sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

S.PAULO, MESTRE DA MISSÃO - 1ª PARTE


Aprender a ser Igreja
…pela Palavra...


- a Palavra leva à conversão
- a Palavra aprofunda a fé
- a Palavra gera comunidade:
urge trabalhar o acolhimento,
desenvolver o sentido de comunhão
e favorecer a diversidade de carismas e ministérios
- a Palavra faz-nos crescer na fidelidade a Deus
- a Palavra fortalece a esperança
pois abre-nos para o horizonte da eternidade
- a Palavra leva-nos a um compromisso com o homem e o mundo,
para edificação do Reino de Deus
- a Palavra derruba os muros da inimizade entre irmão
e suscita a reconciliação (até no ecumenismo e no diálogo interreligioso)

in Cadernos Ano Paulino (2)
Foto: João Cláudio Fernandes

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - Conclusão

Nalguns países é corrente fazer-se uma celebração de envio, quando os missionários regressam definitivamente à sua pátria de origem ou vão passar alguns meses de férias. No Ghana, por exemplo, isto é uma prática comum para desejar boa viagem ao missionário e para lhe confiar as notícias da comunidade que deve comunicar àqueles que vão o receber de volta. O esquema e o significado simbólico desta celebração estão relacionados com as celebrações tradicionais de bênção aos que partem em viagem para longe da família ou da aldeia. Dessa celebração tradicional faz parte integrante a libação invocando a protecção dos antepassados e a bênção de Deus para a acção a empreender.[1]

A missão é, pois, um caminho para ir e para voltar. Ao regressar começam naturalmente as comparações. De lá, recordam-se com saudade as celebrações cheias de cor, alegria e vida; a tenacidade dos catecúmenos adultos que se preparam para o baptismo durante vários anos, o acolhimento de cada pessoa na comunidade, o papel dos leigos e dos catequistas. Nos momentos em que a vitalidade das igrejas africanas se impõe face à aparente aridez e desolação do cristianismo europeu, recordo as palavras de uma irmã missionária, com muitos anos de missão em Moçambique. Ela costumava dizer que, devido ao clima, em África o milho produz duas vezes por ano e em Portugal só produz uma; por isso, no trabalho pastoral o importante não são os muitos ou poucos frutos, mas o empenho e a dedicação que se coloca no amanho da terra. Regressar pode ser, nesta perspectiva, uma ocasião excelente para evangelizar as Igrejas da velha Cristandade. Voltar pode ser um acto de esperança, um foco de luz que se traz de longe para uma terra arrefecida. Não tenho dúvidas de que a presença dos missionários nas suas comunidades de origem pode ser um grande estímulo para a renovação da Igreja, desafiando os cristãos a estenderam o olhar para além dos problemazinhos do seu campanário, convidando-os ao desprendimento, à partilha, ao  encontro com os outros e à solidariedade.


[1] Nunca esquecerei a celebração de envio que as comunidades de Kintampo realizaram quando regressei do Ghana. As comunidades cristãs juntaram-se numa aldeia mais central, Pamdu-Paninamissa, onde celebrámos a Eucaristia debaixo das mangueiras. Devido ao ambiente de festa não recordo quase nada do que então disse. Lembro-me que, na homilia, pedi às pessoas para ajudarem e encorajarem os vários seminaristas que havia na paróquia e que, devido à emoção, não consegui terminar a última frase da missa. Após a Eucaristia, seguiu-se uma festa, onde fui presenteado com alguns objectos da região e mandioca para a viagem. Depois os  representantes das várias comunidades tomaram a palavra para fazerem o send off, o envio. Recordo que agradeceram a Deus a minha estadia entre eles, invocaram a Sua bênção para a viagem e para o meu futuro campo de trabalho e pediram-me para transmitir à minha família, amigos e confrades, as saudações desta outra família da qual também já fazia parte. A terminar, em duas ou três frases, agradeci a Deus por me ter dado a graça de ter sido  missionário no Ghana, de ter recebido tanta amizade e compreensão e por ter aprendido ser cristão, a ser padre e a ser Igreja.

