Caminhos novos
A reflexão sobre a missão cristã hoje no mundo foi levada a cabo no congresso em dois tempos. Num primeiro foram analisados os «novos caminhos da missão», numa reflexão oferecida pela Pe. José Ornelas, actualmente superior-geral dos Sacerdotes Dehonianos. Tratou-se de uma abordagem mais global na qual foi afirmada a universalidade como dimensão constitutiva da Igreja, que se identifica como comunidade depositária de um evangelho que é de, para, todos. Foi naturalmente sublinhada a multiculturalidade e o facto de a Igreja não se poder identificar nem com uma cultura nem com um poder político; e sublinhou-se que a distinção entre países cristãos e não cristãos é hoje insustentável. A multiculturalidade e a deslocação da Igreja para os países do Sul trazem consequências para as igrejas locais do Norte e o desafio de se passar de um eurocentrismo para um mais claro universalismo. Sem, naturalmente, se cair nos extremos de «demonizar» as igrejas do Norte, a enfrentar sinais de crise, ou «idealizar» as igrejas do Sul, a oferecerem sinais de notável vitalidade. Para actuar os novos paradigmas da missão, concluiu o P.e José Ornelas, é necessário partir de Cristo, já que o anúncio é a dimensão central da missão e as outras vêm depois; e partir da igreja local, já que a igreja local é o sujeito da missão e hoje falamos, portanto, de «todas as igrejas para todo o mundo». Neste sentido, o desafio para a igreja local (paróquia, diocese…) é colocar a evangelização no centro da sua vida, e para os missionários é desenvolverem uma missão em comunhão e fraternidade, longe de protagonismos individuais. O regresso da missão à igreja local tem, assim, nos leigos protagonistas de primeira linha, cujos ministérios é necessário promover. O contexto em que as igrejas locais vivem a missão hoje não pode ser outro senão o do diálogo, do respeito e da reciprocidade.
Num segundo momento, coube ao Dr. João Duque, secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé, aprofundar a reflexão teológica sobre a missão. Desenvolvendo o tema «a missão no coração da Igreja» o conhecido teólogo de Braga definiu a missão como «ser a partir de Outro e para o outro», cuja essência é «partir, sair de si para ir ao encontro do outro». Definindo a igreja local como comunidade que existe num determinado espaço e tempo, sublinhou que esta não pode perder a sua universalidade, já que o Deus dos cristãos é um Deus de todos, que envia a todos. Local e universal são duas coordenadas que marcam a vida de cada igreja concreta, chamada a viver uma «universalização localizada» e uma «localização universalizada», a sair de si para ir ao outro, de perto e de longe. O que leva ela para dar aos outros? «Nada, a não ser o facto de ser enviada, o evangelho de quem a envia.»
Pe. MANUEL FERREIRA
Missionário Comboniano
Texto: Revista Além Mar (Outubro 2008)
Foto: João Cláudio Fernandes
(Continua no próximo Post)
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