segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

SIMÃO MONIZ, MISSIONÁRIO NO BRASIL – A MISSÃO FELIZ DO “PADRE DOS VAGABUNDOS”.


Nasceu em Cabo Verde, estudou Teologia em Portugal, mas a sua Missão é no Brasil. Em contexto de pobreza e violência, sente-se seguro pelos ‘excluídos da sociedade’ com quem partilha a sua vida e Missão de Padre. As Comunidades que anima, as crianças de rua, os reclusos e os dependentes químicos fazem dele o ‘Padre dos vagabundos’, imagem de marca da sua consagração Missionária Espiritana.

De Cabo Verde a Portugal

Nasceu em Cabo Verde onde estudou e trabalhou quatro anos numa empresa na Praia, até entrar nos Espiritanos. Fez a Teologia no Porto, com uma inserção pastoral no bairro da Pasteleira, apostando no voluntariado, sobretudo junto de instituições pobres e dos sem abrigo. Foi Ordenado Diácono em Braga e Padre na sua terra natal, S. Lourenço dos Órgãos, na Ilha de Santiago.

O Brasil Mineiro

A sua nomeação missionária foi para o Brasil, onde chegou em 2009, enviado para Governador Valadares, no Estado de Minas Gerais. Conta como foi o primeiro impacto: ‘foi estranho ver tantas casas que pareciam inacabadas, onde não morava gente. E outras bem acabadas que pareciam prisões, cheias de grades...’. Este choque foi ultrapassado á medida que a pastoral o obrigou a entrar nas casas. Mas algumas dúvidas permanecem-lhe no coração: ‘como é possível que determinadas famílias continuem a dormir todos ao mesmo tempo em tão pouco espaço?’.

Crianças de Rua

A aposta da sua Missão tem ido para as pastorais sociais, num meio muito pobre e violento, mas onde a maioria das pessoas são muito sérias e simpáticas. A Pastoral da Criança que o P. Simão ajudou a lançar é direccionada aos menores infractores. O Projecto ‘Crescer’, a funcionar na Paróquia, tem 20 crianças de rua que não têm hábitos de ir á escola, não têm registo, foram abandonadas por todos e muitas vezes usadas e abusadas pelos traficantes de droga. Não tem apoios oficiais, mas há alguns voluntários que visitam, acompanham as crianças, dão roupa, comida, calçado, fazem animação e colaboram na formação.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz da Verdade – Perfil

Foto: DR

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

JUAN AMBROSIO, PROFESSOR DE TEOLOGIA – UMA IGREJA APAIXONADA POR DEUS E PELO SER HUMANO - Conclusão

A Cristina, o André e o Filipe...

Casou com a Cristina em 1990, nos Anjos, e deste Amor nasceram o André e o Filipe. Sobre a importância da Família na sua vida, explica-se: ‘Em casa não sou teólogo no sentido de dar aulas de teologia, de dissertar acerca das diversas temáticas, mas não posso deixar de transparecer aquilo em que acredito. O meu trabalho marca a maneira como vivemos a experiência da Fé. Sei bem como as questões dos meus filhos e a experiência de vida que tenho com eles tem sido um instrumento valiosíssimo para a minha reflexão e sei bem como essa reflexão me tem permitido viver mais intensamente essa experiência de ser pai. Com a Cristina, vivo o mistério do amor e sei (sabemos) como ele tem o sabor próprio do infinito, que a nossa fé lhe dá. A Cristina o André e o Filipe são hoje aqueles nos quais eu continuo a ver o brilho que a Presença de Deus provoca na existência humana. Eles não são simplesmente pessoas que amo, são muito mais do que isso, são pessoas que me fazem ser. A minha relação com eles constitui o tecido mais nuclear da minha identidade pessoal. Não se trata de uma coisa que eu faço, mas que eu sou. É também nesta realidade (que eu sou) que o Mistério de Deus acontece na nossa vida’.

Missão na Guiné...

A Missão faz parte da sua vida. Esteve muitos anos ligados ao Serviço Diocesano do Ensino Religioso e esta responsabilidade abriu-lhe alguns horizontes novos, como ele partilha: ‘Quando surgiu a hipótese de fazer um trabalho de fundo em colaboração com um instituto missionário (os Espiritanos) avancei. Na altura estava no SDER. Lembro-me que fomos desenhando um projecto que foi envolvendo os professores e as escolas (algumas dessas dinâmicas, ainda permanecem hoje) e isso levou-me à Guiné por duas ocasiões (na 2ªa, a minha mulher também participou). Essa experiência deu-me a conhecer que o mundo e a vida não se resumem ao nosso mundo e á nossa vida’. Esta porta da Missão vai manter-se aberta.

Igreja do amanhã...ou de hoje...

