segunda-feira, 30 de junho de 2008

A paróquia, comunidade missionária


A diocese ou Igreja local não é uma parcela da Igreja universal, como um concelho é parcela de um distrito, mas antes uma porção do povo de Deus na qual, como na célula ou na gota de sangue, está o todo do nosso organismo. Assim a Igreja diocesana é a Igreja em plenitude à frente da qual está um pastor, o bispo, e na qual somos baptizados e chamados a viver e construir a comunhão de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Esta Igreja é sacramento desta comunhão e da unidade do género humano, tornando-se sacramento universal de salvação e expressão única e privilegiada da Igreja una, santa, católica e apostólica que professamos no credo.

Mas esta Igreja local só é verdadeiramente Igreja de Deus se mantiver laços vivos de comunhão com as outras igrejas locais, igrejas irmãs. Esta comunhão de todas as Igrejas é que faz a Igreja universal e nos torna a todos responsáveis do testemunho que a Igreja, na continuação de Cristo, tem de levar ao mundo. A Missão é pois responsabilidade de cada Igreja local, cada diocese.

A paróquia é, por sua vez, a célula da diocese. Os fiéis inserem-se na diocese por meio da paróquia onde o pároco preside à construção da comunidade dos fiéis como delegado do bispo e incentiva a participação dos fiéis nos diferentes grupos e movimentos, celebrações e encontros, através dos quais a fé se torna viva e fonte de alegria.
Se a paróquia é assim o coração da diocese, e a Missão é responsabilidade da diocese enquanto Igreja local enviada a testemunhar, então tal vocação missionária tem de se concretizar na paróquia, no dinamismo dos seus membros, grupos e movimentos.

Nesta compreensão da Igreja e perante as mudanças da sociedade que já não conta com as referências paroquiais tradicionais, impõem-se à paróquia-Missão ou à Missão da paróquia um conjunto de exigências:
Passar de uma pastoral de conservação a uma pastoral de Missão, de ir ao encontro das pessoas, de semear, porque os cristãos são uma minoria.
Necessidade de conhecer bem a situação concreta das pessoas, seus problemas, anseios e dificuldades. O que exige muita escuta e diálogo, assim como uma atenção particular aos grupos de fronteira: pobres, imigrantes, jovens, etc.
Fazer da paróquia um espaço inclusivo, tolerante e congregador de diferentes pessoas, grupos, tendências e até formas de rezar.
Incentivar a participação e coresponsabilidade de todos os cristãos na vida da paróquia. A evangelização e a Missão é uma responsabilidade comum, mesmo que sejam diferentes as tarefas e os “tarefeiros” que a concretizam.
A preocupação, recrutamento e oração pelas vocações, sobretudo vocações missionárias. A paróquia é autenticamente missionaria quando seu seio, dos seus membros, brotam testemunhas que são expressão da sua vocação missionária e se dispõem a partir por um mês, um ano, ou por toda a vida, ao serviço da Boa Nova do Evangelho, além das suas fronteiras.
Organizar e incentivar o sentimento de solidariedade e de partilha dos membros da comunidade cristã e da sociedade civil envolvente.


Foto: JCF

sexta-feira, 27 de junho de 2008

VÁRIOS SERVIÇOS, MAS UMA ÚNICA MISSÃO

A Igreja é uma comunhão, uma fraternidade universal que se concretiza e realiza nas comunidades ou igrejas locais. O missionário é o elo privilegiado de ligação entre essas igrejas, é a ponte que as une, colocando-as em comunhão.
Na Igreja das origens, havia necessidade de carismas e ministérios, mas unidade de todos na mesma Missão: a unidade precedia a diversidade. Não havia clero de um lado e leigos do outro. Todos os que pertenciam à comunidade eram chamados “eleitos”, “santos” e sobretudo “irmãos”. A comunidade era formada como um todo, em pé de igualdade. Destes cristãos, alguns eram chamados para exercer determinados ministérios, uns ordenados (bispos, padres, diáconos) e outros não; mas todos em ordem à construção da comunhão do Corpo de Cristo e em resposta às necessidades da comunidade e do mundo.

