segunda-feira, 31 de maio de 2010

SER MISSIONÁRIO - #3


Ser missionário é chegar

Uma das dificuldades inerentes à vida missionária está relacionada com a chegada ao destino, pois pode acontecer que o missionário, tendo deixado a sua terra natal, nunca chegue ao seu destino. Assim, diremos que o terceiro passo do caminho missionário é chegar. O missionário que chega é recebido por um povo diferente do seu e aprende a sentir-se em casa na sua nova terra. Neste sentido, será muito difícil alguém ser missionário se não se sentir bem junto daqueles a quem foi enviado. Alcançar esta meta pode levar anos, como relata São José Freinademetz numa carta dirigida à sua família, em Abtei, dando conta, não só das dificuldades e dos sacrifícios que encontrara ao chegar à China, mas também da sua nova atitude depois de já ter vivido sete anos na China: “Garanto-vos honesta e sinceramente que eu amo a China e os chineses e estou pronto para sofrer mil mortes por causa deles. Evidentemente, há sempre a possibilidade de os meus superiores me chamarem para o Seminário na Áustria, como mencionei numa carta anterior. A minha resposta naquela ocasião foi: naturalmente eu serei obediente até à morte, mas o maior sacrifício que me poderiam pedir seria chamarem-me para a Europa. Agora que eu tenho menos dificuldades com a língua e conheço melhor as pessoas e a sua maneira de viver, a China tornou-se não só a minha pátria, mas o campo de batalha no qual um dia tombarei… Tivesse eu de regressar a Abtei, sentir-me-ia lá como um estrangeiro. Já estou na China há sete anos e, se for da vontade de Deus, estou disposto a permanecer aqui setenta ou mais.”[1]

Quando se ama o povo e a terra que nos acolhe, poderemos dizer que uma grande parte do trabalho missionário já está a ser realizado. As palavras de Jesus aos discípulos enviados em missão são, também, a este respeito palavras de sabedoria convidando à inserção plena no meio de quem nos acolhe: “em qualquer casa em que entrardes ficai nela até partirdes dali” (Mc 6, 10).

Um dos problemas que afectam o ser humano é a dispersão. Na verdade, há pessoas que, apesar de muito andarem, nunca chegam a lado nenhum; correm constantemente de um lugar para outro, profissional e afectivamente, de emprego para emprego, de relação para relação. Na Igreja também há gente assim: cristãos que nunca estão felizes com o lugar que ocupam, com o serviço que prestam ou com a função que exercem. O mesmo acontece, às vezes, na vida missionária: há gente em constante movimento. Hoje estão, por exemplo, na Nova Guiné, amanhã no Brasil, depois de amanhã na Nigéria e logo a seguir na China; hoje pertencem a esta comunidade, amanhã àquela e depois a outra. Estes missionários estão em permanente atitude de mudança que pouco ou nada tem a ver com a disponibilidade e o desprendimento evangélicos. A dificuldade em chegar ao destino incapacita-os para criar raízes, aprender a língua e os costumes do povo. Não têm tempo para levar a cabo um trabalho com dedicação, princípio, meio e fim. Quando não se chega verdadeiramente ao destino, não se podem criar raízes, estabelecer laços de comunhão e não se pode amar profundamente o povo a quem Deus nos enviou. A missão pode, mesmo assim, ser mediática, espectacular e até heróica; mas, infelizmente, pouco relevante. É pertinente recordar a este propósito as palavras de Jesus “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc 12, 34). Estas palavras poderão ser relidas no sentido de que enquanto o povo e a terra para onde fomos enviados não for o nosso tesouro, o nosso coração estará sempre ausente.

Todos conhecemos, felizmente, muitos missionários - consagrados e leigos - que conseguiram, não sem esforço e sofrimento, fazer um caminho de aproximação ao seu povo, abandonando as certezas e os hábitos da sua cultura de origem. O missionário deve procurar fazer a sua casa e o seu lar no meio do povo onde trabalha, criando aí raízes. Quem assim vive descobre que a maior riqueza da missão são as pessoas e a melhor obra que se pode deixar atrás é o seu crescimento na comunhão fraterna, na responsabilidade eclesial e no compromisso diário na sociedade.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST...)

[1] Ibidem, 106.

Texto: Pe. José Antunes, SVD

Foto: Tony Neves

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