Sonha com ‘uma Igreja profundamente apaixonada por Deus e pelo ser humano, á maneira de Jesus Cristo e, por isso, uma Igreja totalmente comprometida com a construção do reino de Deus e da história humana. Uma Igreja feliz por isso’.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade

Foto: JCF

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

JUAN AMBROSIO, PROFESSOR DE TEOLOGIA – UMA IGREJA APAIXONADA POR DEUS E PELO SER HUMANO.


Nasceu em Cáceres, mas os Anjos foi a comunidade onde cresceu para a Fé e ganhou o gosto pela Teologia. A Família é o lugar por excelência da sua experiência de Fé. Professor na Católica e convidado para muitas intervenções na TV e um pouco por todo o país, está convicto de que Deus continua a falar e a convocar-nos para a construção de um mundo de justiça e paz. Sonha com uma Igreja mais aberta, em constante conversão, onde todos tenham vez e voz.

De Cáceres a Lisboa

Nasceu em Espanha, mas aos 7 anos já estava em Lisboa. O seu encontro com Deus deve-se a rostos concretos que ajudaram a mediar esta relação. O Prof. Juan destaca a Mãe: ‘Era (é, porque acredito na vida eterna) uma mulher de profunda fé e tinha (tenho) com ela uma relação profunda de cumplicidade. Ensinou-me a viver e nesse ensinar, Deus era uma presença contínua. E não precisava de falar sempre nele. Já o disse várias vezes que um dos testemunhos mais belos que guardo é o brilho nos seus olhos quando me falava de Deus. Vi esse brilho muitas vezes e podia perceber bem o que o provocava, mesmo no momento da morte, e quando já não podia falar, eu vi esse brilho. Esse brilho foi-me abrindo novas perspectivas de vida’. Refere ainda a importância dos grupos de jovens na paróquia dos Anjos e o pároco de então, o Pe. João de Sousa.

Leigo aprendiz de teólogo...

O interesse pela Teologia vem dos tempos da juventude em que pensou até ser padre, mas Deus orientou-o para a construção de uma família, sem nunca pôr de lado o interesse pelo investimento teológico. Confessa: ‘hoje sinto-me realizado e feliz como teólogo Aprendiz de teólogo, pois é isso que a teologia nos mostra. Por muito que saibamos somos sempre aprendizes, sempre a aprender a aproximarmo-nos do Mistério de Deus, sempre a aprender como dizê-lo nos dias de hoje. O facto de ser leigo dá também um sabor especial a este exercício. Uma teologia feita só por padres e religiosos e religiosas seria certamente uma teologia mais pobre, tal como uma teologia feita só por leigos. A diversidade de condições é uma riqueza para o exercício da teologia’.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade

Foto: JCF

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

IRMÃ MADALENA VIEIRA, ESPIRITANA NA GUINÉ – BISSAU- SER FELIZ EM CABO VERDE, PORTUGAL, ANGOLA E GUINÉ - Conclusão


Angola, no coração....

Angola esperava por ela num dos momentos mais críticos da guerra civil, em tempo de marxismo-leninismo bravo. A Irmã Madalena chegou ao Lubango em 1981. Encontrou milhares de deslocados de guerra, vindos do interior da Província, a fugir das atrocidades da guerra. Para além do apoio humanitário, era importante garantir Escola e dar esperança de futuro ás novas gerações. Assim se lançou a Escola Arquidiocesana que chegou a ter 1400 alunos, da 2ª à 6ª classe. Construíram-se mais salas para a 7ª e 8ª classes. Mais tarde, apareceria o Instituto de Ciências Religiosas de Angola (ICRA), até ao 12º. A par deste investimento na Educação, a Irmã Madalena trabalhou no secretariado da Catequese e na pastoral da Comunidade de Lalula, nas periferias da cidade do Lubango. ‘Conseguir ajudar as pessoas era o desafio maior’ – confessa a Irmã que, em muitas ocasiões se sentiu triste e até frustrada por não responder às urgências de um povo martirizado pela guerra civil que teimava não terminar. A maior alegria, na hora do balanço, é a de ir recebendo cartas e notícias de Angola que dizem que alguns destes seus alunos são hoje quadros superiores do país, graças ao investimento que a Igreja fez na Educação. Nos angolanos, a Irmã Madalena sempre descobriu inteligência, simpatia, serenidade e capacidade de ultrapassar dificuldades. Estas atitudes facilitam o trabalho dos missionários.

Em 1996 foi escolhida para coordenar o trabalho das Espiritanas em Angola, vindo para Luanda durante 7 anos. A sua grande aposta, cujos efeitos hoje bem se sentem, foi na formação das jovens Espiritanas Angolanas. Terminado este trabalho, retirou-se para Portugal, onde a comunidade de Alcântara acolheu a sua alegria e disponibilidade.

