segunda-feira, 23 de junho de 2008

VIVE A MISSÃO, RASGA HORIZONTES


1. Missão procedente de Deus, missão aberta ao mundo, missão endereçada ao coração de cada ser humano, missão a correr de porta em porta, de mão em mão, missão a transvazar de coração a coração. A missão é de todos, a todos envolve e implica. João Paulo II disse-o assim: «A missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais»[1]. E o Documento Diálogo e Missão expressou-se deste modo: «A missionariedade é, para cada cristão, expressão normal da sua fé»[2]. Outra vez João Paulo II: «Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-l’O para si; tem de O anunciar»[3]. E Bento XVI disse-o recentemente assim: «A Igreja é missionária no seu conjunto e em cada um dos seus membros»[4].

2. Consciente desta realidade, Paulo VI traçou bem e fundo o perfil evangelizador da Igreja: «Evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar»[5]. E numa recente Nota Pastoral, a Conferência Episcopal Italiana deixou escrito com eloquente beleza e precisão: «A Evangelização é o fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo; nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se pode antepor-lhe»[6].

3. Se «Deus é amor» (1 Jo 4,8 e 16), e se nos ama com amor perfeito (1 Ts 1,4)[7], enviando-nos, por isso, o seu Filho (1 Jo 4,10), e se é o amor que faz passar da morte para a vida (1 Jo 3,14), então «a Evangelização é uma questão de amor»[8] inadiável e não delegável[9], e a Igreja portuguesa, em todas as suas instâncias, parcelas e pessoas, não pode deixar de se envolver e implicar nos horizontes da missão ad gentes, que é sempre o verdadeiro paradigma da Evangelização em qualquer latitude[10].

4. De quanto atrás dito, e no contexto do Ano do Congresso Missionário Nacional (03-07 de Setembro) e da Peregrinação Missionária Nacional a Fátima (05-06 de Julho), resulta claro que é preciso saber ler e reconhecer o imenso e belo labor que, com denodo, humildade e grande dedicação, por vezes até ao sangue, os Institutos Missionários portugueses têm sabido levar a cabo no inteiro orbe: quantas redes de amor, quantas mãos unidas, quantos corações reacendidos, quantas vidas ressurgidas!

5. Mas é preciso também, no mesmo contexto, lembrar, estimular e saudar, com grande estima e carinho, os fiéis leigos que, com imensa generosidade e evangélico desprendimento, têm sabido e querido doar pedaços da sua vida à causa da Evangelização.

6. Mas impõe-se ainda que, sob a orientação dos nossos Bispos, cujo «compromisso consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana»[11], saibamos, a partir deste Ano do Congresso Missionário Nacional, fazer surgir na Igreja portuguesa Centros missionários diocesanos e paroquiais que, em consonância com os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missionariedade ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã[12].

7. E, porque atravessamos também o Ano Paulino, não podemos deixar de evocar e invocar, e, se possível, imitar, essa figura ímpar que se dedicou ao Evangelho a tempo inteiro e de corpo inteiro. De tal modo que bem podemos dizer, com Lorenzo de Lorenzi, que «a sua vida privada era… a apostólica»[13].

8. A última palavra tem de ir para Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, Estrela da Evangelização, que maternalmente nos acolhe no seu Santuário de Fátima. Nós te saudamos, Maria, e te pedimos que nos ensines a amar os nossos irmãos como tu amas os teus filhos queridos. Abençoa, Mãe, os nossos trabalhos missionários neste Ano do Congresso Missionário Nacional. Vela por nós, e dá-nos um coração verdadeiramente missionário.

[1] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Redemptoris Missio (RM), de 7 de Dezembro de 1990, n.º 2.
[2] SECRETARIADO PARA OS NÃO-CRISTÃOS, Documento Diálogo e Missão (DM), de 10 de Junho de 1984, n.º 10.
[3] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de 6 de Janeiro de 2001, n.º 40.
[4] BENTO XVI, Mensagem para o 45.º dia Mundial de Oração pelas Vocações, 13 de Abril de 2008, n.º 8.
[5] PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), de 8 de Dezembro de 1975, n.º 14.
[6] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Questa è la Nostra Fede. Nota pastorale sul primo annuncio del Vangelo (QNF), de 15 de Maio de 2005, n.º 2.
[7] Em 1 Ts 1,4, Paulo dirige-se com afecto ao cristãos de Tessalónica, usando a expressão «irmãos amados por Deus», em que «amados» (êgapêménoi) se apresenta no particípio perfeito passivo do verbo agapáô, traduzindo assim um amor novo, vindo de Deus, que começou a mar e a amar continua ainda hoje, pois é esse o sentido do perfeito grego.
[8] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota Pastoral «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[9] JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de 6 de Janeiro de 2001, n.º 40.
[10] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota Pastoral «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[11] Lembra BENTO XVI, na sua Mensagem para o Dia Missionário Mundial 2008, de 11 de Maio de 2008, n.º 4. O Dia Missionário Mundial ocorre este ano no dia 19 de Outubro.
[12] Estas propostas encontram-se também na Nota Pastoral da CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, «Rigenerati per una speranza viva» (1 Pe 1,3): testimoni del grande «Sì» di Dio all’uomo, de 29 de Junho de 2007, n.º 9.
[13] L. DE LORENZI, La vida spiritual de Pablo, in G. BARBAGLIO (ed.), Espiritualidad del Nuevo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1994, p. 92.

D. António Couto
Presidente da Comissão Episcopal Missões

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