Só mais tarde, quando os monges e o clero começaram a tomar todos os espaços do saber e do poder, é que os leigos começaram a ser remetidos para a rectaguarda. A cultura tornou-se privilégio do clero e dos monges. São os monges que começam a assumir o protagonismo da Missão – foram eles que evangelizaram a Europa no tempo dos bárbaros, depois serão as ordens religiosas e congregações que assumirão a responsabilidade da evangelização do novo mundo no tempo dos Descobrimentos. E os leigos acabaram por ficar apenas para ajudar: com vocações, esmolas, orações e sacrifícios.

Ora, o Concílio Vaticano II relançou de novo a teologia do laicado e a sua respectiva Missão. Ele abordou o problema dos leigos em todas as suas vertentes. Eis algumas das suas linhas de força a propósito do papel dos leigos na Missão:
A Igreja é todo o povo de Deus. Começa-se a fazer parte deste povo pelo Baptismo. É a todo este povo que é confiada a Missão de Cristo. Pelo baptismo, pode-se dizer, que todos são “leigos”. A Missão é confiada a todos igualmente, como se fosse um só abraço. Não se trata de uns a decidir e outros a ajudar. Todos são protagonistas da Missão.
Deste povo de Deus, alguns são chamados pelo sacramento da Ordem a exercer o ministério da animação, da presidência e da comunhão da comunidade e outros podem ser chamados à consagração religiosa ( os Religiosos ).
O leigo é definido não a partir da sua relação com o clero, mas a partir da sua relação com Cristo, onde todas as vocações têm a sua origem e é de mãos dadas que todos embarcam para a Missão da Igreja. Assim a Missão não é exclusivo, nem propriedade de ninguém: ela foi confiada a toda a Igreja. Cada um assume-a em conformidade com os dons e o ministério que recebeu do Espírito, mas em pé de igualdade. Nem uns têm mais obrigação que outros. A obrigação é igual para todos.
Os institutos missionários não são os protagonistas da Missão, mas apenas despertadores do povo de Deus para a Missão. D. Luís de Castro usa a seguinte imagem: imaginemos a Missão como um campo de futebol. Dantes, quem jogava eram os institutos missionários e o povo de Deus, nas bancadas, apoiava. Agora, segundo a doutrina conciliar, quem joga no campo é todo o povo de Deus; nas bancadas a incentivar e a animar estão os institutos missionários.

De facto, o espaço dos leigos na Missão é muito vasto: na catequese, na animação pastoral, na formação religiosa, no âmbito profissional, na educação, na saúde, na agricultura, na política, na inserção social, na promoção humana, na leitura das realidades terrestres, etc.
In "A Missão no Coração da Igreja"
Foto:JCF

