
Hoje tudo se diz muito depressa, ou depressa se desiste de dizer. De certo modo, nunca tivemos tantos meios de estar em todo o lado em pouco tempo, mas essa mesma velocidade reduz a substância da comunicação. Como no velho disco de Newton, em que a rapidez do movimento esbateu cada cor num pardo universal.
Chamamos-lhe “comunicação social”. Mais como desiderato, porque a comunicação exige uma aproximação de pessoas e valores que só na detença pode acontecer. E a sociedade requer um companheirismo que está nos antípodas da verbalização fugaz. Todos o sabemos, todos o (res)sentimos, no desencanto de tantas ocasiões frustradas, para realmente dizer e ouvir, para realmente transmitir e partilhar. E nunca houve tantas possibilidades para que tal acontecesse.
Qualquer comunicador social sente que o tempo é curto, que as atenções flutuam, que a dramatização reduz a um jogo o que havia de ser mais seriamente tomado. Porque o grande desafio dos “novos areópagos” é potenciarem e não reduzirem a comunicação inter-pessoal.
O salto é grande e talvez não lhe baste uma geração. Mas não podemos perder tempo nem esperança: uma esperança “performativa”, que efective o que aguarda, como quer Bento XVI na encíclica que lhe dedica.
Louvo aqui, muito especialmente, o papel da imprensa regional e missionária. Ambas cuidam desta dimensão personalista da comunicação, ligando, quanto podem, a notícia a quem lhe dá o assunto, com nomes e figuras, seja de quem está seja de quem parte, emigrante ou missionário. E na circunstância concreta, que não abstrai de nomes e terras. Na verdade, só há comunicação particularizada, pois a própria abstracção “fala” sempre de quem a faz.
“Areópago” era a colina de Ares (o deus Marte), em Atenas. Aí se reunira o conselho da cidade e a tal se referem os Actos dos Apóstolos, com um célebre discurso de Paulo (Act 17). Hoje abre-se ao mundo inteiro, quer no “conselho” quer no discurso. Nova técnica para um Deus ainda “desconhecido”, algo ou muito, no mais além a que Cristo sempre induz. Mas sempre no particular, concreto, necessariamente pessoal, inter-pessoal. Eclesial, em suma.
D. Manuel Clemente
Bispo do Porto
Bispo do Porto
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