimos. Missão, diz ele, é ir para outro lugar. Esse lugar pode não ser apenas um outro lugar geográfico, pode ser também um outro lugar cultural, como por exemplo, ir para o meio de gente que fala com um sotaque estranho ou tem costumes e tradições diferentes dos nossos. Para Taylor, a imagem da caminhada é uma metáfora sempre válida para falar da missão. Partir, caminhar, é o passo crucial, para que o missionário se coloque no lugar do outro e reconheça as próprias limitações, tornando o seu coração dócil ao Espírito de Deus.

Partir exige sair do lugar onde se está habitualmente. Daí que toda a partida tenha uma conotação geográfica. No passado, os missionários partiam da Europa para a África, a Índia ou o Brasil; deixavam o seu país onde tudo era familiar, - o clima, a fauna, a flora, a língua, os costumes, as regras sociais, - e dirigiam-se para outros lugares geográficos regidos por outros climas, outros costumes e outras tradições. Hoje, como no passado, os missionários continuam a partir, já não só da Europa, mas também de outros continentes, sendo normal encontrar, por exemplo, missionários das Filipinas no Ghana, da Índia no Brasil, da Argentina em Angola.

A partida geográfica é sempre dolorosa. Gostaria, a este propósito e como exemplo significativo, recordar as palavras de um grande missionário do Verbo Divino, São José Freinademetz, ao despedir-se da sua pátria para ir para a China, onde permaneceria até ao fim dos seus dias. Na cerimónia de envio missionário em Steyl, Freinademetz disse que ao deixar as montanhas do seu Tirol natal, a partida fora dura e dolorosa, mas em Steyl encontrara uma nova casa. Mais tarde, a caminho da China, passará ainda pelo Tirol para se despedir. Já no barco, que acabava de largar do porto italiano de Ancona descreve, no seu diário de viagem, a emocionante despedida da família, dos amigos e da deslumbrante paisagem alpina: “Já não estamos mais em solo europeu. Que pensamento extarordinário! A pátria, os amigos e os pais ficaram para trás. Eu tinha construído a minha felicidade na minha terra. Nos primeiros passos do meu caminho sacerdotal só rosas cresceram e estava rodeado por um círculo de amigos e companheiros; porém, agora, tenho de me separar de tudo e devo começar tudo de novo num novo mundo, ganhar novos amigos, aprender uma língua nova, de certa forma começar outra vez tudo de novo. O que é que tu fizeste? - Mais exactamente, o que é que tu vais fazer? Tu salvarás almas para o céu! E o meu coração ferido ficou curado!”[1]

A partida para um outro local geográfico implica quase sempre a mudança para um outro lugar cultural. Para trás fica a cultura onde crescemos e onde adquirimos naturalmente toda uma série de hábitos e maneiras de estar, quer imitando o comportamento dos adultos, quer através da aprendizagem. No contexto cultural onde crescemos cada um sabe o papel que tem a desempenhar e como deve agir em todas as circunstâncias. Uma vez que cada ser humano nasce numa cultura específica e fica marcado por ela, partir significa romper com hábitos e com maneiras de agir, de comer e de saudar que julgávamos universalmente válidas. Partir significa, muitas vezes, não poder falar a língua materna, aprender outras formas de articular os pensamentos e expressar ideias e afectos. Só como exemplo vejamos dois excertos de cartas de S. José Freinademetz: “Da minha pessoa não se pode dizer nada de interessante, excepto, talvez, que há três semanas ando vestido de chinês, com meias brancas, calções curtos também brancos, sapatos de cânhamo com solas de feltro, uma toga que me chega aos pés e a cabeça rapada.”[2] Mas não chega a mudança exterior: “A tarefa mais importante está ainda pendente: a transformação do homem interior. O estudo da mentalidade chinesa, dos costumes e usos, do carácter e atitudes, tudo isto não é coisa de um dia, nem de um ano e não se consegue sem alguma dolorosa operação. O que até agora vi, ouvi e vivi está em violento contraste com a maneira de ver e de julgar que tive até agora.”[3]

