sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA NA GUINÉ


Partir para a Missão na Guiné, por um lado, não foi uma canção de embalar, constituiu, antes, uma descolagem mais dolorosa do que aquilo que eu pensava.

Se partir foi difícil, chegar não o foi menos e os primeiros tempos na Guiné implicaram uma dose acrescida de fé e de força interior. Mas, de tudo, o que mais me custou foi ver o sofrimento dos guineenses, que é verdadeiramente incomensurável!

Falo das dificuldades apenas para ser fiel à história dos meus dias passados na Guiné, mas é-me particularmente feliz referenciar as vantagens, as alegrias e as graças vividas.

Estar na Guiné possibilitou-me ser fiel testemunha de que os missionários, com parcos recursos mas grande criatividade, e sobretudo infinita generosidade, contribuem para as soluções necessárias ao desenvolvimento daquele país e para a felicidade daquelas gentes.

Eles são oásis num deserto  de possibilidades e tranportam mais além o facho da beleza da vida, da fé e da esperança.

Estar na Guiné fez-me perceber como as políticas, com os seus desvarios, vestem de  probreza  os corpos frágeis das pessoas e desnudam, sem pudor na consciência, a alma nobre de um povo.

Estar na Guiné deu-me a certeza de que a nossa compaixão pelos que sofrem, mesmo se demasiada, é sempre pouca, pois a dor dos que padecem, mesmo que pequena, é sempre mais do que aquilo que merecem. Na Guiné não é possível divorciar-nos da compaixão. Lá, onde a gente se fere não é nos nossos problemas e nas nossas dores, mas nas dores alheias. Lá habina-nos a angústia que a dor de tantos desafortunadamente nos provoca.

Estar na Guiné, julgo poder dizê-lo, deu-me novas perspectivas e abriu-me novos horizontes...

 (Continua no próximo Post)

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Almiro Mendes

Foto: João Cláudio Fernandes

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

SER MISSIONÁRIO NO JAPÃO - Conclusão

Todavia, gostaria, apenas, de falar um pouco do que é, hoje, o trabalho apostólico e missionário no Japão, fruto da segunda Evangelização que começou em finais do século XIX, com a vinda dos Missionários das Missões de Paris, que encontraram, sobretudo na região de Nagasaki, muitos cristãos escondidos que mantiveram a fé sem sacerdotes por mais de 200 anos. Desse trabalho missionário resultou a Igreja Católica que existe hoje no Japão e que tem cerca de 450 mil fiéis japoneses numa população de cerca de 125 milhões de habitantes, havendo ainda a acrescentar mais cerca de 500 mil fiéis imigrantes de várias proveniências, metade dos quais brasileiros.

Efectivamente, o nosso trabalho apostólico aqui, na diocese de Osaka, consiste num aprofundamento do sentido comunitário e de comunhão entre os fiéis católicos, que suscite e desperte interesse  nos que não são cristãos. E um segundo aspecto muito importante salientado na recente Semana de Estudos da Arquidiocese, o aproximar-se dos mais pobres e excluídos da sociedade, momeadamente os homeless (sem-abrigo) que são muitos numa sociedade competitiva que exclui facilmente quem não entra no sistema. É notável o esforço da Arquidiocese no serviço aos sem-abrigo e mesmo aos estrangeiros, tendo em conta o número diminuto de fiéis católicos e a escassez de meios humanos e materiais, comparando com o Budismo e Shintoismo, que, diríamos, são as religiões oficiais. Depois verificamos que há um grande interesse, e cada vez maior, no estudo da Bíblia, para além de muita simpatia pela pessoa de Jesus que faz encher as Igrejas nas missas da véspera de Natal, já que o Natal não é feriado, mas dia normal de trabalho.

É um trabalho de semear a semente de mostarda que no campo de Deus dará o fruto a seu tempo. Não há muitos frutos ou resultados concretos, conversões em  massa como no tempo de S. Francisco Xavier, mas o construir de uma Igreja que seja sinal de Comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si, procurando viver nesta sociedade japonesa o projecto de Jesus Cristo, tornado visível, ainda que de modo muito humilde, a catolicidade da Igreja.

 

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Domingos Areais

Foto: DR

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

SER MISSIONÁRIO NO JAPÃO


Desde há cerca de um ano e meio, concluído o curso de dois anos de língua japonesa, fuí nomeado pelo Arcebispo de Osaka para vir trabalhar em conjunto com um sacerdote japonês, de 72 anos, nestas duas paróquias de Takatsuki e Ibaraki. Eu vivo em Takatsuki e ele em Ibaraki, mas rodamos no trabalho, que fazemos e procuramos programar juntos com o Conselho dos fiéis.