quinta-feira, 26 de junho de 2008

CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL 2008

É de todos conhecido o princípio de que “a Igreja é por sua natureza missionária”.
No entanto, quando chega o momento de tirar conclusões práticas deste princípio, nem sempre o modo como se faz é assim tão linear.
Na carta encíclica “Redemptoris Missio” o papa João Paulo II diz, logo no número um que, “no termo do segundo milénio, após a Sua vinda, uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo, e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço”.
O Primeiro Congresso Missionário Nacional que acabámos de celebrar pode constituir um novo impulso à vivência missionária da Igreja em Portugal, como o próprio lema indica: “Portugal, vive a Missão, rasga horizontes”.
Podemos dizer que este evento é o ponto de chegada de uma longa caminhada que teve como momentos marcantes, a nível mais geral, as Semanas Missionárias Nacionais a que sucederam as Jornadas Missionárias Nacionais, o Ano Missionário em 1998 que coincidiu com o Ano do Espírito Santo na caminhada para o grande Jubileu do ano 2000, a edição anual do Guião Outubro Missionário e, finalmente, o Simpósio Missionário que teve lugar em 2004.
A isto devemos juntar tudo aquilo a que podemos chamar de “fervilhar missionário” traduzido na criação de grupos missionários ligados aos Institutos Missionários, Dioceses e Paróquias, programas de animação missionária nas comunidades locais, um cada vez maior número de leigos que vai fazendo experiência de missão quer no nosso país, quer em países terceiros, lançamento de iniciativas de apoio à Missão como campanhas de solidariedade material ou de luta por grandes causas da humanidade.
Tudo isto tem acontecido numa cada vez maior comunhão e colaboração entre os diversos Institutos Missionários e destes com as Igrejas Locais.
Poderíamos continuar a enunciar outros sinais de que o espírito missionário em Portugal está vivo. Mas estes bastam para percebermos que este Congresso é como que a síntese e a celebração de toda uma vivência que tem tido lugar.
Mas o caminho ainda está por fazer. Como diz o papa, ainda estamos a começar.
Daí que este Congresso possa constituir como que um patamar que, por um lado, que nos permite parar, olhar para trás para perceber o caminho já feito – aprendendo com o que foi bom e menos bom -, por outro, olhar em frente e perceber que novos caminhos o espírito nos convida a trilhar; daqui o desafio a “rasgar horizontes”.
Certamente que estes novos horizontes que é preciso rasgar passam pelas respostas iluminadas pela fé que é preciso dar às situações que as novas realidades locais e mundiais em que estamos inseridos nos apresentam.
Como nos diz o papa Bento XVI na última mensagem para o Dia Mundial das Missões, cujo título era “Todas as Igrejas para o Mundo Inteiro”, todas as igrejas, quer as de mais antiga tradição cristã, quer as de evangelização mais recente, são chamadas ao “intercâmbio de dons” que redunda em benefício para todo o corpo místico de Cristo. Isto significa um novo passo em relação àquela ideia de que a Missão é destinada a um grupo particular ou restrito.
Os novos horizontes também passam pela nova consciência de que a “Missão ad Gentes” mais que referente a um território concreto em termos físicos, se aplica a situações humanas novas que frequentemente surgem no seio de comunidades de antiga tradição cristã.
Por isso, a dinâmica missionária que urge imprimir às nossas comunidades não é apenas no sentido de levar os seus membros para outros pontos geográficos, mas também a de começar a evangelização a partir da própria comunidade a que se pertence. Não há, portanto, duas igrejas, uma “ad intra”, outra “ad extra”. Terá que se o mesmo empenho missionário que há-de levar cada cristão a descobrir em que lugar concreto deve cumprir a sua missão, consoante a vocação a que foi chamado.
Um outro novo horizonte que se começa a vislumbrar para a Igreja em Portugal é o acolhimento de missionários de outras latitudes. A vinda destes missionários não pode ser apenas pela falta de vocações na velha Europa e também em Portugal. Trata-se de um sinal eclesialidade que trará consigo novas problemáticas, mas que também irá exprimir melhor a imagem da Igreja como novo povo de Deus que caminha para a unidade acima das questões étnicas ou culturais.
Mas será sobretudo a participação no Congresso e a atenção às comunicações nele feitas e às suas conclusões que ajudará toda a Igreja em Portugal a relançar-se numa nova etapa da suma caminhada missionária depois de ter celebrado e agradecido a missão que já vive. Que, guiados pelo Espírito de Deus, nos disponibilizemos a com Ele abrir os novos caminhos que a Missão de hoje do pede.

Pe. Vítor Mira
Texto a inserir no Guião
Outubro Misssionário 2008

segunda-feira, 23 de junho de 2008

VIVE A MISSÃO, RASGA HORIZONTES


1. Missão procedente de Deus, missão aberta ao mundo, missão endereçada ao coração de cada ser humano, missão a correr de porta em porta, de mão em mão, missão a transvazar de coração a coração. A missão é de todos, a todos envolve e implica. João Paulo II disse-o assim: «A missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais»[1]. E o Documento Diálogo e Missão expressou-se deste modo: «A missionariedade é, para cada cristão, expressão normal da sua fé»[2]. Outra vez João Paulo II: «Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-l’O para si; tem de O anunciar»[3]. E Bento XVI disse-o recentemente assim: «A Igreja é missionária no seu conjunto e em cada um dos seus membros»[4].

2. Consciente desta realidade, Paulo VI traçou bem e fundo o perfil evangelizador da Igreja: «Evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar»[5]. E numa recente Nota Pastoral, a Conferência Episcopal Italiana deixou escrito com eloquente beleza e precisão: «A Evangelização é o fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo; nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se pode antepor-lhe»[6].