Guiné, em chão Manjaco

A Guiné-Bissau foi o desafio que se seguiu e, a 1 de Dezembro de 2009, aterrava na capital para rumar em direcção do interior manjaco, ficando na Missão de Betenta. Chocou-a a pobreza extrema em que as populações vivem. Encorajou-a o compromisso do Espiritanos e Espiritanas em favor deste povo. Mantém forte a aposta na Educação, que ganhou estrutura com apoios, nos últimos anos, de numerosas instituições e amigos (recordo o Sol Sem Fronteiras, o IPAD, a FEC, as Escolas de Peniche...). O trabalho principal da Irmã Madalena tem sido a formação de Professores e a recuperação escolar de alguns dos alunos.

Uma queda obrigou-a a retirar da Guiné para uma cirurgia em Lisboa de que recupera. A vontade de regressar é enorme. Quer continuar a ser aquilo que sempre achou que faz parte do ADN de um/a missionário/a: pessoa de Fé, feliz, disponível, desinstalada, sempre pronta a servir.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade – Perfil

Foto: DR

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

IRMÃ MADALENA VIEIRA, ESPIRITANA NA GUINÉ – BISSAU- SER FELIZ EM CABO VERDE, PORTUGAL, ANGOLA E GUINÉ

Queria ser Irmã ao jeito dos Espiritanos, objectivo que concretizou apenas aos 25 anos. Sempre sonhou a Vida Consagrada como um espaço de felicidade e de uma capacidade de doação e serviço sem limites. Em Cabo Verde, partilhou a sorte de um povo pobre, abandonado à sua seca. Em Portugal, deu o seu melhor na animação missionária e pastoral. Angola está no seu coração pelos 21 anos de intensa missão em tempo de guerra. A pobreza extrema da Guiné é o último desafio a que está a responder, no meio do povo Manjaco.

Longa caminhada...

Nasceu em Penafiel mas cresceu em Recarei – Paredes, numa família 100% católica. Cresceu e só aos 25 anos entraria na Casa de Formação das Espiritanas em Braga.

De Cabo Verde ao Porto

A primeira Missão foi Cabo Verde, em 1966, no período duríssimo da história deste povo, marcado por secas prolongadas e fomes frequentes. A Ilha de Santiago não tinha grandes estruturas, estava isolada, o povo era muito pobre e a maioria das crianças e jovens não tinham futuro pela frente. Apostou na educação e ajudou crianças e jovens a ir á Escola, num tempo em que alguns faziam 20 e tal kms a pé. Veio a Portugal em 1970, sem mala...e ficou, porque foi nomeada para fazer equipa de Animação Missionária e Vocacional com os Espiritanos, a partir do Porto. Foram anos de intenso trabalho pastoral, percorrendo o norte do país, até Coimbra, a falar da Missão lá fora, a ajudar a despertar vocações missionárias, a convidar as pessoas e comunidades para mais oração, solidariedade e partilha com as linhas da frente da Missão.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade – Perfil

Foto: DR

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

D. PEDRO ZILLI, PRIMEIRO BISPO DE BAFATÁ – TRABALHAR POR MAIS FUTURO NA GUINÉ-BISSAU - Conclusão

Experiências de leigos...

Desde 2003 que Bafatá acolhe Leigos, idos de Itália, Brasil e Portugal: ‘tive a alegria de partilhar um excelente ano de Missão com a Céline dos Jovens Sem Fronteiras. Ela e a sua família passaram a ser minha família também e quando venho a Portugal visito-a sempre’. Em 2010, a Diocese contava com o trabalho de 12 leigos Missionários. Tem sido uma riqueza enorme para a Diocese e para os Leigos que partilham um tempo de missão em Bafatá: ‘Eu insisto com eles para que se insiram nos projectos da Diocese e que cada um dê o melhor si, colocando todos os seus talentos e sua criatividade ao serviço da Missão. Empenham-se nas obras da Diocese, na Educação, na Saúde, no Desenvolvimento, na Pastoral. E peço-lhes que iluminem os seus compromissos com o testemunho da Fé’.

País pobre e instável...

A democracia é muito frágil e tem que entrar em profundidade na cultura do povo e seus governantes. A instabilidade política e social é grande. A economia é pobre. A pobreza do país coloca-a sempre nos últimos lugares do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. O povo, de facto, não consegue satisfazer as necessidades básicas no que diz respeito á alimentação, vestuário, habitação, saúde, educação.

Diálogo Inter Religioso

As relações dos Cristãos com os Muçulmanos e os seguidores das Religião Tradicional Africana são excelentes: ‘Sempre que há festas, convidamo-nos uns aos outros. Nas horas tristes também. E quando há confusão (como aquela de que resultou o assassinato do Presidente e do Chefe das Forças Armadas), reunimo-nos, rezamos e até já publicamos uma mensagem conjunta. Tal dá-nos força e crédito junto dos governantes e das populações’

O ‘espírito de Assis’ tem-se vivido em ponto pequeno na Guiné-Bissau. É um valor que D. Zilli diz que a Igreja quer preservar a todo o preço: ‘Até o actual Presidente da República já nos chamou para pedir orações em ordem à superação da crise política em que o país está mergulhado’.

Texto: Tony Neves iN Jornal da Verdade

Foto: DR