terça-feira, 6 de maio de 2008

MISSÃO HOJE: OS NOVOS AREÓPAGOS

As palavras vão muito livres e quase espontâneas. Mas isso mesmo as inclui na novidade dos areópagos.
Hoje tudo se diz muito depressa, ou depressa se desiste de dizer. De certo modo, nunca tivemos tantos meios de estar em todo o lado em pouco tempo, mas essa mesma velocidade reduz a substância da comunicação. Como no velho disco de Newton, em que a rapidez do movimento esbateu cada cor num pardo universal.
Chamamos-lhe “comunicação social”. Mais como desiderato, porque a comunicação exige uma aproximação de pessoas e valores que só na detença pode acontecer. E a sociedade requer um companheirismo que está nos antípodas da verbalização fugaz. Todos o sabemos, todos o (res)sentimos, no desencanto de tantas ocasiões frustradas, para realmente dizer e ouvir, para realmente transmitir e partilhar. E nunca houve tantas possibilidades para que tal acontecesse.
Qualquer comunicador social sente que o tempo é curto, que as atenções flutuam, que a dramatização reduz a um jogo o que havia de ser mais seriamente tomado. Porque o grande desafio dos “novos areópagos” é potenciarem e não reduzirem a comunicação inter-pessoal.
O salto é grande e talvez não lhe baste uma geração. Mas não podemos perder tempo nem esperança: uma esperança “performativa”, que efective o que aguarda, como quer Bento XVI na encíclica que lhe dedica.
Louvo aqui, muito especialmente, o papel da imprensa regional e missionária. Ambas cuidam desta dimensão personalista da comunicação, ligando, quanto podem, a notícia a quem lhe dá o assunto, com nomes e figuras, seja de quem está seja de quem parte, emigrante ou missionário. E na circunstância concreta, que não abstrai de nomes e terras. Na verdade, só há comunicação particularizada, pois a própria abstracção “fala” sempre de quem a faz.
“Areópago” era a colina de Ares (o deus Marte), em Atenas. Aí se reunira o conselho da cidade e a tal se referem os Actos dos Apóstolos, com um célebre discurso de Paulo (Act 17). Hoje abre-se ao mundo inteiro, quer no “conselho” quer no discurso. Nova técnica para um Deus ainda “desconhecido”, algo ou muito, no mais além a que Cristo sempre induz. Mas sempre no particular, concreto, necessariamente pessoal, inter-pessoal. Eclesial, em suma.


D. Manuel Clemente
Bispo do Porto

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