Partir para a Missão na Guiné, por um lado, não foi uma canção de embalar, constituiu, antes, uma descolagem mais dolorosa do que aquilo que eu pensava.
Se partir foi difícil, chegar não o foi menos e os primeiros tempos na Guiné implicaram uma dose acrescida de fé e de força interior. Mas, de tudo, o que mais me custou foi ver o sofrimento dos guineenses, que é verdadeiramente incomensurável!
Falo das dificuldades apenas para ser fiel à história dos meus dias passados na Guiné, mas é-me particularmente feliz referenciar as vantagens, as alegrias e as graças vividas.
Estar na Guiné possibilitou-me ser fiel testemunha de que os missionários, com parcos recursos mas grande criatividade, e sobretudo infinita generosidade, contribuem para as soluções necessárias ao desenvolvimento daquele país e para a felicidade daquelas gentes.
Eles são oásis num deserto de possibilidades e tranportam mais além o facho da beleza da vida, da fé e da esperança.
Estar na Guiné fez-me perceber como as políticas, com os seus desvarios, vestem de probreza os corpos frágeis das pessoas e desnudam, sem pudor na consciência, a alma nobre de um povo.
Estar na Guiné deu-me a certeza de que a nossa compaixão pelos que sofrem, mesmo se demasiada, é sempre pouca, pois a dor dos que padecem, mesmo que pequena, é sempre mais do que aquilo que merecem. Na Guiné não é possível divorciar-nos da compaixão. Lá, onde a gente se fere não é nos nossos problemas e nas nossas dores, mas nas dores alheias. Lá habina-nos a angústia que a dor de tantos desafortunadamente nos provoca.
Estar na Guiné, julgo poder dizê-lo, deu-me novas perspectivas e abriu-me novos horizontes...
In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08
Texto: P. Almiro Mendes
Foto: João Cláudio Fernandes
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