Texto: Pe. José Antunes

Fim do Post

Foto: Arquivo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 7ª PARTE



4- Ser missionário no regressar

 Ao finalizar esta breve reflexão gostaria de fazer uma referência a uma etapa que, às vezes, passa despercebida: o regresso, temporário ou definitivo, do missionário à Igreja que o enviara. No Evangelho de São Lucas, Jesus envia os discípulos dois a dois em missão, à sua frente. Eles partiram, tentaram pôr em prática os ensinamentos do Mestre e, mais tarde, “voltaram cheios de alegria” contando a Jesus tudo o que tinham realizado. Estavam particularmente radiantes porque, diziam eles, “até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome”. Lendo o relato evangélico notamos que Jesus refreia o optimismo e o entusiasmo dos discípulos, recordando-lhes que tudo aquilo que fizeram é devido ao poder de Deus e não ao mérito pessoal de cada um deles. Aliás, Jesus parece recomendar que não se deixem cegar pela contemplação dos prodígios realizados (Lc 10,17-20).

Regressar é, neste sentido, voltar às origens, à comunidade que enviou, à fonte de onde brota a vocação missionária. Regressar faz bem à missão, fortalece os laços entre as comunidades, cria elos recíprocos, faz crescer a unidade e promove a partilha, não só de bens materiais mas, sobretudo, de experiências de fé. Recordemos a este propósito o texto dos Actos dos Apóstolos que descreve o regresso de Paulo e Barnabé a Antioquia após a sua primeira viagem missionária (Act 14, 26-28). Reuniram a comunidade que os tinha enviado e “contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé”. O regresso serve, pois, para animar a comunidade cristã e fazer crescer a esperança narrando as maravilhas que Deus faz por esse mundo fora.

Os padre ou as religiosas que vão regularmente de férias ao seu país natal, ou que regressam definitivamente, os leigos que retomam a sua profissão após um ou dois anos na missão e os voluntários que regressam a casa após um curto período de trabalho missionário fora da sua pátria, voltam diferentes, sobretudo se conseguiram viver plenamente as etapas anteriores: ser enviado, partir, e chegar ao destino.

Muitas vezes, o regresso custa tanto como a partida, porque voltar também é partir… de lá para cá. A partida de José Freinademetz de Puoli para outra região da China significou uma pequena dor no seu coração como ele escreve: “Desta vez não pude conter as lágrimas. Começava a querer demasiado aos meus cristãos de Puoli... mas o missionário não deve estar preso a nada e menos aos seus filhos espirituais. O meu melhor lugar será sempre aquele em que Deus necessite de mim.”[1] 

[1] Ibid: 123.

Texto: Pe. José Antunes

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Foto: Pe. Hugo Ventura

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 6ª PARTE

Um dos problemas que afectam o ser humano é a dispersão. Na verdade, há pessoas que, apesar de muito andarem, nunca chegam a lado nenhum; correm constantemente de um lugar para outro, profissional e afectivamente, de emprego para emprego, de relação para relação. Na Igreja também há gente assim: cristãos que nunca estão felizes com o lugar que ocupam, com o serviço que prestam ou com a função que exercem. O mesmo acontece, às vezes, na vida missionária: há gente em constante movimento. Hoje estão, por exemplo, na Nova Guiné, amanhã no Brasil, depois de amanhã na Nigéria e logo a seguir na China; hoje pertencem a esta comunidade, amanhã àquela e depois a outra. 

Estes missionários estão em permanente atitude de mudança que pouco ou nada tem a ver com a disponibilidade e o desprendimento evangélicos. A dificuldade em chegar ao destino incapacita-os para criar raízes, aprender a língua e os costumes do povo. Não têm tempo para levar a cabo um trabalho com dedicação, princípio, meio e fim. Quando não se chega verdadeiramente ao destino, não se podem criar raízes, estabelecer laços de comunhão e não se pode amar profundamente o povo a quem Deus nos enviou. A missão pode, mesmo assim, ser mediática, espectacular e até heróica;  mas, infelizmente, pouco relevante. É pertinente recordar a este propósito as palavras de Jesus “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc 12, 34). Estas palavras poderão ser relidas no sentido de que enquanto o povo e a terra para onde fomos enviados não for o nosso tesouro, o nosso coração estará sempre ausente.

Todos conhecemos, felizmente, muitos missionários - consagrados e leigos - que conseguiram, não sem esforço e sofrimento, fazer um caminho de aproximação ao seu povo, abandonando as certezas e os hábitos da sua cultura de origem. O missionário deve procurar fazer a sua casa e o seu lar no meio do povo onde trabalha, criando aí raízes. Quem assim vive descobre que a maior riqueza da missão são as pessoas e a melhor obra que se pode deixar atrás é o seu crescimento na comunhão fraterna, na responsabilidade eclesial e no compromisso diário na sociedade.

