4- Ser missionário no regressar
Ao finalizar esta breve reflexão gostaria de fazer uma referência a uma etapa que, às vezes, passa despercebida: o regresso, temporário ou definitivo, do missionário à Igreja que o enviara. No Evangelho de São Lucas, Jesus envia os discípulos dois a dois em missão, à sua frente. Eles partiram, tentaram pôr em prática os ensinamentos do Mestre e, mais tarde, “voltaram cheios de alegria” contando a Jesus tudo o que tinham realizado. Estavam particularmente radiantes porque, diziam eles, “até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome”. Lendo o relato evangélico notamos que Jesus refreia o optimismo e o entusiasmo dos discípulos, recordando-lhes que tudo aquilo que fizeram é devido ao poder de Deus e não ao mérito pessoal de cada um deles. Aliás, Jesus parece recomendar que não se deixem cegar pela contemplação dos prodígios realizados (Lc 10,17-20).
Regressar é, neste sentido, voltar às origens, à comunidade que enviou, à fonte de onde brota a vocação missionária. Regressar faz bem à missão, fortalece os laços entre as comunidades, cria elos recíprocos, faz crescer a unidade e promove a partilha, não só de bens materiais mas, sobretudo, de experiências de fé. Recordemos a este propósito o texto dos Actos dos Apóstolos que descreve o regresso de Paulo e Barnabé a Antioquia após a sua primeira viagem missionária (Act 14, 26-28). Reuniram a comunidade que os tinha enviado e “contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé”. O regresso serve, pois, para animar a comunidade cristã e fazer crescer a esperança narrando as maravilhas que Deus faz por esse mundo fora.
Os padre ou as religiosas que vão regularmente de férias ao seu país natal, ou que regressam definitivamente, os leigos que retomam a sua profissão após um ou dois anos na missão e os voluntários que regressam a casa após um curto período de trabalho missionário fora da sua pátria, voltam diferentes, sobretudo se conseguiram viver plenamente as etapas anteriores: ser enviado, partir, e chegar ao destino.
Muitas vezes, o regresso custa tanto como a partida, porque voltar também é partir… de lá para cá. A partida de José Freinademetz de Puoli para outra região da China significou uma pequena dor no seu coração como ele escreve: “Desta vez não pude conter as lágrimas. Começava a querer demasiado aos meus cristãos de Puoli... mas o missionário não deve estar preso a nada e menos aos seus filhos espirituais. O meu melhor lugar será sempre aquele em que Deus necessite de mim.”
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