sexta-feira, 22 de outubro de 2010

REDESCOBRIR A MISSÃO


D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal para as Missões, aborda a actualidade missionária em Portugal, destacando a dinâmica que se quer imprimir a partir da carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal».

Missão ad gentes não é tanto uma maneira de demarcar espaços a que haja que levar o primeiro anúncio do Evangelho, mas é mais o modo feliz, ousado, pobre, despojado e dedicado de o cristão sair de si para levar Cristo ao coração de cada ser humano, seja quem for, seja onde for.

É assim que D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal para as Missões, aborda a actualidade missionária em Portugal, destacando a dinâmica que se quer imprimir a partir da carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal».

Agência ECCLESIA (AE) - Num contexto de progressiva secularização, recentemente recordada pela CEP e pelo próprio Papa, agudiza-se a necessidade de uma “primeira evangelização” em Portugal?

D. António Couto (AC)- A evangelização é sempre “primeira”. E só sendo “primeira”, é verdadeira. E “primeira” significa aquela que Jesus mandou fazer aos seus Apóstolos e discípulos, ao estilo de Jesus Bom Pastor, pobre e humilde, sem ouro, nem prata, nem cobre, nem duas túnicas, totalmente devotado ao Pai e às suas ovelhas, todas suas, quer as que estão perto quer as que estão longe ou andam perdidas, sem olhar às etiquetas do mundo de então. É esta Evangelização que a Igreja tem sido sempre chamada a fazer, ao estilo de Jesus, e não pode deixar de fazer, sob pena de se desdizer, perdendo a sua identidade. Disse-o bem o Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de 8 de Dezembro de 1975, n.º 14: «Anunciar o Evangelho constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar». A recente Carta Pastoral da CEP leva o título significativo de «Como Eu vos fiz, fazei vós também». Aquele como inicial é determinante para nos agrafar, não só ao fazer de Jesus, mas ao modo como Ele faz. É claro. Já não basta converter ou reconverter estruturas pastorais. É mesmo necessário e preliminar que comecemos por nos convertermos nós ao estilo de Jesus, ao como fazer de Jesus. Portanto, para um cristão e para a Igreja, a evangelização tem de ser sempre “primeira” em qualquer tempo e em qualquer lugar. Nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se lhe pode antepor. Ela é a nossa graça, a nossa maneira de ser.

A forma como a pergunta está formulada pode deixar supor que há outras maneiras de se ser cristão e de viver em Igreja. E que só agora, nesta «noite do mundo», em que vemos o chão a fugir-nos debaixo dos pés em Portugal e em toda a Europa, é que se torna necessário lançar mãos da “primeira evangelização”. Esta suposição pode levar a pensar que a referida “primeira evangelização” é uma coisa excepcional a usar só em situações excepcionais. Raciocínio viciado. A “primeira evangelização” ou a “evangelização primeira” ou “primeiro” é a normal, quotidiana maneira de ser da Igreja e do discípulo de Jesus. O tempo em que vamos requer lucidez e determinação. Reconhecer que não temos cumprido a nossa missão de evangelizar como Jesus nos mandou é um dado que se nos impõe. Bater com a mão no peito por nos termos acomodado e afastado do estilo de Jesus é decisivo. Pusemos, entretanto, muitas coisas entre nós e Jesus. Mas uma só coisa é necessária! E não há “evangelização requentada”!

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST…)

Texto e foto: Agência Ecclesia

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