3. Se «Deus é amor» (1 Jo 4,8 e 16), e se nos ama com amor perfeito (1 Ts 1,4)[7], enviando-nos, por isso, o seu Filho (1 Jo 4,10), e se é o amor que faz passar da morte para a vida (1 Jo 3,14), então «a Evangelização é uma questão de amor»[8] inadiável e não delegável[9], e a Igreja portuguesa, em todas as suas instâncias, parcelas e pessoas, não pode deixar de se envolver e implicar nos horizontes da missão ad gentes, que é sempre o verdadeiro paradigma da Evangelização em qualquer latitude[10].

4. De quanto atrás dito, e no contexto do Ano do Congresso Missionário Nacional (03-07 de Setembro) e da Peregrinação Missionária Nacional a Fátima (05-06 de Julho), resulta claro que é preciso saber ler e reconhecer o imenso e belo labor que, com denodo, humildade e grande dedicação, por vezes até ao sangue, os Institutos Missionários portugueses têm sabido levar a cabo no inteiro orbe: quantas redes de amor, quantas mãos unidas, quantos corações reacendidos, quantas vidas ressurgidas!

5. Mas é preciso também, no mesmo contexto, lembrar, estimular e saudar, com grande estima e carinho, os fiéis leigos que, com imensa generosidade e evangélico desprendimento, têm sabido e querido doar pedaços da sua vida à causa da Evangelização.

6. Mas impõe-se ainda que, sob a orientação dos nossos Bispos, cujo «compromisso consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana»[11], saibamos, a partir deste Ano do Congresso Missionário Nacional, fazer surgir na Igreja portuguesa Centros missionários diocesanos e paroquiais que, em consonância com os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missionariedade ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã[12].

7. E, porque atravessamos também o Ano Paulino, não podemos deixar de evocar e invocar, e, se possível, imitar, essa figura ímpar que se dedicou ao Evangelho a tempo inteiro e de corpo inteiro. De tal modo que bem podemos dizer, com Lorenzo de Lorenzi, que «a sua vida privada era… a apostólica»[13].

8. A última palavra tem de ir para Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, Estrela da Evangelização, que maternalmente nos acolhe no seu Santuário de Fátima. Nós te saudamos, Maria, e te pedimos que nos ensines a amar os nossos irmãos como tu amas os teus filhos queridos. Abençoa, Mãe, os nossos trabalhos missionários neste Ano do Congresso Missionário Nacional. Vela por nós, e dá-nos um coração verdadeiramente missionário.

[1] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Redemptoris Missio (RM), de 7 de Dezembro de 1990, n.º 2.
[2] SECRETARIADO PARA OS NÃO-CRISTÃOS, Documento Diálogo e Missão (DM), de 10 de Junho de 1984, n.º 10.
[3] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de 6 de Janeiro de 2001, n.º 40.
[4] BENTO XVI, Mensagem para o 45.º dia Mundial de Oração pelas Vocações, 13 de Abril de 2008, n.º 8.
[5] PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), de 8 de Dezembro de 1975, n.º 14.
[6] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Questa è la Nostra Fede. Nota pastorale sul primo annuncio del Vangelo (QNF), de 15 de Maio de 2005, n.º 2.
[7] Em 1 Ts 1,4, Paulo dirige-se com afecto ao cristãos de Tessalónica, usando a expressão «irmãos amados por Deus», em que «amados» (êgapêménoi) se apresenta no particípio perfeito passivo do verbo agapáô, traduzindo assim um amor novo, vindo de Deus, que começou a mar e a amar continua ainda hoje, pois é esse o sentido do perfeito grego.
[8] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota Pastoral «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[9] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de 6 de Janeiro de 2001, n.º 40.
[10] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota Pastoral «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[11] Lembra BENTO XVI, na sua Mensagem para o Dia Missionário Mundial 2008, de 11 de Maio de 2008, n.º 4. O Dia Missionário Mundial ocorre este ano no dia 19 de Outubro.
[12] Estas propostas encontram-se também na Nota Pastoral da CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[13] L. DE LORENZI, La vida spiritual de Pablo, in G. BARBAGLIO (ed.), Espiritualidad del Nuevo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1994, p. 92.