Texto: Pe. José Antunes
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Foto: Arquivo/Lusa 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 5ª PARTE


3- Ser missionário é chegar

Uma das dificuldades inerentes à vida missionária está relacionada com a chegada ao destino, pois pode acontecer que o missionário, tendo deixado a sua terra natal, nunca chegue ao seu destino. Assim, diremos que o terceiro passo do caminho missionário é chegar. O missionário que chega é recebido por um povo diferente do seu e aprende a sentir-se em casa na sua nova terra. Neste sentido, será muito difícil alguém ser missionário se não se sentir bem junto daqueles a quem foi enviado. Alcançar esta meta pode levar anos, como relata São José Freinademetz numa carta dirigida à sua família, em Abtei, dando conta, não só das dificuldades e dos sacrifícios que encontrara ao chegar à China, mas também da sua nova atitude depois de já ter vivido sete anos na China: “Garanto-vos honesta e sinceramente que eu amo a China e os chineses e estou pronto para sofrer mil mortes por causa deles. Evidentemente, há sempre a possibilidade de os meus superiores me chamarem para o Seminário na Áustria, como mencionei numa carta anterior. A minha resposta naquela ocasião foi: naturalmente eu serei obediente até à morte, mas o maior sacrifício que me poderiam pedir seria chamarem-me para a Europa. Agora que eu tenho menos dificuldades com a língua e conheço melhor as pessoas e a sua maneira de viver, a China tornou-se não só a minha pátria, mas o campo de batalha no qual um dia tombarei… Tivesse eu de regressar a Abtei, sentir-me-ia lá como um estrangeiro. Já estou na China há sete anos e, se for da vontade de Deus, estou disposto a permanecer aqui setenta ou mais.”[1]

Quando se ama o povo e a terra que nos acolhe, poderemos dizer que uma grande parte do trabalho missionário já está a ser realizado. As palavras de Jesus aos discípulos enviados em missão são, também, a este respeito palavras de sabedoria convidando à inserção plena no meio de quem nos acolhe: “em qualquer casa em que entrardes  ficai nela até partirdes dali” (Mc 6, 10).


[1] Ibidem, 106.

Texto: Pe. José Antunes

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Foto: DR/Arquivo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 4ª PARTE


A partida para um outro local geográfico implica quase sempre a mudança para um outro lugar cultural. Para trás fica a cultura onde crescemos e onde adquirimos naturalmente toda uma série de hábitos e maneiras de estar, quer imitando o comportamento dos adultos, quer através da aprendizagem. No contexto cultural onde crescemos cada um sabe o papel que tem a desempenhar e como deve agir em todas as circunstâncias. Uma vez que cada ser humano nasce numa cultura específica e fica marcado por ela, partir significa romper com hábitos e com maneiras de agir, de comer e de saudar que julgávamos universalmente válidas. Partir significa, muitas vezes, não poder falar a língua materna, aprender outras formas de articular os pensamentos e expressar ideias e afectos. Só como exemplo vejamos dois excertos de cartas de S. José Freinademetz: “Da minha pessoa não se pode dizer nada de interessante, excepto, talvez, que há três semanas ando vestido de chinês, com meias brancas, calções curtos também brancos, sapatos de cânhamo com solas de feltro, uma toga que me chega aos pés e a cabeça rapada.”[1] Mas não chega a mudança exterior: “A tarefa mais importante está ainda pendente: a transformação do homem interior. O estudo da mentalidade chinesa, dos costumes e usos, do carácter e atitudes, tudo isto não é coisa de um dia, nem de um ano e não se consegue sem alguma dolorosa operação. O que até agora vi, ouvi e vivi está em violento contraste com a maneira de ver e de julgar que tive até agora.”[2]

Partir exige, quase sempre, um processo de aprendizagem social numa outra cultura. Mesmo quando a partida não requer uma deslocação geográfica para outro país pode, todavia, obrigar a uma mudança cultural. Um missionário pode ser enviado para uma zona degradada da grande metrópole, uma aldeia do interior ou para um trabalho concreto com grupos culturalmente distintos da maioria dos seus compatriotas, por exemplo, os jovens, os operários, os sem-abrigo. Se a partida geográfica é dolorosa, a  cultural não o é menos; ambas estão cheias de dificuldades e de riscos. Uma pessoa pode ir para longe do país onde nasceu e ser incapaz de apreciar as riquezas das culturas que vai encontrar. Imbuído de etnocentrismo considera a sua cultura como a cultura normativa que quer impor aos outros julgando ser a melhor de todas. A história das missões está, infelizmente, cheia de casos, onde à deslocação geográfica não corresponde a caminhada interior de ir ao encontro de quem é culturalmente diferente. Para ser missionário é necessário partir, sair de si mesmo, abandonar a segurança e o conforto resultantes da família, da sociedade e da Igreja onde se nasceu e cresceu, tendo a ousadia de dar passos em direcção ao outro que fala, pensa, come, veste, vive e reza de maneira diferente da nossa.