Partir exige, quase sempre, um processo de aprendizagem social numa outra cultura. Mesmo quando a partida não requer uma deslocação geográfica para outro país pode, todavia, obrigar a uma mudança cultural. Um missionário pode ser enviado para uma zona degradada da grande metrópole, uma aldeia do interior ou para um trabalho concreto com grupos culturalmente distintos da maioria dos seus compatriotas, por exemplo, os jovens, os operários, os sem-abrigo. Se a partida geográfica é dolorosa, a cultural não o é menos; ambas estão cheias de dificuldades e de riscos. Uma pessoa pode ir para longe do país onde nasceu e ser incapaz de apreciar as riquezas das culturas que vai encontrar. Imbuído de etnocentrismo considera a sua cultura como a cultura normativa que quer impor aos outros julgando ser a melhor de todas. A história das missões está, infelizmente, cheia de casos, onde à deslocação geográfica não corresponde a caminhada interior de ir ao encontro de quem é culturalmente diferente. Para ser missionário é necessário partir, sair de si mesmo, abandonar a segurança e o conforto resultantes da família, da sociedade e da Igreja onde se nasceu e cresceu, tendo a ousadia de dar passos em direcção ao outro que fala, pensa, come, veste, vive e reza de maneira diferente da nossa.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST....)

[1] F. Bornemann, As Wine Poured Out: Blessed Joseph Freinademetz SVD Missionary in China 1879-1908 (Rome: Divine Word Missionaries, 1984): 44.

[2] C. Pape e J. Vergara, José Freinademetz: um tirolês que amou os chineses (Lisboa: Verbo Divino, 2003): 87-88.

[3] Ibid: 92.

Texto: Pe. José Antunes, SVD

Foto: Tony Neves

segunda-feira, 24 de maio de 2010

SER MISSIONÁRIO - #1

Ser missionário é ser enviado

Em primeiro lugar, ser missionário é ser enviado. O missionário é enviado por alguém e em nome de alguém, pois ninguém se envia a si próprio. Jesus Cristo foi o primeiro enviado em missão. Enviado pelo Pai para ser a luz do mundo, veio não para condenar o mundo mas para o salvar (Jo 12, 47). Na sua vida e na sua missão cumpriu continuamente a vontade do Pai. Cristo, enviado como Luz do mundo, deu corpo à profecia de Isaías (cf. Lc. 4, 17-19): veio trazer a Boa Nova aos pobres, anunciar a libertação aos prisioneiros, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um tempo de graça do Senhor.

No seguimento de Jesus, o missionário toma, em primeiro lugar, consciência da sua condição de enviado e das consequências daí decorrentes. O enviado coloca-se à disposição de quem o envia para assim poder levar a cabo a tarefa que lhe foi confiada. O missionário não se anuncia a si mesmo, nem substitui a missão que lhe foi entregue por objectivos meramente pessoais, por mais importantes que estes sejam.

Em segundo lugar, devemos perguntar para onde, e para quê, são enviados os missionários. Na linguagem dos evangelhos sinópticos, os discípulos são enviados, por Cristo, a todos os povos (Mt 28, 19). Hoje, como ontem, os missionários de hoje são enviados a toda a gente, sem restrições, pois a messe é da vastidão do mundo. Tal como os primeiros discípulos, os missionários são enviados para dar continuidade à missão de Jesus. No evangelho de São João, Jesus envia os discípulos em missão, no contexto de uma das suas aparições após a Ressurreição e em espírito de paz: “E Ele voltou a dizer-lhes outra vez: ‘A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós’” (Jo 20, 21). Somos, deste modo, enviados como mensageiros da paz e do perdão, chamados a testemunhar - não tanto por palavras, mas pela forma de estar e de viver com os outros, sobretudo com aqueles que nos são estranhos - que Deus veio trazer a alegria e a salvação a todo o mundo. Os evangelhos sinópticos apresentam o envio com outra linguagem: Os discípulos, também num contexto pascal, são enviados para anunciar a Boa Nova, ensinar e baptizar toda a gente (Mt 28, 18-20; Mc 16, 15-18). Estes relatos pós-pascais têm de ser lidos como uma espécie de síntese geral da acção missionária da Igreja primitiva.