D. António Couto
Presidente da Comissão Episcopal Missões

quarta-feira, 18 de junho de 2008

NOTA PASTORAL SOBRE O CONGRESSO MISSIONÁRIO

CONGRESSO MISSIONÁRIO, OPORTUNIDADE A VALORIZAR

Aproxima-se a realização do Congresso Missionário Nacional que terá lugar no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, de 3 a 7 de Setembro de 2008. Este Congresso é convocado pela Conferência Episcopal Portuguesa e tem por lema mobilizador: “Portugal, vive a Missão, rasga horizontes”.
Pretende esta iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa oferecer à Igreja em Portugal uma oportunidade especial para revigorar os dinamismos da Missão que, brotando de Deus Pai, se fazem pessoa em Jesus Cristo e prosseguem, hoje, na Igreja animada pelo Espírito Santo.

A Missão é sempre fruto do amor com que Deus nos ama, vivendo em comunhão connosco e fazendo-se doação em benefício de toda a humanidade. A Missão é verdadeiramente o movimento centrípeto do coração da Igreja que se esforça incansavelmente por ser fiel ao seu Senhor, Jesus Cristo. Expressa-se na permuta de dons com que o Espírito Santo a enriquece: pessoas, comunidades, movimentos e associações. Concretiza-se na reciprocidade de bens materiais e espirituais, étnicos e culturais, que se oferecem e recebem.
A Missão constitui a prova mais qualificada da fé cristã, a energia mais genuína da esperança apostólica e a ousadia mais criativa da caridade eclesial.

O espírito da Missão é o mesmo que tem orientado os nossos trabalhos pastorais, designadamente no ano apostólico, prestes a findar, em que dedicámos uma atenção especial aos mais pobres. Trata-se de viver a comunhão com Deus para nos sentirmos disponíveis e prontos para o serviço requerido pelas necessidades dos nossos irmãos em humanidade. Seja aqui entre nós ou em países distantes. Gozem de bens materiais que se apoderaram do coração ou estejam no limiar da pobreza. Tenham para com Jesus Cristo um sentimento difuso ou um amor apaixonado capaz do maior heroísmo.

O Congresso faz-nos percorrer os caminhos da Missão, aqui e agora. O seu programa apresenta a designação das temáticas, todas sempre oportunas, e o nome de qualificados especialistas. Todavia, o grande protagonista de toda a acção da Igreja, sobretudo missionária, é o Espírito Santo que, desde já, invocamos para que nos conceda a todos a sua graça, multiplique em nós os seus dons e faça crescer entre nós a urgência da nova evangelização.

Todos reconhecemos e damos graças ao Senhor pelo bem imenso que se tem vindo a fazer em prol das missões: A vida generosa dos nossos missionários, as experiências de voluntariado de curta ou longa duração, as semanas de animação missionária nos arciprestados, a geminação de famílias e de comunidades, o acolhimento de estudantes que procuram a Universidade ou os Institutos Superiores, a ajuda amiga aos imigrantes que esperam trabalho e anseiam por uma vida digna entre nós, o contributo económico para as Obras Missionárias Pontifícias.

É muito ainda o que falta e se pode fazer. Por isso, recomendo insistentemente a todos os párocos que valorizem os subsídios recebidos da Comissão Episcopal das Missões e do nosso Secretariado Diocesano de Animação Missionária. Peço que se aproveite o envio dos jovens voluntários que nos meses de Verão fazem experiências missionárias e se promovam encontros de reflexão e de oração, convívios e festas em que haja espaço para a partilha de bens e para o testemunho. Exorto vivamente as famílias, sobretudo as que sentem a urgência da causa missionária, a que tomem iniciativas que julguem adequadas e acompanhem com solicitude e gratidão os que se dedicam inteiramente à Missão.

Quero dirigir uma palavra especial às Irmãs contemplativas, sobretudo às Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor que estão a celebrar as festas Jubilares do seu regresso a Aveiro. Que o exemplo de Santa Teresa do Menino Jesus – vossa Irmã na Ordem e Padroeira das Missões – vos estimule a viverdes cada vez mais a verdade do Amor que é o coração da Igreja e assim a estardes presentes na vanguarda da Missão.

