segunda-feira, 24 de maio de 2010

SER MISSIONÁRIO - #1

Ser missionário é ser enviado

Em primeiro lugar, ser missionário é ser enviado. O missionário é enviado por alguém e em nome de alguém, pois ninguém se envia a si próprio. Jesus Cristo foi o primeiro enviado em missão. Enviado pelo Pai para ser a luz do mundo, veio não para condenar o mundo mas para o salvar (Jo 12, 47). Na sua vida e na sua missão cumpriu continuamente a vontade do Pai. Cristo, enviado como Luz do mundo, deu corpo à profecia de Isaías (cf. Lc. 4, 17-19): veio trazer a Boa Nova aos pobres, anunciar a libertação aos prisioneiros, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um tempo de graça do Senhor.

No seguimento de Jesus, o missionário toma, em primeiro lugar, consciência da sua condição de enviado e das consequências daí decorrentes. O enviado coloca-se à disposição de quem o envia para assim poder levar a cabo a tarefa que lhe foi confiada. O missionário não se anuncia a si mesmo, nem substitui a missão que lhe foi entregue por objectivos meramente pessoais, por mais importantes que estes sejam.

Em segundo lugar, devemos perguntar para onde, e para quê, são enviados os missionários. Na linguagem dos evangelhos sinópticos, os discípulos são enviados, por Cristo, a todos os povos (Mt 28, 19). Hoje, como ontem, os missionários de hoje são enviados a toda a gente, sem restrições, pois a messe é da vastidão do mundo. Tal como os primeiros discípulos, os missionários são enviados para dar continuidade à missão de Jesus. No evangelho de São João, Jesus envia os discípulos em missão, no contexto de uma das suas aparições após a Ressurreição e em espírito de paz: “E Ele voltou a dizer-lhes outra vez: ‘A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós’” (Jo 20, 21). Somos, deste modo, enviados como mensageiros da paz e do perdão, chamados a testemunhar - não tanto por palavras, mas pela forma de estar e de viver com os outros, sobretudo com aqueles que nos são estranhos - que Deus veio trazer a alegria e a salvação a todo o mundo. Os evangelhos sinópticos apresentam o envio com outra linguagem: Os discípulos, também num contexto pascal, são enviados para anunciar a Boa Nova, ensinar e baptizar toda a gente (Mt 28, 18-20; Mc 16, 15-18). Estes relatos pós-pascais têm de ser lidos como uma espécie de síntese geral da acção missionária da Igreja primitiva.

As indicações dadas por Jesus durante a sua vida pública, por ocasião da escolha e do envio dos discípulos, são mais precisas quanto aos objectivos da missão: eles são enviados a proclamar que o Reino de Deus está próximo, a curar os enfermos, a ressuscitar os mortos e a expulsar os espíritos maus (Mt 10, 7-8). Todas estas actividades serão mais tarde abrangidas pela expressão “anunciar a Boa Nova.” Os discípulos são enviados para realizarem o projecto libertador iniciado por Deus em Jesus Cristo, continuando a sua obra salvífica, sendo portadores de palavras e de gestos que criam comunhão e promovem a paz e a reconciliação entre as pessoas. Do mesmo modo, são enviados a curar as doenças do corpo e da alma, levando a esperança aos excluídos da sociedade e dos sistemas políticos, económicos e religiosos e congregando-os sob o olhar amoroso de Deus.

Quando, hoje, a Igreja se reúne para celebrar um envio missionário, toma consciência de que aqueles que são enviados não vão em nome próprio, mas em nome da comunidade e em nome de Cristo. Não somos trabalhadores por conta própria. Tais celebrações são uma ocasião excelente para fazer animação missionária. Felizmente, hoje em dia, a celebração do envio de missionários tem lugar nas paróquias às quais pertencem ou às quais estão ligados por laços afectivos e de compromisso apostólico. Através desse acontecimento a comunidade cristã toma consciência de que está a enviar um dos seus membros. Aliás, no seguimento de uma genuína tradição apostólica, toda a comunidade está envolvida no processo do envio. Recordemos, a propósito, esta sugestiva passagem dos Actos dos Apóstolos: “Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: ‘Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.’ Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir” (Act 13, 2-3). Toda a comunidade, atenta à voz do Espírito, é protagonista na selecção e no envio dos missionários.

(CONTINUA NO PRÓXIMO POST....)

Texto: Pe. José Antunes, SVD

Foto: Tony Neves

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