quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

MISSÃO CRISTÃ: NOVOS PARADIGMAS


De 3 a 7 de Setembro passado realizou-se em Fátima o Congresso Missionário Nacional 2008. A colmatar um processo de reflexão e um ano de preparação, a iniciativa pretendeu ser um encontro de Igreja, aberto, um laboratório para pensar e viver a missão cristã hoje, aquém e além fronteiras.

O ponto de partida para o congresso que se propunha «pensar e viver a missão» foi naturalmente uma análise da sociedade e da Igreja em Portugal. A reflexão que começou esta análise coube ao cardeal-patriarca de Lisboa, que falou, na sessão de abertura, sobre «a missão cristã e as incertezas do mundo contemporâneo». Na análise que fazem da sociedade e da Igreja em Portugal, os missionários e as pessoas a eles ligadas tendem a ser algo emocionais, porventura críticos. Por isso, D. José Policarpo não desejou que a sua intervenção fosse vista como crítica das dioceses e do modo com enfrentam a evangelização nos seus territórios e nos seus contextos sociais. As suas palavras, de resto, não se revelaram críticas, mas, mais bem, analíticas da sociedade portuguesa e da sociedade global onde nos inserimos.

Local e global

A intervenção do cardeal-patriarca de Lisboa teve o mérito de fazer ver como a nossa sociedade está condicionada pela sociedade global e pela cultura «plana» que ela promove (o hedonismo, o consumismo, a procura da felicidade aqui e agora) e de ajudar a tomar consciência de que os limites da cultura dominante e a sua falta de certezas (o egocentrismo e o individualismo ético, o ateísmo prático) podem e devem ser vistos, não só como dificuldades, mas também como oportunidades para a missão cristã. O desafio, para esta, é de dar resposta nos momentos cruciais em que a cultura dominante deixa as pessoas sem resposta, é de estar atenta às inquietações do coração humano, de ensinar as pessoas a esperar de novo, depois de experimentarem as desilusões da sociedade e da cultura actuais. Neste sentido, lembrou o cardeal de Lisboa, citando João Paulo II, «evangelizar é sempre remar contra a corrente» e contra muitas resistências… mas algo que vale a pena, essencial para a Igreja. Num outro ponto, mais teológico, a intervenção de D. José Policarpo mostrou como a globalização universaliza as religiões e promove um respeito pelas religiões que as nivela. Neste contexto, o desafio para a missão cristã é redescobrir o carácter único de Cristo, recuperar o sentido de urgência do anúncio cristão e fazer ver a convergência das religiões em Cristo, salvador de todos. 

Analisar e propor

A segunda relação de análise da situação portuguesa coube a D. António Couto, bispo auxiliar de Braga e presidente da Comissão Episcopal de Missões, que falou sobre «as situações ad gentes na Igreja em Portugal». Citando documentos do magistério e de conferências episcopais europeias, o presidente da Comissão Episcopal de Missões falou sobretudo para um público que não estava fisicamente presente neste congresso: os seus colegas bispos, os párocos e responsáveis paroquiais e diocesanos. D. António Couto insistiu na necessidade de conferir ao Cristianismo europeu e português um novo vigor missionário para ajudar os cristãos a sentir e viver a beleza da fé. Ele insistiu nas mudanças de perspectiva (de paradigma) que hoje caracteriza a missão cristã: de uma missão rural para uma missão urbana; de uma evangelização em vistas da salvação das almas e da implantação da Igreja a uma missão que é uma «questão de amor, inadiável e não delegável», que tem na igreja particular o seu sujeito primeiro, que «é fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo». Para ele, a missão não é apenas um empenho pastoral no meio de outros, mas o horizonte e paradigma constante de toda a acção pastoral. A concluir, o bispo responsável pela comissão de missões apontou propostas concretas aos seus colegas e às dioceses, propostas que vão desde a criação dos centros missionários diocesanos e paroquiais para promoverem a evangelização nos seus contextos, à criação de centros de escuta do Evangelho e de formação e responsabilização dos leigos. O rumo que ele sugeriu é de colocar no centro das actividades o primeiro anúncio cristão, a santidade e autenticidade cristãs, entendidas como «capacidade para sair para fora de si, sair por amor para ir ao encontro do outro e da sociedade».


Pe. MANUEL FERREIRA

Missionário Comboniano

Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)

Foto: João Cláudio Fernandes

(Continua no próximo Post)

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