Takatsuki é uma cidade de cerca de 440 mil habitantes e 1600 católicos e Ibaraki cerca de 220 mil pessoas e 800 católicos, o que está dentro da média nacional japonesa de menos de 1 % de católicos (0,33%). Mais do que paróquias em sentido territorial são duas comunidades, de origem muito recente, pois nasceram há menos de 50 anos, situadas entre Osaka e Quioto a antiga capital do Japão. Talvez por essa localização, são duas cidades muito aprazíveis e das quais gosto particularmente.

Evidentemente que, aquando da Primeira Evangelização do Japão por aqui passaram alguns missionários europeus, nomeadamente o Padre português Luis Frois, sj, que para além de notável acção apostólica desenvolvida escreveu várias obras sobre a Evangelização destas paragens e sobre um famoso samurai cristão, Justo Takyama Ukon, que acabou por ser exilado, aquando das perseguições aos cristãos, morrendo exilado nas Filipinas. Tem aberto o processo de beatificação.

Muito haveria a dizer sobre a Primeira Evangelização do Japão, iniciada no século XVI, por S. Francisco Xavier e concluída de forma muito trágica no Séc. XVII com a expulsão de todos os missionários e atroz perseguição aos cristãos, muitos dos quais acabaram por ser martirizados, de que é testemunho o Venerável Pedro Kibe e seus 187 companheiros mártires, que serão beatificados a 24 Novembro próximo, em Nagasaki ou S. Paulo Miki e seu companheiros.

Continua no próximo Post.

In Edição especial Agência Ecclesia – Em Missão, Out '08

Texto: P. Domingos Areais

Foto: DR

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

DECÁLOGO DA PALAVRA DE DEUS - CONCLUSÃO

A Palavra de Deus é perdão e reconciliação


Peregrinos, vindos de muitas distâncias,

com o pó de longas jornadas.

È a Palavra de Deus a toalha que cingimos

para lavar os pés de outros peregrinos,

que trazem consigo a lama dos caminhos e a poeira das terras àridas.

È ela que reúne o filho pródigo e chama o filho mais velho

para fazermos a festa do cordeiro mais gordo

que o Pai do Céu tinha reservado para este dia.

A Palavra de Deus é Páscoa da Ressurreição


A Palavra de Deus vai ao encontro

do grito dos que sofrem e do lamento dos infelizes.

È ela que nos faz descer ao fundo mistério da Paixão de Cristo,

quando o Senhor nos passa a sua Cruz

e nos dá a mão para caminhar ao nosso lado,

e nos conduzir à manhã daquela Páscoa

em que toda a dor mergulha no mistério de Cristo Ressuscitado

e todas as trevas se tornam em raios de luz,

em grinaldas de Aleluia.


A Palavra de Deus é Missão


è esta Palavra que nos envia à procura

das ovelhas distantes que se perderam nos caminhos da vida

É ela que vai connosco, bem à frente,

a apontar-nos o caminho

por onde a sua voz se fará ouvir

e a procurar no ritmo das horas

os que esperam que alguém os convide para as bodas do Cordeiro.


A Palavra de Deus é a nossa primeira e última palavra


Foi essa Palavra que nos chamou à vida

e fez de nós um templo que o Pai escolheu

para morada do seu amor,

presépios do Espírito Santo.

É ela que nos acompanha nas nossas incertezas

e nas horas do caminho reencontrado.

É ela que está ao nosso lado,

quando o Pai nos vier buscar

e nos ensinar de novo o Pai-nosso,

como quando éramos crianças nos ensinou a dizer: Abba! Papá!


Texto: A.T.N.

Foto: DR

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DECÁLOGO DA PALAVRA DE DEUS - 2ª PARTE

A Palavra de Deus tem rosto


Ela não é uma palavra que o dicionário arquivou

e ficou como memória do tempo em que foi dita.

Ela assumiu o rosto de Jesus Cristo,

em Belém furou a noite dos tempos antigos

para acordar os que dormiam

e pôr-se a caminhar com eles,

misturando-se com as suas incertezas e os seus problemas,

acenando-lhes com a festa do seu Reino.



A Palavra de Deus é comunhão


É ela que nos congrega no amor do Pai

e faz de cada um de nós membros da família da Trindade.

É ela que nos reúne à volta da mesma lareira

e nos faz partilhar as alegrias e as penas do dia que findou.

É ela que nos faz sentar à mesma mesa

e partilhar o pão da fraternidade.

É ela que faz de cada dia um dia novo,

renovado pelo abraço de uma comunhão,

hermanados no mesmo abraço.


