terça-feira, 13 de outubro de 2009

POR UMA IGREJA MAIS MISSIONÁRIA (CONCLUSÃO)


Estudar a Missão

AE – Qual a importância das Jornadas Missionárias?

AC - As Jornadas, organizadas anualmente, são um ponto de encontro e um ponto de partida. Uma verdadeira plataforma de múltiplos encontros que atinge pessoas envolvidas no trabalho missionário, dentro e fora de Portugal, mas que acolhe também muitos que chegam pela primeira vez. Uns trazidos por amigos, outros para ver o que é e como é, outros porque, sabendo-o ou não, Deus os enviou para cá. É um belo tempo de encontros e partilhas. Só por isto, já seria importante a sua realização. Mas há também desafios e provocações, sementes que são lançadas, não para o ar, mas para o coração das pessoas. É a oração, a música, a reflexão feita, que hão-de deixar novos dinamismos em quem vem.

AE - É possível ser missionário sem se sair de casa?

AC – Sim, é possível. Basta ter um coração aberto ao mundo e amar. Santa Teresinha do Menino Jesus foi proclamada padroeira das missões, e nunca saiu do convento. Mas tinha um coração à dimensão de Deus e de todos os irmãos do mundo. Escreveu: “No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor”. Escreveu em papel e na vida.

Um missionário não se mede pelas inúmeras viagens que possa fazer. Um cristão que não esteja em comunhão com as pessoas do mundo e apenas se preocupe com a sua paróquia, obviamente vive na cadeia. É preciso viajar também por dentro. Fazer viagens intransitivas, rasgar avenidas no próprio coração.

Depois, não há dicotomia entre ser cristão e ser missionário. Às vezes somos levados pensar que somos muitos cristãos, mas que há poucos missionários, porque pensamos que são duas coisas diferentes. Ora, temos de tomar consciência de que não duas vocações: primeira e fundamental, a vocação cristã, a que se pode vir, porventura, um dia a acrescentar a missionária. Trata-se de uma visão incorrecta, embora muito difundida. Na verdade, há apenas uma única vocação, pois ser cristão e ser missionário é a mesma coisa.

AE - A missão era entendida como ir para outros Continentes, mas cada vez se fala mais de uma missão na Europa…

AC – Durante muito tempo, passou-se a ideia os missionários eram os que deixavam a sua terra e partiam para outras paragens. A missão era levada a cabo por especialistas, uma espécie de super-homens, que integravam Institutos Missionários. Nesse tempo, a Igreja local, a diocese e a paróquia, mal conhecia, mal via os missionários, e pensava que a missão era só para essa espécie de super-homens. Não era tarefa da Igreja local e do cristão comum. A Igreja local e o cristão comum, quando muito, contribuíam com a sua esmola, no Dia Missionário Mundial, para apoiar os missionários lá longe.

O II Concílio do Vaticano alterou em muito esta concepção, fazendo ver que o sujeito primeiro da missão é a Igreja local ou particular. Entenda-se: somos missionários e todos somos responsáveis pela missão. A mudança veio dizer que a missão não é obra de especialistas, mas que a diocese e a paróquia são missionárias. E que todos os cristãos, por motivo do seu baptismo, são igualmente missionários. É óbvio que, se espaço da Diocese e da Paróquia, há missionários por toda a vida, de doação radical e total, então é toda a Diocese e Paróquia que serão também enriquecidas com esse dom. Mas esse dom está integrado na Igreja local, e não à margem dela.

É assim que cada Igreja local ou particular se torna sujeito primeiro da missionação. Missão inadiável e não delegável.

iN Agência Ecclesia

Foto: JCF

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