A missão do Nzeto, onde trabalho, situa-se no norte de Angola. Em 1982 foi assumida pela Congregação do Verbo Divino. No ano seguinte, as Irmãs Servas do Espírito Santo juntaram-se a nós. Desde aquela data os Missionários do Verbo Divino estiveram sempre ao serviço destas comunidades; nem o tempo da guerra nos fez abandonar a missão. Pelo contrário, foi um período de fortalecimento dos laços entre as duas congregações e a população em geral. O tempo de guerra levou à descoberta da Igreja na sua universalidade e que o seu caminho é o homem sem distinção de cor, etnia, opção política, confissão ou religião. O lugar que a Igreja católica tem hoje na sociedade angolana é, em grande parte, fruto do sacrifício dos missionários e das missionárias, assim como dos leigos, que tiveram a coragem de permanecer junto com o povo nos tempos mais difíceis, às vezes, dando até a própria vida.
Cheguei ao Nzeto em Novembro de 2005, depois dos meus estudos em Portugal, onde pude viver também a experiência pastoral na paróquia do Prior Velho e na comunidade de Terraços da Ponte (naquela altura mais conhecida como a Quinta do Mocho). Hoje dou graças a Deus por toda experiência que vivi na terra lusitana. Chegando a Angola, tive de entrar numa realidade que não foi muito fácil. O espírito tinha muita vontade, mas o corpo precisava de se habituar a este novo mundo. É verdade que no início me habitou a tentação de voltar, não por causa do cozido à portuguesa, do arroz de cabidela ou do famoso bacalhau, nem pelo facto de deixar um terço do meu coração junto dos meus amigos, mas sobretudo porque me sentia inútil. As contas que fazia eram assustadoras. Nos primeiros cinco meses no Nzeto tive sete paludismos; no total mais que sessenta dias de cama. Pensei então: que pode valer um missionário que fica sempre na cama? Mas, como aqui se diz: Deus é grande! Hoje o meu corpo já se habituou e passa as malárias com mais facilidade.
Em 2005, no Nzeto, além da população local, vivia apenas um senhor português (o seu filho era antigo jogador do Sporting de Braga). Eu tornei-me o “segundo branco da vila”. Hoje a realidade mudou. Por causa da reconstrução do país temos no Nzeto várias empresas, cujos trabalhadores são de diversos países, tais como: China, Líbano, Israel, Ucrânia, Brasil, Itália, Namíbia, África do Sul e, obviamente, Portugal. Os portugueses são actualmente um número considerável.
É aqui que nasce um novo desafio para esta missão. Que fazer para que estas pessoas possam integrar-se na comunidade cristã? Normalmente são homens que deixaram a sua terra e a família para a poderem sustentar melhor. As condições a que este tipo de trabalho os expõe, e a própria alimentação, fazem com que o seu espírito tenha de ser forte para não perderem os valores que aprenderam ao longo da vida.
Após a guerra, com a melhoria das condições, do desenvolvimento em geral, o sentido de paz e de segurança começou a crescer na população de Angola. O próprio modo africano de olhar a vida faz com que as famílias sejam muito numerosas. Ainda hoje há muitos homens com várias mulheres com as quais têm filhos que se tornam uma herança para eles. Aqui a Igreja têm muito para fazer. Na sua visita, o Papa Bento XVI, entre vários aspectos, destacou a recuperação dos valores humanos e familiares.
(CONTINUA NO PRÓXIMO POST)
Pe. Emílio Kalka - Missionário do Verbo Divino em Angola
iN Jornal Contacto ,SVD, nº 175 (Set-Out '09)
Foto: DR
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