O Congresso Missionário oferece-nos uma excelente oportunidade apostólica e missionária a anunciar desde já a Missão Jubilar Diocesana que queremos viver em Aveiro ao celebrar o Jubileu da Diocese. É desejo de todos que saibamos aproveitar esta oportunidade evangelizadora, com a sabedoria que vem do Espírito, com a bênção de Maria que nos deu o Grande Missionário do Pai e com a intercessão de Santa Joana que se dedicou inteiramente a Jesus Cristo após o regresso do Rei, seu pai, da expedição que tinha feito à África.

D. António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro

Foto: ML2000

terça-feira, 17 de junho de 2008

DIOCESES EM MARCHA ... GUARDA

Carta ao Clero
Rev.do(s) Padre(s)

O Secretariado Diocesano das Missões vem mais uma vez relembrar que este ano é realizado o Congresso Missionário Nacional (CMN), em Fátima de 3 a 7 de Setembro. Aqui enviamos o programa, o cartaz e os formulários de inscrição. As inscrições devem ser efectuadas até dia 31 de Julho para as Obras Missionárias Pontificias ou então directamente connosco. No caso de preferir(em) a primeira hipótese gostaríamos que nos desse o número das pessoas que irão participar. Para ajudar a preparar as comunidades, a equipa do SDM está na disposição de se deslocar ao(s) seu(s) conjuntos de paróquias para efectuar uma formação específica. Relembro, ainda, que existe um documento que é preparatório do mesmo CMN: A Encíclica «Fidei Donun» vista à luz do Concílio Vaticano II e do Magistério Missionário Pós-Conciliar (estudo feito pelo Prof. José Ramón Villar da Faculdade de teologia da Universidade de Navarra), que deve ser pedido para nós e é de distribuição gratuita.
Relembro ainda que o SDM tem um Boletim: “Sorrisos” que integra o Voc’acção, o Boletim do Secretariado Diocesano de Pastoral Vocacional. Este boletim tem a colaboração da Pastoral Vocacional, do Pré-Seminário e das Missões. Se for do interesse recebê-lo, bimensalmente, é só dizer o número de exemplares desejados (seria muito bom que fosse promovida a divulgação deste boletim nas paróquias).
“A Missão no coração da Igreja” – subsídios para animação Missionária, é o manual de catequeses que também dispomos para as paróquias. Estamos, neste momento, a realizar um anexo com propostas concretas para a dinamização de cada uma das catequeses nele contidas. Quando o desejar(em) é só pedir (também é de distribuição gratuita).
Renovo, ainda a disponibilidade para uma presença mais real das Missões na(s) sua(s) comunidade(s) através de um projecto já “construído” e pronto a ser desenvolvido em três/quatro semanas nas várias unidades pastorais existentes pela diocese. Tem o título de: Desafio dos Oito, e pretende dar a conhecer os Oito Objectivos Do Milénio (8 ODM’s). Depois de uma análise concreta da realidade de cada comunidade, fazer com que cada pessoa se sinta chamada à missão no seu meio, través da vida quotidiana sentir-se missionário.
Por fim, relembrar que o grupo Guard’África (voluntariado missionário da Diocese da Guarda) já está à espera de novos voluntários para 2008/2009. Se tiver(em) alguém que conheça(m) peça(m)-lhe para se dirigir o quanto antes até nós.
Para fazer(em) pedidos de formações, material ou fazer(em) propostas contactem-nos para o nosso email: sdmissoesguarda@gmail.com / guardafrica@yahoo.com.br ou então para 96 619 11 51. Acompanhe(m) as nossas actividades através dos nossos blogues: http://www.sdmissoesguarda.blogspot.com/ / http://www.guardafrica.blogspot.com/.

Agradecidos pela oração e colaboração,
permanecemos unidos na Missão de anunciar Cristo.

