sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 6ª PARTE

Um dos problemas que afectam o ser humano é a dispersão. Na verdade, há pessoas que, apesar de muito andarem, nunca chegam a lado nenhum; correm constantemente de um lugar para outro, profissional e afectivamente, de emprego para emprego, de relação para relação. Na Igreja também há gente assim: cristãos que nunca estão felizes com o lugar que ocupam, com o serviço que prestam ou com a função que exercem. O mesmo acontece, às vezes, na vida missionária: há gente em constante movimento. Hoje estão, por exemplo, na Nova Guiné, amanhã no Brasil, depois de amanhã na Nigéria e logo a seguir na China; hoje pertencem a esta comunidade, amanhã àquela e depois a outra. 

Estes missionários estão em permanente atitude de mudança que pouco ou nada tem a ver com a disponibilidade e o desprendimento evangélicos. A dificuldade em chegar ao destino incapacita-os para criar raízes, aprender a língua e os costumes do povo. Não têm tempo para levar a cabo um trabalho com dedicação, princípio, meio e fim. Quando não se chega verdadeiramente ao destino, não se podem criar raízes, estabelecer laços de comunhão e não se pode amar profundamente o povo a quem Deus nos enviou. A missão pode, mesmo assim, ser mediática, espectacular e até heróica;  mas, infelizmente, pouco relevante. É pertinente recordar a este propósito as palavras de Jesus “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc 12, 34). Estas palavras poderão ser relidas no sentido de que enquanto o povo e a terra para onde fomos enviados não for o nosso tesouro, o nosso coração estará sempre ausente.

Todos conhecemos, felizmente, muitos missionários - consagrados e leigos - que conseguiram, não sem esforço e sofrimento, fazer um caminho de aproximação ao seu povo, abandonando as certezas e os hábitos da sua cultura de origem. O missionário deve procurar fazer a sua casa e o seu lar no meio do povo onde trabalha, criando aí raízes. Quem assim vive descobre que a maior riqueza da missão são as pessoas e a melhor obra que se pode deixar atrás é o seu crescimento na comunhão fraterna, na responsabilidade eclesial e no compromisso diário na sociedade.

Texto: Pe. José Antunes
Continua no próximo post
Foto: Arquivo/Lusa 

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