[1] C. Pape e J. Vergara, José Freinademetz: um tirolês que amou os chineses (Lisboa: Verbo Divino, 2003): 87-88.

[2] Ibid: 92.

Pe. José Antunes

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Foto: Arquivo


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 3ª PARTE

2 - Ser missionário é partir

O envio requer, naturalmente, um segundo passo: partir. “Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia anunciando a Boa Nova e realizando curas por toda a parte” (Lc 9, 6). Este passo, talvez seja o mais doloroso, pois exige deixar a família, os amigos, a segurança adquirida de quem conhece o meio onde se vive, o trabalho a que se está habituado e a carreira profissional. A partida exige uma atitude de desprendimento, à semelhança dos discípulos enviados por Jesus, a quem pede para não levarem nada para o caminho: “nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas”  (Lc 9, 3).

John Taylor, um bispo anglicano que, durante muitos anos, foi missionário em África afirma que a missão significa ser enviado e que nós só podemos ser enviados do lugar onde estamos para um outro lugar. Se nós  ficarmos onde estávamos antes, das duas uma: ou não fomos enviados, ou  então não partimos. Missão, diz ele, é ir para outro lugar. Esse lugar pode não ser apenas um outro lugar geográfico, pode ser também um outro lugar cultural, como por exemplo, ir para o meio de gente que fala com um sotaque estranho ou tem costumes e tradições diferentes dos nossos. Para Taylor, a imagem da caminhada é uma metáfora sempre válida para falar da missão. Partir, caminhar, é o passo crucial, para que o missionário se coloque no lugar do outro e reconheça as próprias limitações, tornando o seu coração dócil ao Espírito de Deus.

Partir exige sair do lugar onde se está habitualmente. Daí que toda a partida tenha uma conotação geográfica. No passado, os missionários partiam da Europa para a África, a Índia ou o Brasil; deixavam o seu país onde tudo era familiar, - o clima, a fauna, a flora, a língua, os costumes, as regras sociais, - e dirigiam-se para outros lugares geográficos regidos por outros climas, outros costumes e outras tradições. Hoje, como no passado, os missionários continuam a partir, já não só da Europa, mas também de outros continentes, sendo normal encontrar, por exemplo, missionários das Filipinas no Ghana, da Índia no Brasil, da Argentina em Angola.

A partida geográfica é sempre dolorosa. Gostaria, a este propósito e como exemplo significativo, recordar as palavras de um grande missionário do Verbo Divino, São José Freinademetz, ao despedir-se da sua pátria para ir para a China, onde permaneceria até ao fim dos seus dias. Na cerimónia de envio missionário em Steyl, Freinademetz disse que ao deixar as montanhas do seu Tirol natal, a partida fora dura e dolorosa, mas em Steyl encontrara uma nova casa. Mais tarde, a caminho da China, passará ainda pelo Tirol para se despedir. Já no barco, que acabava de largar do porto italiano de Ancona descreve, no seu diário de viagem, a emocionante despedida da família, dos amigos e da deslumbrante paisagem alpina: “Já não estamos mais em solo europeu. Que pensamento extarordinário! A pátria, os amigos e os pais ficaram para trás. Eu tinha construído a minha felicidade na minha terra. Nos primeiros passos do meu caminho sacerdotal só rosas cresceram e estava rodeado por um círculo de amigos e companheiros; porém, agora, tenho de me separar  de tudo e devo começar tudo de novo num novo mundo, ganhar novos amigos, aprender uma língua nova, de certa forma começar outra vez tudo de novo. O que é que tu fizeste? - Mais exactamente, o que é que tu vais fazer? Tu salvarás almas para o céu! E o meu coração ferido ficou curado!”[1] 


[1] F. Bornemann, As Wine Poured Out: Blessed Joseph Freinademetz SVD Missionary in China 1879-1908 (Rome: Divine Word Missionaries, 1984): 44.