Pe Ângelo Miguel Nabais Martins
Director Diocesano do SDM


segunda-feira, 16 de junho de 2008

DIOCESES EM MARCHA ... AVEIRO

O Congresso Missionário Nacional deste ano é a oportunidade que chega no tempo certo. Deverá ser O congresso e não mais um congresso. Dele sairá um rumo!
"Portugal, vive a Missão, rasga horizontes". É sob este signo que se reunirão todos os congressistas, que são todos os que fazem da Igreja um espaço global, os que acreditam numa visão mundial da Igreja como cumpridora de uma Missão de bem, da paz, de Amor, tudo isto por causa do Cristo que vem libertar o mundo da pobreza, da miséria, da tristeza, da injustiça. Fá-lo até ao extremo, até à própria vida, na absoluta liberdade de se dar a si mesmo. Esta Igreja desinstala. É um actuar local, conjunto, e por isso à escala global.
O congresso estabelecerá a palavra da Igreja de Portugal nessa acção de fazer o mundo um sítio melhor. Apontará linhas e reflexões para o que pode ser a evangelização por esse mundo fora em português de Portugal. Apontará frentes de trabalho, da acção pelos pobres a que o Amor evangélico convida.
Decisivo portanto, tem de ser bem preparado, bem rezado, bem festejado. Antes, durante e depois, para que o Espírito de Sabedoria connosco caminhe e nos indique sempre a melhor maneira de colocar em prática a imitação de Cristo, por esse mundo além de fronteiras de países, além de fronteiras da História.
É isso que a Diocese se propõe: fazer a sua parte, em todo o lado, por gente de todas as idades! Pequeninos travessos, jovens com irreverência, sonho e desinstalação, adultos esclarecido, com fé na oração da acção.
Este guião tem um propósito: ser factor de unidade em torno do mesmo sonho. Pretende fornecer pistas, propor actividades do que se possa fazer! Nenhuma é obrigatória, quase nenhuma tem data marcada. Podem-se fazer como se quiser, quando se quiser, ao sabor daquilo a que o Espírito convidar!
É assim, ao preparar, festejar e rezar pelo congresso que todos contribuiremos, que todos teremos uma palavra a dizer quanto ao futuro da nossa Igreja missionária, aquém e além fronteiras, promotora da Paz, do Amor e da Justiça, fazendo do Mundo o sítio que Deus sonhou!
Fizémos um guião com alguns momentos de reflexão, oração e outras actividades no âmbito da preparação do congresso missionário.
Para os jovens, o guião está online aqui:

http://www.diocese-aveiro.pt/congressomissionario2008.asp

Pedro Neto,
Secretariado Diocesano de Animação Missionária

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A MISSÃO É UM DEVER E UM DIREITO

Mensagem do Santo Padre aos Directores Nacionais das OMP de todo o mundo

Também nesta fase da história da Igreja, que se reconheceu pela sua natureza missionária, o carisma e o trabalho das Obras Missionárias Pontifícias não se esgotaram e não devem faltar. Ainda é urgente e necessária a missão de evangelizar a humanidade. A missão é um dever, ao qual é necessário corresponder: “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor. 9, 16). O Apóstolo Paulo, a quem a Igreja dedica um ano especial, na recordação dos dois mil anos do nascimento, compreendeu no caminho de Damasco e depois experimentou ao longo do sucessivo ministério que a redenção e a missão são actos de amor. É o amor de Cristo que o impele a percorrer os caminhos do império romano, a ser arauto, apóstolo e propagador do Evangelho (cf. 2 Tm 2, 1.11), e a fazer-se tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo o custo (cf. 1 Cor 9, 22). “Quem anuncia o Evangelho participa na caridade de Cristo, que nos amou e se entregou por nós (cf. Ef 5, 2), é seu embaixador e súplica em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus (cf. 2 Cor 5, 20)!” (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota sobre alguns aspectos doutrinais da evangelização, n. 10). É o amor que nos deve impelir a anunciar com franqueza e coragem a todos os homens a verdade que salva (cf. Gaudium et spes, 28). Um amor que se deve irradiar em toda a parte e alcançar o coração de cada homem. Com efeito, os homens esperam Cristo.
As palavras de Jesus: “Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (Mt28, 19- 20), ainda constituem um mandato missionário para a Igreja inteira e para cada fiel de Cristo. Este compromisso apostólico é um dever e também um direito irrenunciável, expressão própria da liberdade religiosa, que tem as suas correspondentes dimensões ético-sociais e ético-políticas (cf. Dignitatis humanae, 6). Às Obras Missionárias Pontifícias é pedido que façam da missião ad gentes o paradigma de toda a actividade pastoral. A elas, e de modo particular à União Missionária Pontifícia, cabe a tarefa de “promover, ou seja, de difundir cada vez mais no povo cristão o mistério da Igreja, isto é, um espírito missionário concreto” (Paulo VI, Graves et increscentes). Estou persuadido de que continuareis a comprometer-vos com todo o vosso entusiasmo, para que as vossas Igrejas locais assumam cada vez mais generosamente a parte de responsabilidade que lhes compete na missão universal.
A todos, a minha Bênção.

