A guerra fez com que a corrupção tenha chegado a níveis difíceis de imaginar. Um simples exemplo: ao ser parado pela polícia, antes de pedir os documentos ou verificar outros aspectos, a primeira coisa que se vai escutar é: «Vais pagar o carregamento do meu telemóvel?» Ora, em números mínimos, estamos a falar de sete euros! Se não o fizeres, as coisas começam a complicar-se. A política de gasosa, como aqui se chama, mostra como o suborno foi entrando na sociedade. Partindo das camadas mais altas, chega até aos funcionários e aos trabalhadores mais simples. Um aluno passará mais facilmente de ano recorrendo a este tipo de esquemas. Um professor, para ser colocado mais perto da cidade, terá de entrar no esquema. Se alguém pretende receber um documento qualquer, num tempo razoável, em vez de esperar meses ou anos, é questão de entrar no esquema. Este fenómeno é tão comum como se existisse desde o tempo de Adão e Eva. A Igreja tem de denunciar tudo o que vai contra a dignidade da pessoa e do bem comum. A rádio Ecclesia ainda não chega a todos os lugares, assim como, os jornais ou a internet. No entanto, o trabalho de consciencialização e mudança de mentalidade já se tornam visíveis.
Não é fácil trabalhar no sentido mencionado. Há muitas dependências, sobretudo nos lugares onde se sente a falta dos bens elementares ou os preços são tão elevados que não se pode comprar mesmo aquilo que parece necessário. Só para dar um exemplo: uma garrafa de água mineral de litro e meio custa quase dois euros, o que corresponde a nove litros de gasóleo! Como podemos dizer às mães que dêem água mineral às crianças, se o preço é tão alto e ela própria não trabalha! E, se ainda para complicar, depois de ficar grávida, abandonada pelo namorado!
Mas não podemos ver tudo tão escuro. Quem já vive há algum tempo em Angola pode dar-se conta que este país é um país de esperança, onde o povo, na sua humildade, irá conquistar melhores condições.
Algo que nos falta aos europeus é alegrarmo-nos com as coisas mais pequenas que temos. Que alegria a de uma criança angolana quando recebe uma caneta ou uma bolacha! Nem se compara à alegria das crianças nos países desenvolvidos para quem a Play Station ou a boneca Barbie são o pão de cada dia.
Posso não ser um modelo de missionário, mas tenho a consciência de que dou de mim o que melhor tenho. Ponho a confiança no nosso Pai que conhece o coração de cada um de nós. Não esperamos lucros, prémios, nem reconhecimentos. Pedimos apenas a vossa oração para que esta força de vontade de servir aos mais desprezados e humildes nunca nos falte.
Ainda falando de prémios, eu já recebi o meu. Um dia no grupo juvenil fiz um pequeno teste onde coloquei várias perguntas. Uma delas dizia o seguinte: «Quem é, para ti, a pessoa de referência?» Imaginei que iriam mencionar alguns nomes, tais como Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, etc. Para meu espanto, entre as várias respostas, começou a aparecer o meu nome. Perguntei, então, porquê eu? Eis a resposta que me deram: «Desde que o padre Emílio está connosco muita coisa mudou para melhor e você nos ensina muita coisa boa, sempre tem tempo para nos ajudar e estar connosco». Não poderei negar que o meu coração se encheu com lágrimas de felicidade.
Pe. Emílio Kalka - Missionário do Verbo Divino em Angola
iN Jornal Contacto SVD, nº 175 (Set-Out09)
Foto: DR
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