As indicações dadas por Jesus durante a sua vida pública, por ocasião da escolha e do envio dos discípulos, são mais precisas quanto aos objectivos da missão: eles são enviados a proclamar que o Reino de Deus está próximo, a curar os enfermos, a ressuscitar os mortos e a expulsar os espíritos maus (Mt 10, 7-8). Todas estas actividades serão mais tarde abrangidas pela expressão “anunciar a Boa Nova.” Os discípulos são enviados para realizarem o projecto libertador iniciado por Deus em Jesus Cristo, continuando a sua obra salvífica, sendo portadores de palavras e de gestos que criam comunhão e promovem a paz e a reconciliação entre as pessoas. Do mesmo modo, são enviados a curar as doenças do corpo e da alma, levando a esperança aos excluídos da sociedade e dos sistemas políticos, económicos e religiosos e congregando-os sob o olhar amoroso de Deus.

Quando, hoje, a Igreja se reúne para celebrar um envio missionário, toma consciência de que aqueles que são enviados não vão em nome próprio, mas em nome da comunidade e em nome de Cristo. Não somos trabalhadores por conta própria. Tais celebrações são uma ocasião excelente para fazer animação missionária. Felizmente, hoje em dia, a celebração do envio de missionários tem lugar nas paróquias às quais pertencem ou às quais estão ligados por laços afectivos e de compromisso apostólico. Através desse acontecimento a comunidade cristã toma consciência de que está a enviar um dos seus membros. Aliás, no seguimento de uma genuína tradição apostólica, toda a comunidade está envolvida no processo do envio. Recordemos, a propósito, esta sugestiva passagem dos Actos dos Apóstolos: “Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: ‘Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.’ Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir” (Act 13, 2-3). Toda a comunidade, atenta à voz do Espírito, é protagonista na selecção e no envio dos missionários.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST....)

Texto: Pe. José Antunes, SVD

Foto: Tony Neves

quinta-feira, 20 de maio de 2010

TERESA PAIVA COUCEIRO, FUNDAÇÃO GONÇALO DA SILVEIRA – VIVER E APOIAR A MISSÃO - Conclusão

Cuamba, com os LD

De compromisso em compromisso chegou o fim do curso e a hora das grandes opções. Avançou para a primeira formação nos Leigos para o Desenvolvimento (LD), mas não partiu logo de seguida. Trabalhou na Fundação Evangelização e Culturas. Seriam os Exercícios Espirituais que lhe deram o empurrão para seguir rumo a Cuamba, lá bem no interior pobre de Moçambique. Foram quatro anos inesquecíveis de intensa Missão que a marcaram para o resto da vida: ‘aqui foram os anos fantásticos - senti-me a conseguir ajudar as pessoas a potenciar o que têm o que sabem e, sobretudo, o que já faziam. Não fui inventar nada, apenas me limitei a por a minha formação académica ao serviço os outros’.

Fundação Gonçalo da Silveira

Regressou a Lisboa e ficou quatro anos, como voluntária, na formação dos Leigos até que surge o desafio da criação da Fundação Gonçalo da Silveira (FGS), uma ONGD para apoiar as missões dos Jesuítas. É a Presidente da Direcção e coordena as Equipas do Apoio ao Desenvolvimento e de Educação para o Desenvolvimento e da Comunicação: ‘a Missão da FGS é contribuir para o pleno desenvolvimento humano, especialmente nos grupos mais marginalizados que vivem em países lusófonos, através do apoio das Missões e também pela sensibilização da opinião pública para uma sociedade mais empenhados em resolver a injustiça e a desigualdade’.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Perfil

Foto: DR

segunda-feira, 17 de maio de 2010

TERESA PAIVA COUCEIRO, FUNDAÇÃO GONÇALO DA SILVEIRA – VIVER E APOIAR A MISSÃO


A Teresa descobriu que é ‘viciada’ em pessoas. Por isso, a sua vida é uma constante preocupação por elas, sobretudo pelas mais excluídas. Daí os quatro anos que esteve no interior de Moçambique, numa Missão dos Leigos para o Desenvolvimento. E como o ‘vício’ continua activo, é o rosto da Fundação Gonçalo da Silveira que apoia as Missões dos Jesuítas nos países mais pobres. Primeiro partiu, depois formou os que queriam partir, agora apoia projectos.