Pe. José Antunes

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Foto: DR

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 2ª PARTE

As indicações dadas por Jesus durante a sua vida pública, por ocasião da escolha e do envio dos discípulos, são mais precisas quanto aos objectivos da missão: eles são enviados a proclamar que o Reino de Deus está próximo, a curar os enfermos, a ressuscitar os mortos e a expulsar os espíritos maus (Mt 10, 7-8). Todas estas actividades serão mais tarde abrangidas pela expressão “anunciar a Boa Nova.” Os discípulos são enviados para realizarem o projecto libertador iniciado por Deus em Jesus Cristo, continuando a sua obra salvífica, sendo portadores de palavras e de gestos que criam comunhão e  promovem a paz e a reconciliação entre as pessoas. Do mesmo modo, são enviados a curar as doenças do corpo e da alma, levando a esperança aos excluídos da sociedade e dos sistemas políticos, económicos e religiosos e congregando-os sob o olhar amoroso de Deus.

Quando, hoje, a Igreja se reúne para celebrar um envio missionário, toma consciência de que aqueles que são enviados não vão em nome próprio, mas em nome da comunidade e em nome de Cristo. Não somos trabalhadores por conta própria. Tais celebrações são uma ocasião excelente para fazer animação missionária. Felizmente, hoje em dia, a celebração do envio de missionários tem lugar nas paróquias às quais pertencem ou às quais estão ligados por laços afectivos e de compromisso apostólico. Através desse acontecimento a comunidade cristã toma consciência de que está a enviar um dos seus membros. Aliás, no seguimento de uma genuína tradição apostólica, toda a comunidade está envolvida no processo do envio. Recordemos, a propósito, esta sugestiva passagem dos Actos dos Apóstolos: “Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: ‘Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.’ Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir” (Act 13, 2-3). Toda a comunidade, atenta à voz do Espírito, é protagonista na selecção e no envio dos missionários.

Pe. José Antunes

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Foto: João Cláudio

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 1ª PARTE

 1 - Ser missionário é ser enviado

Em primeiro lugar, ser missionário é ser enviado. O missionário é enviado por alguém e em nome de alguém, pois ninguém se envia a si próprio. Jesus Cristo foi o primeiro enviado em missão. Enviado pelo Pai para ser a luz do mundo, veio não para condenar o mundo mas para o salvar (Jo 12, 47). Na sua vida e na sua missão cumpriu continuamente a vontade do Pai. Cristo, enviado  como Luz do mundo, deu corpo à profecia de Isaías (cf. Lc. 4, 17-19): veio trazer a Boa Nova aos pobres, anunciar a libertação aos prisioneiros, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um tempo de graça do Senhor.

No seguimento de Jesus, o missionário toma, em primeiro lugar, consciência da sua condição de enviado e das consequências daí decorrentes. O enviado coloca-se à disposição de quem o envia para assim poder levar a cabo a tarefa que lhe foi confiada. O missionário não se anuncia a si mesmo, nem substitui a missão que lhe foi entregue por objectivos meramente pessoais, por mais importantes que estes sejam.

Em segundo lugar, devemos perguntar para onde, e para quê, são enviados os missionários. Na linguagem dos evangelhos sinópticos, os discípulos são enviados, por Cristo, a todos os povos (Mt 28, 19). Hoje, como ontem, os missionários de hoje são enviados a toda a gente, sem restrições, pois a messe é da vastidão do mundo. Tal como os primeiros discípulos, os missionários são enviados para dar continuidade à missão de Jesus. No evangelho de São João, Jesus envia os discípulos em missão, no contexto de uma das suas aparições após a Ressurreição e em espírito de paz: “E Ele voltou a dizer-lhes outra vez: ‘A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós’” (Jo 20, 21). Somos, deste modo, enviados como mensageiros da paz e do perdão, chamados a testemunhar - não tanto por palavras, mas pela forma de estar e de viver com os outros, sobretudo com aqueles que nos são estranhos - que Deus veio trazer a alegria e a salvação a todo o mundo. Os evangelhos sinópticos apresentam o envio com outra linguagem: Os discípulos, também num contexto pascal, são enviados para anunciar a Boa Nova, ensinar e baptizar toda a gente (Mt 28, 18-20; Mc 16, 15-18). Estes relatos pós-pascais têm de ser lidos como uma espécie de síntese geral da acção missionária da Igreja primitiva. 

Pe. José Antunes
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Foto: Arquivo