segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ANTÓNIO MOREIRA, MISSIONÁRIO EM ANGOLA – MISSÃO NUM PAÍS DE CONTRASTES

O Pe. António Moreira está em Angola há quase 50 anos. Conta o drama do ‘Cerco do Kuito’ (1993) e a forma como Angola enfrenta os novos tempos. O Campeonato Africano de Futebol não conseguiu esconder a injustiça social num país marcado pelo fosso abissal entre ricos e pobres, a instabilidade em Cabinda e as polémicas em torno da eleição presidencial. O P. António partilhou sábado em Óbidos a riqueza desta Missão por terras de Angola.

De Sernancelhe ao Bié

Sernancelhe, na Diocese de Lamego, foi a terra que o viu nascer em 1937. Passou por diversos Seminários Espiritanos até ser Ordenado Padre em 1961. Estava a guerra colonial a rebentar quando chegou a Angola. Dividiu os seus quase 50 anos de Padre e de Missionário em Angola, pelas Dioceses do Huambo e do Kuito-Bié, no planalto central de Angola.

Até 1974, trabalhou sempre no interior, numa missão de promoção dos angolanos, ajudando a formar muitos dos que hoje são os quadros mais influentes da política, da economia e da cultura em Angola.

Tudo de complicou com a guerra civil. Decidiu ficar, por qualquer preço e partilhar a sorte e a má sorte de um povo que os combates iam martirizando.

Os últimos 25 anos viveu-os no Kuito-Bié (ex-Silva Porto), terra por onde a guerra passou e arrasou.

Kuito 1993

O ano 1993 foi de tragédia. A cidade esteve cercada e bombardeada quase um ano inteiro: ‘começaram os flagelamentos indiscriminados sobre a cidade a 6 de Janeiro. Em Agosto, o espaço ocupado pela tropa do governo era extremamente reduzido. O Paço Episcopal, onde eu permaneci, estava à beira da rua principal da cidade. Muitas pessoas morreram de fome, em minas e rebentamentos. O Kuito foi sendo reduzido a escombros, onde se refugiavam as pessoas. Algumas partes do Paço arderam. Nele estavam refugiadas cerca de 80 pessoas, incluindo o Bispo e seus Missionários. Às 5 da manhã do dia 21 de Agosto, as tropas entraram da UNITA entraram com toda a violência e tiraram de lá, à força, o Bispo e o pessoal missionário. Levaram-nos a todos para uma base de mato e, dali, seguimos para a Missão do Chinguar’.

Texto: Tony Neves iN Jornal Voz Verdade - Perfil

Foto: DR

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