De pequenina...

Nasceu em S. Julião da Barra, licenciou-se em Relações Internacionais na Universidade Lusíada e quis logo partir em Missão. Tudo isto porque é ‘viciada’ em pessoas. Explica: ‘eu Gosto de pessoas!! E por isso mesmo é complicado para mim viver rodeada de pessoas e não assumir as suas alegrias, tristezas, necessidades como sendo também minhas, é algo natural. Mas que foi crescendo, que se foi mostrando na minha vida’.
Foi assim desde muito cedo, quando entrou nas Guias de Portugal aos 6 anos: ‘tínhamos uma série de campanhas de rua em que recolhíamos alimentos e roupa e, depois, íamos entregar a famílias carenciadas de Oeiras. Aqui era tudo muito inconsciente – era a actividade proposta pelas chefes, fazia porque todos faziam, fazia porque me divertia e porque tinha histórias para contar quando chegava a casa. Mas também estudava, jogava ténis, abafava berlindes as meus irmãos e aos meus primos...’. Estas actividades solidárias mantiveram-se nos tempos de Liceu.

O sonho ASUL

A entrada na Universidade Lusíada rasgou novos horizontes à sua Missão. A Teresa faz parte do grupo de cinco jovens que lançou a ASUL (Acção Social da Universidade Lusíada). Este grupo social tinha empenhos muito concretos: ‘visita e explicações às criança do bairro no quarteirão atrás da universidade, visitas aos idosos, ao hospital, … com a ASUL procuramos ter alguma coisa complementar aos estudos e que se pudesse fazer sem implicar deslocações, ou seja, não era ao fim de semana era durante o dia de semana em tirávamos umas horas e fazíamos este serviço. E aqui começa a entrar em força um novo elemento neste meu caminho: O compromisso. O compromisso comigo: digo que faço, tenho que o fazer e bem feito; e o compromisso com os outros, as pessoas que estão à minha espera’.
Foram tempos fortes de dedicação aos mais pobres e que envolveram muitas pessoas: ’começo a ver como estas acções influenciam quem está à minha volta. Na universidade então foi incrível: os próprios professores sentiam-se motivados e mexidos, inquietos. De tal maneira que participavam connosco em algumas actividades que organizávamos. Começa o Banco alimentar e lá vamos nós. Nas visitas que fazia a uma casa de deficientes profundos nas Irmãs do Cottolengo do Padre Alegre, no Lumiar, envolvi a família toda, vínhamos todos ao sábado de manhã….’ – confidencia a Teresa.


Texto: Tony Neves iN Jornal Voz da Verdade - Perfil
Foto: DR

segunda-feira, 10 de maio de 2010

BEM-VINDO SANTO PADRE


As Obras Missionárias Pontifícias dão as boas-vindas a Sua Santidade o Papa Bento XVI que visita o nosso país (Lisboa, Fátima e Porto) de 11 a 14 de Maio.

É com muita alegria que recebemos o sucessor de Pedro. Com ele queremos caminhar e acolher a sua mensagem e os seus desafios. “Contigo caminhamos na Esperança, Sabedoria e Missão!”

Foto: DR

quinta-feira, 6 de maio de 2010

ESPIRITANAS DE PORTUGAL, BRASIL, CABO VERDE E NIGÉRIA – PASTORAL, SAÚDE E EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE - Conclusão

Garantir mais Saúde

Acompanhei a Irmã Augusta na visita ao hospital. São algumas casas pequenas onde se pretende fazer um pouco de tudo o que é simples: consultas, partos, pequenos tratamentos. Sem possibilidade de fazer raio x ou exames, longe de qualquer cirurgia (alias, só vem o médico uma vez por semana, todo o serviço é assegurado por enfermeiros), a Saúde ainda tem muito caminho a fazer para responder às necessidades das populações. Por isso, os índices de morte por malária são altos, encontram-se muitas crianças órfãs, a mortalidade infantil também atinge percentagens muito elevadas. Uma equipa móvel percorre as aldeias do interior para vacinação e alguma formação, uma vez por mês, em quatro Centros. A incidência de HIV /Sida também é preocupante.

