terça-feira, 26 de agosto de 2008

S. PAULO E O ESPÍRITO SANTO


2. Os frutos do Espírito Santo

É difícil termos uma imagem do Espírito santo. Não temos nenhum retrato seu. O Filho tem um rosto humano, conhecemos a sua história, sabemos onde e quando nasceu, como viveu, como morreu. Temos a sua imagem. Por isso tantos artistas o pintaram, deram-lhe um rosto e tantos escritores escreveram a sua vida.

Do Pai, também Jesus fala mais de 170 vezes e a sua imagem reflecte-se no próprio Jesus. Ele mesmo disse que quem conhecia o Pai o conhecia a Ele. Basta ler o Evangelho para conhecer o Pai.
Mas imaginar o Espírito Santo é mais difícil. Sente-se a sua presença através da Bíblia desde o princípio ao fim. Jesus fala dele como aquele que consolará e ensinará toda a verdade aos discípulos, mas nós não somos capazes de o definir. Não tem rosto. Daí que a própria Bíblia recorra a imagens e símbolos para falar dele: o vento, o sopro, a respiração, o fogo, a pomba, a água, etc. Mas, é claro, são imagens, pois sabemos que o Espírito Santo e pomba ou vento ou fogo não são a mesma coisa.

O Espírito Santo conhece-se sobretudo pela experiência que se tem dele... É como o vento, não se vê mas sente-se quando nos sacode; é como o amor que não se vê mas nos ilumina e aquece.
Na Igreja primitiva, a experiência do Espírito foi feita através de um conjunto de fenómenos extraordinários a que chamamos Pentecostes e outras intervenções maravilhosas como o falar línguas, fazer profecias, etc. O Espírito Santo comunicava às pessoas certos dons que a pessoa por si mesmo não tinha. S. Paulo tem todo um capítulo para ajudar os cristãos a fazer o devido discernimento destes sinais extraordinários da presença do Espírito Santo (1 Cor 14).

Mas, à medida que a comunidade cristã foi amadurecendo e crescendo na fé, uma nova imagem do Espírito Santo se começa a desenhar. O Espírito Santo começa a ser alguém que está continuamente presente na vida da Igreja, que não intervém só em momentos extraordinários, mas que está em cada um de forma permanente. O cristão é como um templo onde mora a Santíssima Trindade. S. Paulo multiplica os textos para mostrar que de facto o Espírito Santo tem a sua morada no coração de cada um.

É aqui que aparecem os frutos do Espírito Santo. São os seus frutos em nós que nos revelam o verdadeiro rosto do Espírito Santo. S. Paulo fala destes frutos em vários lugares, ao longo das suas cartas. Aos Romanos diz que é Ele que nos faz filhos de Deus. “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito que vos escravize, vos volte a encher de medo, mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai. Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para com Ele sermos também glorificados” (Rom 8, 14-17). Aos Efésios, aponta como frutos do Espírito Santo: a bondade, a justiça e a verdade. E aos Gálatas, dá uma lista maior dos frutos do Espírito Santo: o amor, a paz, a paciência, a amabilidade, a bondade, a fidelidade, a modéstia, o domínio de si mesmo (Gal 5, 22)). São certas qualidades que vemos nas pessoas que nos fazem descobrir a presença do Espírito Santo.

A alegria, a paz, a bondade de tal pessoa são frutos do Espírito Santo. Por aqui vemos que o Espírito Santo é, de facto, alguém que vive connosco, misturado na nossa própria vida.
A caridade ou o amor - todos os gestos de caridade e amor, todas as provas de amor e ternura, quando neles não há egoísmo e interesse, são obra do Espírito Santo.
A paz e todos os gestos de reconciliação, de perdão e acolhimento ou misericórdia.
Todos os gestos de partilha, de festa, de solidariedade e comunhão.
A bondade e tudo o que é dar as mãos, compreender, ajudar, servir.
A paciência e tudo o que é respeito pelo outro, o dar-lhe o tempo a que tem direito, o respeitar os seus valores e o seu crescimento, são sinais que o Espírito Santo está lá.

Tudo que é vida em graça, tudo o que a graça produz em nós é sinal que o Espírito Santo está em nós. O Espírito Santo é como a respiração da vida do cristão: não se vê mas sem ela não se consegue viver.


Pe. Adélio Torres Neiva, CSSp
In "S. Paulo e a Missão sem Fronteiras" - Ed. LIAM
(Continua no próximo post)
Foto: João Cláudio Fernandes

Sem comentários: