2. A missão como encontro de culturas
A segunda parte dos Actos dos Apóstolos, através de Paulo, apresenta um rosto novo da missão. Paulo lança uma campanha de evangelização planificada: passa dos judeus para os pagãos, vai de Antioquia da Síria a Chipre e à Ásia Menor, da Ásia Menor passa para a Europa. Em três campanhas que nos fazem lembrar Alexandre Magno, implanta a fé em todos os grandes centros do mundo romano. Antioquia, Éfeso, Tessalónica, Atenas e Corinto. Ele inicia um ciclo de missão que para o autor dos Actos dos Apóstolos se tornará paradigmático para as gerações futuras.
Atenas era o lugar ideal para Lucas ilustrar a relação entre o evangelho e a cultura. O primeiro encontro de Paulo realiza-se no areópago, na praça central, onde se encontra não somente o mercado, o tribunal, mas também onde se travam todas as discussões sobre filosofia e religião. Neste ambiente, Paulo propõe o evangelho já não na sinagoga, mas num contexto leigo e profano, o centro cultural (Actos 17,16-17). No areópago de Atenas Paulo encontra alguns filósofos representantes das correntes do pensamento em moda: o epicurismo e o estoicismo.
No seu ministério Paulo encontra também as grandes realidades políticas do mundo romano, logo desde a sua primeira etapa, em Chipre, onde converte o pró-consul Sérgio Paulo (Actos, 13,4-12).
Encontra também o grande comércio greco-levantino com a conversão de Lídia, negociante de púrpura, em Filipos, a indústria do couro e das tendas com Áquila e Priscila, a arte da fundição do cobre, com Alexandre (2 Tim 4,14).
Encontrou as mais diversas culturas nas cidades que evangelizava e que eram formadas por emigrantes e estrangeiros vindos de todas as distâncias: os Gálatas, cuja língua desconhecia, os gregos, judeus, romanos, egípcios, orientais, a cultura ateniense, quando lidou com os epicuristas e estóicos que o quiserem ouvir no areópago de Atenas, etc.
Encontrou diversas religiões: os judeus, os judeo-cristãos, os tementes a Deus, os prosélitos, os discípulos de Artemisa, os pagãos, os cultos orientais, a religião pagã, o deus desconhecido do areópago de Atenas.
Encontrou as diversas profissões daquele tempo: filósofos, epicuristas, estóicos, soldados, vinhateiros, marinheiros, magistrados, tendeiros, fundidores de cobre, os astrólogos e adivinhos de ciências ocultas, etc.
Encontrou os mais diversos estratos sociais: nobres, homens livres, escravos, libertos.
Em geral, salvo o caso de Artemisa em Éfeso, o seu encontro com estas diferentes culturas é frénico, isto é: Paulo dirige-se a este mundo com acolhimento e simpatia. O encontro do Evangelho com as realidades terrestres é pacífico e simpático.
Assim, a primeira imagem que temos da missão de Paulo é a imagem de uma missão itinerante, que atravessa as mais diversas culturas e que procura enraizar o evangelho nos valores locais.
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Cont. no próximo Post)
Foto: João Cláudio Fernandes
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