Pobre e abandonado, o interior norte de Moçambique tem épocas de fome ou desnutrição grave. Por isso, com o apoio da APARF, as Irmãs Espiritanas construíram e dirigem o Centro Nutricional ‘Crescer na Esperança’, inaugurado a 24 de Junho de 2009. Apoia 110 crianças, cada qual com a sua história bem sofrida. Ao ver as fichas, aparecem dados como ‘órfão’ ou ‘abandonada pela família’.

Educação no feminino

Foi na manhã de 6 de Abril. O Internato Feminino foi solenemente benzido e inaugurado. D. Germano Grachane chegou de Nacala para presidir ao acontecimento que juntou os Padres, as Irmãs, as Autoridades Locais, Sol Sem Fronteiras, os responsáveis máximos pela Comunidade Católica, as famílias de algumas das Meninas que farão deste Lar a sua nova Casa durante o ano Lectivo. Este projecto das Espiritanas pretende garantir a Escolaridade a 50 Meninas que virão das 77 Aldeias que pertencem á Missão de Itoculo. É um projecto de Sol Sem Fronteiras com co-financiamento do Governo Português (IPAD).

Depois de um momento de oração, D. Germano salientou a importância do Projecto, os Missionários falaram da aposta na Educação como chave da Missão e do Desenvolvimento, as Autoridades Locais, uma a uma, elogiaram o papel importante que a Missão Católica ali desempenha ao serviço das populações, sobretudo das pessoas e famílias mais pobres. Benzida a casa, espaço a espaço, a Irmã Rosenir, Directora, explicou cada um dos compartimentos, dando-se relevo especial à sala de estudo e biblioteca, com o nome de ‘David Piteira Santos’, cuja família é grande benfeitora da obra. Tudo se concluiu com um almoço. Seis meninas vivem já neste Lar que quer honrar o nome do projecto: ‘Educação na Esperança’.

Texto e Foto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Perfil

segunda-feira, 3 de maio de 2010

ESPIRITANAS DE PORTUGAL, BRASIL, CABO VERDE E NIGÉRIA – PASTORAL, SAÚDE E EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Moçambique surgiu como apelo missionário em 2005. São cinco de quatro Países e três continentes na Comunidade das Espiritanas em Itoculo, no norte de Moçambique. Lançaram em 2009 o Centro Nutricional e acabam de inaugurar o Lar ‘Eugénie Caps’ que acolhe 50 meninas das aldeias que terão acesso a uma formação integral e à Escola Oficial. Foi em Itoculo que passei a Páscoa e participei na Bênção do Lar, presidida pelo Bispo de Nacala.

Comunidade trans-continental

Olhemos para o perfil das Irmãs. A Irmã Alice Areia tem 72 anos e um vastíssimo curriculum missionário e humanitário. Natural de Esposende, é enfermeira e já trabalhara antes em Cabo Verde, no Senegal e em Portugal (foi Superiora Provincial). É o rosto mais emblemático desta nova Missão que viu nascer, ajudou a crescer e vai agora confiar nas mãos de outras IrmãsA Irmã Adelaide Teixeira, 52 anos, é natural de Cabo Verde. Trabalhou vários anos em Portugal, formou-se como Animadora Sócio-Cultural e Assistente Familiar. Está em Itoculo desde 2006.

A Irmã Augusta Vilas Boas é de Barcelos. Formada em Enfermagem, com 42 anos, trabalhou alguns anos no interior pobre da Guiné-Bissau, sendo nomeada em 2006 para Itoculo, onde trabalha no hospital e dirige o Centro de Nutrição, fundado pelas irmãs Espiritanas com o apoio da Aparf.

A Irmã Joyce Abi é nigeriana, tem 37 anos, estudou na Nigéria e em Portugal, formando-se em Saúde Comunitária. Está em Itoculo desde 2006.

A Irmã Rosenir Soares nasceu em Minas Gerais (Brasil) há 45 anos. Especializou-se em Serviço Social, sobretudo no acompanhamento a jovens delinquentes. Trabalhou já no Brasil, nos Camarões, no Senegal e na França, sendo enviada a Itoculo em 2009 para ser a nova Superiora da Comunidade e Directora do Internato.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST...)

Texto e Foto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Perfil