quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - Conclusão

Nalguns países é corrente fazer-se uma celebração de envio, quando os missionários regressam definitivamente à sua pátria de origem ou vão passar alguns meses de férias. No Ghana, por exemplo, isto é uma prática comum para desejar boa viagem ao missionário e para lhe confiar as notícias da comunidade que deve comunicar àqueles que vão o receber de volta. O esquema e o significado simbólico desta celebração estão relacionados com as celebrações tradicionais de bênção aos que partem em viagem para longe da família ou da aldeia. Dessa celebração tradicional faz parte integrante a libação invocando a protecção dos antepassados e a bênção de Deus para a acção a empreender.[1]

A missão é, pois, um caminho para ir e para voltar. Ao regressar começam naturalmente as comparações. De lá, recordam-se com saudade as celebrações cheias de cor, alegria e vida; a tenacidade dos catecúmenos adultos que se preparam para o baptismo durante vários anos, o acolhimento de cada pessoa na comunidade, o papel dos leigos e dos catequistas. Nos momentos em que a vitalidade das igrejas africanas se impõe face à aparente aridez e desolação do cristianismo europeu, recordo as palavras de uma irmã missionária, com muitos anos de missão em Moçambique. Ela costumava dizer que, devido ao clima, em África o milho produz duas vezes por ano e em Portugal só produz uma; por isso, no trabalho pastoral o importante não são os muitos ou poucos frutos, mas o empenho e a dedicação que se coloca no amanho da terra. Regressar pode ser, nesta perspectiva, uma ocasião excelente para evangelizar as Igrejas da velha Cristandade. Voltar pode ser um acto de esperança, um foco de luz que se traz de longe para uma terra arrefecida. Não tenho dúvidas de que a presença dos missionários nas suas comunidades de origem pode ser um grande estímulo para a renovação da Igreja, desafiando os cristãos a estenderam o olhar para além dos problemazinhos do seu campanário, convidando-os ao desprendimento, à partilha, ao  encontro com os outros e à solidariedade.


[1] Nunca esquecerei a celebração de envio que as comunidades de Kintampo realizaram quando regressei do Ghana. As comunidades cristãs juntaram-se numa aldeia mais central, Pamdu-Paninamissa, onde celebrámos a Eucaristia debaixo das mangueiras. Devido ao ambiente de festa não recordo quase nada do que então disse. Lembro-me que, na homilia, pedi às pessoas para ajudarem e encorajarem os vários seminaristas que havia na paróquia e que, devido à emoção, não consegui terminar a última frase da missa. Após a Eucaristia, seguiu-se uma festa, onde fui presenteado com alguns objectos da região e mandioca para a viagem. Depois os  representantes das várias comunidades tomaram a palavra para fazerem o send off, o envio. Recordo que agradeceram a Deus a minha estadia entre eles, invocaram a Sua bênção para a viagem e para o meu futuro campo de trabalho e pediram-me para transmitir à minha família, amigos e confrades, as saudações desta outra família da qual também já fazia parte. A terminar, em duas ou três frases, agradeci a Deus por me ter dado a graça de ter sido  missionário no Ghana, de ter recebido tanta amizade e compreensão e por ter aprendido ser cristão, a ser padre e a ser Igreja.

Texto: Pe. José Antunes

Fim do Post

Foto: Arquivo

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