quarta-feira, 21 de maio de 2008

Espiritualidade Missionária


Da nova visão da Igreja e da sua missão, a partir da sua relação com a Santíssima Trindade, emergem algumas coordenadas que estarão necessariamente na base de uma verdadeira espiri­tualidade missionária.
A primeira, é que não somos nós que podemos cons­truir a Igreja ou fazer a sua missão. Ninguém pode construir a Igreja. Ela é um dom de Deus e recebe-se direita das mãos do Pai. O que nós pode­mos é manifestar esse dom, dar-lhe um rosto no tempo e no espaço. Mais que isso: não podemos acolher esse dom sem o comunicar, porque uma luz não se pode interromper sem cortar a corrente. Mesmo que Deus tenha - e é certo que tem - outras vias para se comunicar, a Igreja não pode viver sem missão, simplesmente porque seria viver sem Deus.
A missão só é possível pela acção do Espírito Santo. A "Evangelii Nuntiandi" coloca esta presença do Espírito como o primeiro elemento para uma espiritualidade missionária. O Espírito Santo será sempre o primeiro agente da missão do Pai e na Igreja não há outra. Não foi por acaso que a grande abalada para a evangelização se deu na manhã do Pentecos­tes. Falar de uma nova época missionária será necessariamente falar de um novo tempo do Espírito Santo.
Esta leitura da missão como dom do Espírito a aco­lher, fará do missionário, antes de mais nada um confidente do mistério de Deus. Um contem­plativo, digamo-lo sem receio. Não há outra maneira de se aproximar da fonte e captar os desígnios de Deus. Ver o invi­sível.
Como dom a acolher, a primeira conversão que a mis­são pede ao apóstolo é a da transparência. O missionário é a primeira terra de missão. Da missão do Verbo, que através dos sinais mais simples, do pão e do vinho, da amizade e da festa, todos os dias põe a sua mesa na sua tenda. Não é por acaso que o tes­temunho aparece, tanto no decreto sobre a actividade mis­sionária como na "Evangelii Nuntiandi", como o primeiro meio para anunciar o Evange­lho. "O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mes­tres - ou então se escuta os mestres é porque são testemu­nhas" (E.N. 41). A missão não será, em primeiro lugar uma actividade, mas uma experiên­cia de Deus. A "marca da san­tidade" de que fala a "Evangelii Nuntiandi" é um elemento fun­damental para a evangelização. É nos santos que Deus se revela. Sem "ver o invisível", a nossa missão seria mera propaganda.


Do subsídio” A Missão no coração da Igreja”
Foto: JCF

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