sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SER MISSIONÁRIO - 3ª PARTE

2 - Ser missionário é partir

O envio requer, naturalmente, um segundo passo: partir. “Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia anunciando a Boa Nova e realizando curas por toda a parte” (Lc 9, 6). Este passo, talvez seja o mais doloroso, pois exige deixar a família, os amigos, a segurança adquirida de quem conhece o meio onde se vive, o trabalho a que se está habituado e a carreira profissional. A partida exige uma atitude de desprendimento, à semelhança dos discípulos enviados por Jesus, a quem pede para não levarem nada para o caminho: “nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas”  (Lc 9, 3).

John Taylor, um bispo anglicano que, durante muitos anos, foi missionário em África afirma que a missão significa ser enviado e que nós só podemos ser enviados do lugar onde estamos para um outro lugar. Se nós  ficarmos onde estávamos antes, das duas uma: ou não fomos enviados, ou  então não partimos. Missão, diz ele, é ir para outro lugar. Esse lugar pode não ser apenas um outro lugar geográfico, pode ser também um outro lugar cultural, como por exemplo, ir para o meio de gente que fala com um sotaque estranho ou tem costumes e tradições diferentes dos nossos. Para Taylor, a imagem da caminhada é uma metáfora sempre válida para falar da missão. Partir, caminhar, é o passo crucial, para que o missionário se coloque no lugar do outro e reconheça as próprias limitações, tornando o seu coração dócil ao Espírito de Deus.

Partir exige sair do lugar onde se está habitualmente. Daí que toda a partida tenha uma conotação geográfica. No passado, os missionários partiam da Europa para a África, a Índia ou o Brasil; deixavam o seu país onde tudo era familiar, - o clima, a fauna, a flora, a língua, os costumes, as regras sociais, - e dirigiam-se para outros lugares geográficos regidos por outros climas, outros costumes e outras tradições. Hoje, como no passado, os missionários continuam a partir, já não só da Europa, mas também de outros continentes, sendo normal encontrar, por exemplo, missionários das Filipinas no Ghana, da Índia no Brasil, da Argentina em Angola.

A partida geográfica é sempre dolorosa. Gostaria, a este propósito e como exemplo significativo, recordar as palavras de um grande missionário do Verbo Divino, São José Freinademetz, ao despedir-se da sua pátria para ir para a China, onde permaneceria até ao fim dos seus dias. Na cerimónia de envio missionário em Steyl, Freinademetz disse que ao deixar as montanhas do seu Tirol natal, a partida fora dura e dolorosa, mas em Steyl encontrara uma nova casa. Mais tarde, a caminho da China, passará ainda pelo Tirol para se despedir. Já no barco, que acabava de largar do porto italiano de Ancona descreve, no seu diário de viagem, a emocionante despedida da família, dos amigos e da deslumbrante paisagem alpina: “Já não estamos mais em solo europeu. Que pensamento extarordinário! A pátria, os amigos e os pais ficaram para trás. Eu tinha construído a minha felicidade na minha terra. Nos primeiros passos do meu caminho sacerdotal só rosas cresceram e estava rodeado por um círculo de amigos e companheiros; porém, agora, tenho de me separar  de tudo e devo começar tudo de novo num novo mundo, ganhar novos amigos, aprender uma língua nova, de certa forma começar outra vez tudo de novo. O que é que tu fizeste? - Mais exactamente, o que é que tu vais fazer? Tu salvarás almas para o céu! E o meu coração ferido ficou curado!”[1] 


[1] F. Bornemann, As Wine Poured Out: Blessed Joseph Freinademetz SVD Missionary in China 1879-1908 (Rome: Divine Word Missionaries, 1984): 44.

Pe. José Antunes

Continua no próximo post

Foto: DR

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