Bento XVI
Maio de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A MISSÃO É UM DEVER E UM DIREITO (Cont.)

Mensagem do Santo Padre aos Directores Nacionais das OMP de todo o mundo


A Missão é uma tarefa e um dever de todas as Igrejas que, como vasos comunicantes, partilham pessoas e recursos para a realizar. Cada Igreja local é o povo escolhido entre as gentes, convocado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, para, “fazer conhecer as maravilhas daquele que os chamou das trevas para a sua luz admirável” (Lumen gentium, 10). Ela é o lugar onde o Espírito, se manifesta com a riqueza dos seus carismas, confiando a cada um dos fiéis o chamamento e a responsabilidade da missão. A sua missão é de comunhão. Aos germes de desagregação entre os homens, que a experiência quotidiana mostra tão arraigados na humanidade por causa do pecado, a Igreja local opõe a força geradora de unidade do Corpo de Cristo. O Papa João Paulo II podia afirmar com alegria que "se multiplicaram as Igrejas locais, dotadas do seu Bispo, clero e agentes apostólicos...a comunhão entre as Igrejas contribui para um vivo intercâmbio de bens espirituais e de dons...está-se a afirmar uma nova consciência, isto é, de que a missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, às instituições e associações eclesiais” (Redemptoris missio, 2). Graças à reflexão que desenvolveram ao longo destas décadas, as Obras Missionárias Pontifícias inseriram-se no contexto dos novos paradigmas de evangelização e do modelo eclesiológico de comunhão entre as Igrejas. E claro que elas são Pontifícias, mas por direito são inclusivamente episcopais, enquanto instrumentos nas mãos dos Bispos para realizar o mandato missionário de Cristo. “Embora sejam as Obras do Papa, as Obras Missionárias Pontifícias são também de todo o Episcopado e de todo o Povo de Deus” (Paulo VI, Mensagem para o Dia Mundial Missionário 1968). Elas são o instrumento específico, privilegiado e principal para a educação no espírito missionário universal, para a comunhão e a colaboração intereclesial no serviço do anúncio do Evangelho (cf. Estatuto, 18).


(continua no próximo post)
Foto: Editrice Millenium

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A MISSÃO É UM DEVER E UM DIREITO

Mensagem do Santo Padre aos Directores Nacionais das OMP de todo o mundo


Senhor Cardeal,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Estimados irmãos e irmãs.

É-me particularmente grato encontrar-me com todos vós, que estais directamente comprometidos nas Obras Missionárias Pontifícias, organismos ao serviço do Papa e dos Bispos das Igrejas locais, para realizar o mandato missionário de evangelizar os povos até aos extremos confins da Terra. Ao Senhor Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, dirijo em primeiro lugar o meu cordial agradecimento pelas palavras que me transmitiu em nome de todos os presentes. Faço extensiva a minha saudação ao Secretário e a todos os colaboradores do Dicastério missionário, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas. Caríssimos, graças à vossa intensa obra a afirmação do Concilio, segundo a qual “toda a Igreja é por sua natureza missionária, torna-se uma realidade concreta”. As Obras Missionárias Pontifícias têm o carisma de promover entre os cristãos a paixão pelo Reino de Deus, que deve implantar-se em toda a parte através da pregação do Evangelho. Tendo nascido: com esta inspiração universal, elas constituíram um instrumento precioso nas mãos dos meus Predecessores, que as elevaram à categoria de Pontifícias, recomendando aos Bispos que as instituíssem nas respectivas dioceses. O Concilio Vaticano II reconheceu justamente o lugar prioritário das mesmas na cooperação missionária, uma vez “que elas são meios quer para imbuir os católicos, desde a infância, de um sentido verdadeiramente universal e missionário, quer para encorajar uma eficaz colecta de subsídios para o bem de todas as missões, segundo a necessidade de cada uma" (Ad gentes, 38). O Concílio aprofundou de modo especial a natureza e a missão da Igreja particular, reconhecendo a sua plena dignidade e responsabilidade missionária.

(continua no próximo post)