A Palavra de Deus é oração


É a Palavra de Deus que nos põe de joelhos,

voltados uns para os outros,

bem sabendo que no outro está o eco dessa Palavra.

É ela que nos faz dar as mãos,

para superarmos a nossa fragilidade

e recuperar as forças de uma caminhada que mal começou.

É ela que nos põe a cantar e a louvar,

bem sabendo que no nosso louvor é todo o universo.


Texto: A.T.N.

Foto: J.C.F.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DECÁLOGO DA PALAVRA DE DEUS


A Palavra é a voz de Deus

Foi esta Palavra que foi proferida na manhã da criação

e por força dela o caos transformou-se em jardim,

a solidão em companhia, a distância em encontro,

o homem em imagem e semelhança de Deus,

o amor da Trindade levantou a sua tendda no mundo dos homens,

e fez do coração de cada homem

a mesa da sua voz.


A Palavra de Deus é companhia

Foi esta Palavra que pôs o homem a caminhar

e que o acompanhou na sua peregrinação

pelas distâncias das terras da promessa,

levando consigo a sua tenda

e falando com o homem

como um amigo fala com o seu amigo.

Estabelecendo com ele uma Aliança

que não mais o deixaria ao acaso

nem órfão em terra estrangeira.


A Palavra de Deus é luz

Foi ela que iluminou as doites do deserto

e abriu o caminho aos profetas e aos santos.

Foi ela que manteve acesa a chama da esperança

por terras inóspitas e becos sem saída

Foi ela que acendeu o monte Sinai

e fez de um roteiro às escuras

uma estrada de luz.


Texto: A.T.N.

Foto: J.C.F.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

S. PAULO, MESTRE DA MISSÃO - CONCLUSÃO

Para uma paróquia missionária!

...pela Palavra

  • ler e rezar a Palavra de Deus nos grupos paroquiais (reservar tempo para a Oração com a Palavra de Deus nos nossos encontros)

  • desenvolver propostas em favor dos mais afastados da nossa comunidade apresentando o básico da nossa fé


  • possibilitar momentos de encontro, de convívio e reflexão sobre a nossa vida de família, à luz da palavra (grupos de casais, catequese de adultos, grupos de pais...)


...pela Caridade

  • partilhar, através dos nossos grupos de acção socio-caritativa (vicentinos, centros sociais, voluntariado...) com os mais desfavorecidos da paróquia

  • criar uma consciência viva de solidariedade e cooperação co as igrejas mais carenciadas

  • promover a participação em acções a favor da justiça e da paz

pela Oração

  • aprofundar o espírito de oração com preocupações universais

  • sensibilizar as comunidades para despertar vocações consagradas missionárias e de voluntariado

    Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 2

    Foto: JCF

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

S. PAULO, MESTRE DA MISSÃO - 3ª PARTE

Aprender a ser Igreja...

...pela Oração...

Todo o cristão é chamado a suplicar a chegada e a realização do Reino, para que seja acolhido e cresça em nós; mas devemos simultaneamente cooperar a fim de que seja aceite e se consolide entre os homens, até Cristo “entregar o Reino a Deus Pai”, altura essa em que “Deus será tudo em todos” (1Cor 15, 24.28)

E, se a eucaristia é fonte e cume de toda a vida cristã, então ela deve merecer, neste âmbito da oração, um particular cuidado, para que seja vínculo de comunhão entre todas as comunidades que celebram o mesmo mistério do Amor de Deus, que nos remete para o envio missionário . A beleza e a dignidade da eucaristia – que temos dever de cuidar e respeitar – são, por si mesmas, um grande anúncio do amor salvador de Deus, em Cristo Jesus

Texto: Cadernos Ano Paulino, nº 2

Foto: JCF

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

S. PAULO, MESTRE DA MISSÃO

Aprender a ser Igreja

…pela Caridade

“O homem Contemporâneo acredita mais nas testemunhas que nos mestres, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (Paulo VI)

Evangeliza-se servindo:

-na atenção às pessoas:

- pela atitude de amor e de estima a quem se escuta

- na caridade a favor dos pobres, dos mais pequenos e dos que sofrem

- no compromisso pela paz, a justiça, os direitos do homem e promoção humana

- pela afirmação de posições corajosas e proféticas

- na compreensão e estima das instituições humanas

- através do testemunho de humildade, começando por si próprios, ou seja, desenvolvendo a capacidade de exame de consciência, a nível pessoal e comunitário, a fim de corrigirem nas suas atitudes aquilo que é anti-evangélico e que desfigura o rosto de Cristo

- difundindo os valores evangélicos

In Cadernos Ano Paulino, nº 2

Foto: João Cláudio Fernandes